domingo, maio 23, 2021

Ao ameaçar a Zona Franca, Bolsonaro despertou a revolta dos parlamentares do Amazonas

Publicado em 23 de maio de 2021 por Tribuna da Internet

Braga e Aziz responderam duramente a Bolsonaro

Jorge Vasconcellos
Correio Braziliense

O presidente Jair Bolsonaro tem intensificado os ataques a governadores à medida que a CPI da Covid avança nas investigações sobre ações e omissões do Executivo federal na pandemia. No episódio mais recente, o mandatário fez declarações sobre o possível fim das isenções fiscais na Zona Franca de Manaus (AM), o que irritou políticos do Amazonas, incluindo integrantes da comissão.

Para eles, a ameaça do chefe do Planalto, feita durante a live semanal de quinta-feira, foi uma retaliação não só às apurações do colegiado, mas a toda a população do estado.

DISSE BOLSONARO – O presidente Bolsonaro fez as afirmações horas depois do fim do segundo dia de depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello à CPI. O general foi bombardeado com questionamentos sobre possíveis omissões do governo no colapso do sistema de saúde em Manaus, ocorrido em janeiro. Naquele mês, dezenas de pacientes com covid-19 morreram asfixiados em razão da falta de oxigênio nos hospitais da cidade.

Na live de quinta-feira, Bolsonaro falou das políticas implementadas durante a ditadura militar (1964-1985) e da criação da Zona Franca de Manaus. Também citou dois senadores do Amazonas que integram a CPI: Omar Aziz (PSD), presidente da comissão, e Eduardo Braga (MDB), titular do colegiado.

“Imagine Manaus sem a Zona Franca. Hein, senador Aziz, você que fala tanto na CPI? Senador Eduardo Braga, imagine aí o estado, ou Manaus, sem a Zona Franca”, disparou.

AMEAÇA AO POVO – Em entrevista ao Correio, Eduardo Braga lamentou que o presidente tenha feito as declarações justamente no momento em que o Amazonas enfrenta uma série de dificuldades.

“Eu não entendo isso como uma ameaça a mim ou ao senador Omar e, sim, ao povo do Amazonas. Principalmente de alguém que se diz defensor da Zona Franca e, no momento em que o Amazonas enfrenta a segunda maior enchente de sua história, enfrenta uma pandemia e enfrenta, ainda, ameaças de desempregar os nossos trabalhadores da Zona Franca”, reprovou.

“Portanto, eu, sinceramente, espero que nós, que somos guardiões da maior floresta em pé do mundo e que somos proibidos de quase tudo não sejamos vítimas de mais esse ataque.”

FALTA DE RESPEITO – Por sua vez, Omar Aziz ressaltou que Bolsonaro precisa respeitar a população do estado. “O presidente pode ameaçar a mim, ao Eduardo, mas, ao ameaçar a Zona Franca de Manaus, o negócio é mais embaixo. É preciso respeitar os amazonenses, porque ele não pode ameaçar algo que é garantido por lei, que assegura o sustento e a vida de tantos amazonenses”, frisou o senador, pelas redes sociais.

“A Zona Franca tem um importante papel na economia, não apenas do estado do Amazonas, mas do Brasil”, acrescentou.

O vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), foi outro a condenar as declarações de Bolsonaro. “O presidente usou uma ameaça à Zona Franca de Manaus para atingir o senador Eduardo Braga e o senador Omar, incomodado com a postura de ambos na CPI que investiga a atuação do governo federal no enfrentamento da pandemia”, disse, em vídeo divulgado por sua assessoria.

ESTÁ “APAVORADO” – “Essa conduta do presidente demonstra duas coisas: primeiro, que ele está apavorado com o que pode ser o resultado desta investigação, e, segundo, que ele não tem compromisso com os interesses maiores do povo do Amazonas.”

Ramos acrescentou: “Quando o presidente ameaça a Zona Franca, ele não atinge o senador Eduardo e o senador Omar. Ele atinge os empregos de milhares de amazonenses e manauaras. Ele atinge os negócios e os investimentos na cidade de Manaus. Ele atinge a receita do estado do Amazonas, que é o que paga a saúde, a educação, o que compra a cesta básica para enfrentar a fome neste período de pandemia e de cheia. O presidente precisa parar de destilar ódio e cuidar de comprar vacina, porque é isso que o povo brasileiro espera dele”, concluiu.