Publicado em 24 de maio de 2021 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
Reportagem de Fernando Canzian, Folha de São Paulo, com dados do FGV IBRE – Instituto Brasileiro de Economia, revela um ponto dramático que afeta diretamente a população do país. No primeiro trimestre de 2021, os miseráveis (renda mensal inferior a R$ 246/mês) somavam 16% da população, ou 35 milhões de pessoas.
Desde agosto do ano passado, segundo a FGV Social, quase 32 milhões de pessoas deixaram a classe C (renda domiciliar entre R$ 1.926 a R$ 8.303). A maioria (24,4 milhões) desceu à classe E (renda até R$ 1.205) ou direto à miséria.
SEM COMIDA – Além dos dados da FGV, a reportagem baseou a sua matéria em recente pesquisa do Datafolha. Para se ter uma ideia do circuito voltado para a miserabilidade basta assinalar que o universo percentual é ainda mais alarmante quando técnicos da FGV destacam que milhões de brasileiros e brasileiras no momento não têm sequer a possibilidade de se alimentar.
A fome levantou uma nova realidade que é péssima para todos aqueles que se preocupam com os seres humanos. Fracassou a previsão do governo de que o desemprego iria recuar. Enquanto isso, a informalidade não apresentou qualquer avanço importante, pois caso contrário a pobreza extrema não teria aumentado.
É impressionante a insensibilidade do governo quando se trata de política social permanente, ao contrario da atual que se baseia no auxílio emergencial.
MERCADO DE TRABALHO – O auxílio de emergência esgota-se em curto espaço de tempo. A solução indispensável encontra-se no mercado de trabalho, pois somente os salários são capazes de retirar do porão da sociedade aqueles que cada vez mais nele ingressam.
A pandemia tem a sua influência, mas não é só ela, pois existe uma realidade mais ampla. Essa realidade tem, inclusive, contribuído para o avanço de um panorama no qual mergulha insensivelmente a política econômica traçada pelo ministro Paulo Guedes.
A política de Paulo Guedes, aceita por Jair Bolsonaro, não está resolvendo problema algum. Ao contrário, tem potencializado a falta de solução que não se define à base de pequenas quantias que chegam às mãos e ao estômago das camadas mais carentes dos brasileiros.
SEM RUMO – O estrago da pandemia e da falta de rumo aumentou, como era previsto, uma vez que a direção social do Planalto praticamente não existe. Não era para menos. O presidente da República desde 2020 encontra-se em campanha pela reeleição nas urnas de 2022. Enquanto isso, a miséria vem crescendo.
Crescente, os miseráveis sofrem com perda de renda sucessiva, embora não se possa chamar de renda aquela realidade na qual se insere ao lado da pobreza também um aumento do endividamento interno brasileiro. Esse endividamento aproxima-se de 90% do PIB.
O salário médio brasileiro encontra-se na casa de apenas R$ 2,4 mil por mês. Enquanto isso, como observamos seguidamente, os lucros dos bancos continuam altíssimos: Itaú, Bradesco, Banco do Bradesco e Caixa Econômica Federal são testemunhas e parceiros do êxito.
DO BOLSO DOS BRASILEIROS – Como não existe crédito sem débito, a soma dos lucros, mesmo faltando o do Santander, reflete que a diferença financeira para mais em suas operações saiu do bolso de alguém. No caso, do bolso dos brasileiros sem dúvida alguma. Só pode registrar lucro aqueles que negociaram com êxito no período a que se refere às pesquisas. Quem pagou a conta? Todos nós assalariados.
Para o economista Sérgio Vale, da MDB Associados, o governo Bolsonaro está deixando uma herança maldita para aquele que o sucederá em 2022. Com a atuação do Planalto, o emprego informal tem se tornado permanente, consequência e também causa da pobreza e da desigualdade social. Um outro economista, Samuel Pessoa, da FGV, acentua que o governo conduziu o Brasil a um casamento com a mediocridade. Há uma cadeia de fatos e reflexos em relação aos quais o governo não consegue pelo menos perceber.
Acho até que não poderia perceber, uma vez que Paulo Guedes continua no Ministério da Economia com poderes diretos e indiretos na onda econômica brasileira. Onda cada vez mais fraca e injusta para com os pobres. A pobreza diminui porque a miserabilidade cresceu. O impasse brasileiro é gigantesco.