A confirmação de que pretende disputar a presidência e as articulações que ele iniciou com outros partidos gerou uma reação dos adversários e teve um reflexo nas últimas pesquisas que sem dúvida criaram o que se pode chamar de "momento Moro".
Por Diogo Schelp
Alguém pode, com certa razão, já de saída questionar o título acima. "Momento Moro"? Pode-se falar isso de um pré-candidato à presidência que aparece apenas em terceiro ou quarto lugar nas intenções de voto, a depender da pesquisa, e cerca de 20 pontos percentuais atrás do segundo colocado, o presidente Jair Bolsonaro?
Sergio Moro, o ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro da Justiça de Bolsonaro que há três semanas filiou-se ao Podemos, realmente está longe de ser favorito na corrida eleitoral. Mas a confirmação de que pretende disputar a presidência e as articulações que ele iniciou com outros partidos gerou uma reação dos adversários e teve um reflexo nas últimas pesquisas que sem dúvida criaram o que se pode chamar de "momento Moro".
Se não, vejamos. Depois de o Podemos lançar seu nome e após o ex-juiz começar a conceder entrevistas em série, a chamada terceira via, o bololô de candidatos que se apresentam como alternativa à polarização Lula-Bolsonaro, levou um chacoalhão.
Primeiro, por causa do efeito do momento Moro nas pesquisas. Em algumas delas, ele até aparece com dois dígitos de intenção de voto, com certa vantagem em relação ao quarto colocado, Ciro Gomes (PDT), fora da margem de erro. Os analistas mais afoitos chegaram até a falar em uma possível desistência de Ciro.
Segundo, porque Moro engatou em conversas com outros partidos, em busca de alianças: Cidadania, Patriota (o partido do senador Flávio Bolsonaro), Novo, Republicanos (ao qual o presidente Bolsonaro cogitou se filiar) e, mais importante, o União Brasil, fusão de PSL e DEM. A nova sigla nasce com a maior bancada na Câmara dos Deputados e um dos maiores nacos do fundo eleitoral, além de um ótimo tempo para propaganda gratuita em rádio e TV.
Ou seja, Moro mal entrou na corrida e já está mais adiantado naquilo que outros nomes da terceira via ainda sofrem para fazer: unir esforços em torno de uma candidatura única.
Terceiro, porque essas conversas já renderam até uma desistência que o favorece (outras podem se seguir). O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que era cogitado como candidato do União Brasil para a presidência e pontua 2% de intenção de voto nas pesquisas, avisou aos correligionários que não vai concorrer mais e recomendou o apoio a Moro. Há uma articulação para lançar Mandetta, que ganhou projeção durante a pandemia e até a simpatia de uma parcela da centro esquerda, a vice de Moro.
Quarto, porque a entrada de Moro no que podemos chamar de corrida de classificação motivou a adesão de nomes importantes. O Podemos anunciou a filiação do general Carlos Alberto de Santos Cruz, também um ex-ministro de Bolsonaro, em um movimento que pode servir de incentivo para outros militares entrarem no barco morista, incluindo o vice-presidente Hamilton Mourão, que já foi descartado por Bolsonaro em sua chapa para 2022.
O partido deve receber na próxima semana o ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol. Até a deputada estadual Janaína Paschoal, do PSL em São Paulo, que chegou a ser aventada como vice de Bolsonaro em 2018, em entrevista na semana passada, não descartou a ida para o partido de Moro. O Podemos está aproveitando o momento Moro.
A questão é saber se o momento Moro pode ser duradouro ou apenas fogo de palha. Por enquanto, sua conversão definitiva em político é novidade. Suas entrevistas e discursos ganham atenção no noticiário. As críticas dos adversários, que ora o chamam de "comunista", ora de "agente da CIA", dão ainda mais ênfase ao seu nome.
No entanto, com o passar do tempo, quanto mais ele se arrisca da falar de outros assuntos, como economia e questões comportamentais, mais os seus pontos fracos se tornarão conhecidos.
O momento Moro pode passar e, em vez de se refletir em crescimento nas pesquisas, resultar em estagnação. Se isso ocorrer, outras forças políticas terão menos incentivo ou ímpeto para engajar-se em conversas para unificar a terceira via em torno de Moro.
O resultado da confusa prévia do PDSB e a estratégia a ser adotada por Ciro Gomes a partir de agora podem ter um impacto para estancar o momento Moro, mas não muito. No fundo, o fator primordial será se o ex-juiz conseguirá criar uma persona política que vá além da temática anticorrupção.
Gazeta do Povo (PR)