domingo, agosto 29, 2021

Bolsonaro se inspirou em frase de Mussolini ao aconselhar a troca de feijão pelo fuzil


Charge do Aroeira (humorpolitico.com.br)

Pedro do Coutto

Na última sexta-feira, a GloboNews e o Jornal Nacional da TV Globo colocaram no ar a incrível exclamação feita pelo presidente Jair Bolsonaro a um grupo de apoiadores que pela manhã o aguardavam na saída do Alvorada, aconselhando-os, e também a todo o povo brasileiro, a comprarem um fuzil em vez de feijão.

A frase é inspirada em um pronunciamento do ditador Mussolini, parceiro de Hitler na 2ª Guerra, feita em um comício em Roma quando indagou aos presentes se desejavam mais canhões ou manteiga. O instante que atravessa a história e coloca o personagem no esgoto da memória encontra-se registrado num documentário da Netflix sobre o nazismo de Hitler e o fascismo do primeiro-ministro italiano que levaram a extrema-direita a um desastre e a humanidade a maior sequência criminosa da história universal.

MANTEIGA POR FEIJÃO – Bolsonaro, na realidade, trocou a manteiga pelo feijão e os canhões pelos fuzis. Reportagem do jornalista Matheus Vargas, Folha de S. Paulo, incorpora-se à memória textual do episódio que ficará para sempre como um capítulo a mais protagonizado pelo presidente da República.

Bolsonaro fez afirmações sem nexo ou lógica para uma população que encontra dificuldades para adquirir alimentos nos supermercados, aconselhando a compra de uma arma de ataque, cujo porte particular depende de autorização do Exército. Além disso, sustentou que o povo armado jamais será escravizado. Mas, pergunto, escravizado por quem ? Quem ameaça o nosso país ?

Para haver uma manifestação de defesa é indispensável que exista uma ameaça concreta de violência e de morte. Não se entende, portanto, quais as razões sobre as quais Bolsonaro se baseou para formular o surpreendente pensamento? Mais um fato a revelar que ele perdeu o nexo dos fatos. 

ENERGIA ELÉTRICA – Reportagem de Manuel Ventura, O Globo, ocupando uma página inteira da edição de sábado, focaliza a perspectiva do próprio governo de que as tarifas de energia elétrica poderão subir este ano até 58% em relação ao preço de janeiro. Em setembro, acentua o repórter, o crescimento atingirá 8%.

Na realidade, o preço da energia, conforme dito em artigo recente, não atinge apenas o consumo domiciliar, que pesa 20% do consumo global. Outros 20% representam o consumo do comércio e dos serviços e a parcela de 60% o consumo industrial.

O próprio presidente da República aconselhou as famílias a apagarem uma lâmpada que esteja acesa sem grande necessidade no momento em que estiverem diante da tela da televisão. Não só o governo, mas vários especialistas têm se referido a esse aspecto da questão.

AUMENTO DE PREÇO – Mas o consumo dessas lâmpadas não essenciais é mínimo, enquanto o aumento de preço é máximo, sobretudo no sentido de que para pagar as contas da energia os contribuintes vão ter que reduzir as compras dos supermercados e do comércio em geral. É uma questão relativa à única opção possível. Isso de um lado.

De outro, o aumento das tarifas de energia será muito maior do que o acréscimo percentual anunciado, pois há dois tipos de consumo, mesmo domiciliares. O consumo em kW e o consumo em kWh. A diferença pode ter base na comparação entre uma geladeira e um aparelho de TV.

Relativamente à geladeira, o consumo kWh é válido, pois ela fica ligada 24 horas, dia e noite. No caso da TV é diferente. O consumo não é em kWh, pois os aparelhos não ficam ligados ininterruptamente. Assim teremos, como fez o ministro Paulo Guedes ao anunciar o reajuste kWh, um reflexo muito maior do que aquele produzido no kW.

TEMPO DE UTILIZAÇÃO – No kW o consumidor paga pelo tempo que utilizou a energia. No kWh paga durante as 24 h de cada dia. Mas, como disse há pouco, com exceção das geladeiras, os demais aparelhos têm um consumo limitado aos kW. Nós pagamos o tempo utilizado de fato e não o tempo teórico atribuído à escala kWh. No fundo trata-se de uma forma de fazer o preço subir ainda mais.

O caso da energia elétrica é diferente do caso do petróleo. No consumo de petróleo, cada barril representa um ponto a mais. A distribuição de gasolina ou diesel não é contínua. No caso da energia elétrica basta que se acione um botão para se consumir uma corrente de energia. A diferença é fundamental. Tanto é, que a potência instalada do Brasil, pela última informação que tenho, é de 135 milhões de kW. Mas o consumo médio é de 70 milhões de kW.

Considerar o consumo multiplicado-o por 24 horas diárias é uma forma de iludir o mercado e os consumidores. A energia deve ser paga sobre o que de fato é consumido, e não sobre o total que teoricamente poderia ser consumido se todos os aparelhos permanecessem ligados sem interrupção.

LIMITAÇÃO DO PIX – Gabriel Shinohara, no O Globo, e Larissa Garcia, na Folha de S. Paulo, publicaram ontem excelentes reportagens sobre a decisão do Banco Central de limitar as transferências financeiras dentro do sistema Pix em R$ 1000 no período entre às 20h e 6h da manhã. Esse limite será o padrão implementado pelos bancos. Se o cliente desejar um limite maior, ele poderá fazer esse pedido de alteração, explica o diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do BC, João Manoel Pinho de Mello.

Não há dúvida que o Banco Central falhou ao permitir movimentações que em pouco tempo após a sua vigência causaram roubos superiores a R$ 40 milhões e até a sequestros de pessoas. De abril a julho foram registrados 151 casos, além daqueles, como sempre acontece, não assinalados.  

ATAQUES – As transações suspeitas deram margem à decisão, uma vez que somaram 100 mil casos. O Banco Central falhou ao não prever a vulnerabilidade de tal sistema, não prevendo os ataques cibernéticos e as fraudes que se repetem através da história a todos os sistemas que representam um bem eterno chamado dinheiro.

Incrível que Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, não tenha considerado o ataque frontal de desonestos, sobretudo quando a desonestidade se transforma em rotina e marca registrada de um grande percentual das transações. Não bastam os preços superfaturados nas concorrências. O país mergulhou também no roubo sem disfarces.

Roberto Campos Neto, sobretudo pela história do do seu avô, deverá daqui para frente ter mais atenção nas resoluções do Bacen porque as que marcaram o inicio do sistema Pix foram um fracasso, como os fatos comprovam.