por Fernando Duarte
A poeira baixou e a fala do governador Rui Costa sobre os deputados “traíras” parece ter ficado para trás. O esforço foi feito, ao longo da última semana, pelo PSD. Primeiro o deputado federal Otto Alencar Filho endossou a aliança para 2022. Depois foi o próprio Otto Alencar quem verbalizou a caminhada conjunta com o PT para o próximo ano, citando nominalmente o senador Jaques Wagner como “governador do futuro”. É uma projeção e também uma resposta ao argumento adversário de que o ex-governador representaria o passado.
Enquanto o PSD dava sinais claros de carinho e aconchego, o PP seguiu a linha de que nada aconteceu e a vida continuou. Diferente dos socialdemocratas, os progressistas ainda podem compor uma chapa nacional com Jair Bolsonaro e não há espaço para juras de amor ao petismo baiano. Para evitar celeumas e sofrimentos antecipados, a postura do clã de João Leão e seu entorno foi submergir nos assuntos da política local, especialmente depois que o vice-governador já tinha colocado panos quentes no embate.
Por mais que ACM Neto busque evitar a nacionalização da eleição local, não dá para ignorar que a cena federal impacta nas relações políticas por aqui. O PSD lançou uma versão própria do picolé de chuchu (até aqui), Rodrigo Pacheco, enquanto o gelado original Geraldo Alckmin não formaliza a saída do PSDB. Na Bahia, o partido sequer cogita endossar a campanha da sigla ao Palácio do Planalto. Otto já disse que apoiaria Luiz Inácio Lula da Silva e, consequentemente, a candidatura de Wagner - o nome de Lula como grande eleitor é uma das principais apostas do petismo baiano.
O PP vai cozinhar em banho-maria as relações locais. Se Ciro Nogueira indicar o vice de Bolsonaro, como se almeja, o partido não se sentirá impedido de compor uma chapa com o PT baiano e seguiria “na maciota”, no governismo já inerente à legenda. Essas duas siglas (PP e PSD) tentariam fazer vistas grossas ao que acontece nacionalmente. Pode ser que consigam passar incólumes, mas é um esforço maior.
O mesmo não se pode falar do PL. Até aqui apalavrado com ACM Neto, o partido abrigará o presidente candidato à reeleição e terá que romper as relações locais. Não chega a ser de todo ruim para o ex-prefeito de Salvador. Bolsonaro deve levar a “cabeça”, mas não o “corpo” do PL, que já marcharia rachado nas urnas - alguns com ACM Neto, outros com Wagner e tudo bem. Se ainda herdar a candidatura de João Roma, o PL local ainda livraria o Republicanos do constrangimento de não dar legenda ao ministro da Cidadania, que segue mordido pela mosca azul. O partido da Universal poderia até apoiar Bolsonaro no plano federal, mas estaria desimpedido para marchar com o já tradicional aliado na Bahia.
Quem diria há alguns meses que esse seria o cenário político disponível para a Bahia no final de 2021? E olha que ainda tem PDT, MDB e alguns outros partidos satélites que não puderam ser tratados aqui nesse contexto. Haja água para rolar embaixo dessa ponte e tentativas de trazer - e de afastar - a pauta nacional para a Bahia.