sexta-feira, abril 23, 2021

Ao não demitir Ricardo Salles, Bolsonaro endossa a atuação de seu antiministro


Omissão de Bolsonaro diante dos desmandos de Salles pode custar caro

Pedro do Coutto

A repercussão do desmatamento na Amazônia e das queimadas do Pantanal do Mato Grosso do Sul foi intensa nos jornais, nas emissoras de televisão e na opinião pública nos últimos meses. Além disso, realmente, não tendo demitido o ministro Ricardo Salles no episódio dos 200 mil metros cúbicos de madeira oriundas do desmatamento ilegal, o presidente Bolsonaro endossou a atuação do antiministro do Meio Ambiente.

Somado a tais fatos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a deputada Gleisi Hoffmann publicam artigo com grande destaque sustentando que o Brasil deve ser protagonista e não pária do clima global. Acentuam que nosso país deve voltar ao convívio das nações comprometidas com a questão ambiental; a meu ver, desafio para o futuro do próprio planeta. Lula e Hoffmann atacam o governo Bolsonaro e assinalam que o Brasil não pode figurar entre as nações que não se comprometem com o desafio do futuro. Aquecimento global é um risco para a sobrevivência da humanidade.

DESAFIO DO DESMATAMENTO -Vinte e três governadores pediram a Joe Biden que pressionasse Bolsonaro. Este é o título da excelente matéria de André Borges, o Estado de São Paulo, de quarta-feira. A reportagem destaca que vinte e três dos vinte e sete governadores brasileiros, ex-ministros dos governos FHC e Lula da Silva, artistas brasileiros e americanos, além de empresários, assinaram documento enviado ao presidente dos Estados Unidos fazendo ressalvas ao posicionamento brasileiro diante do desafio do desmatamento e das queimadas que tanto poluem a atmosfera.

A cantora Anitta chegou a discutir pela internet com o ministro Ricardo Salles. A atriz Jane Fonda figura entre os artistas e empresários americanos preocupados com a posição de nosso país. O mesmo ocorre com Caetano Veloso, Fernando Meireles, Walter Salles, Marisa Monte, Sonia Braga e Wagner Moura. Um ponto de destaque é a solicitação de dinheiro pelo presidente Jair Bolsonaro ao presidente dos Estados Unidos para que com tais recursos possa o governo brasileiro combater o desmatamento e a irresponsabilidade do ainda titular da pasta do Meio Ambiente.

Não há sentido o Brasil depender de dinheiro externo para cumprir as suas obrigações internas. O crédito pode vir, mas depois de realizadas as etapas de preservação e os reflexos dos resultados no verde das florestas. O temor dos que firmam o documento é que o Brasil passe por uma situação vexatória se a resposta de Joe Biden for nesse sentido.

PRONUNCIAMENTO – No pronunciamento que fez ontem na Conferência do Clima, o presidente Jair Bolsonaro relacionou metas existentes, mas não se referiu com dados concretos aos trabalhos realizados de 2019, quando assumiu o Planalto, até hoje, deixando assim a apresentação objetiva para outra ocasião.

A GloboNews informou que o discurso de Bolsonaro foi bem recebido pela Casa Branca e pelo presidente Joe Biden que considerou o pronunciamento positivo, trazendo paralelamente posições a serem transformadas em fatos concretos. De qualquer forma, foi um avanço.

DIÁLOGO – Voltando ao artigo que escreveu com Hoffman, o ex-presidente Lula afirmou que há gestos que surgem na Conferência do Clima que renovam a esperança no diálogo, na razão e no futuro da humanidade. Lula lembrou os compromissos brasileiros assumidos na Conferência de Copenhagen em 2009 quando estabelecemos nosso trabalho para reduzir as emissões de gases.

Acrescentou que no seu segundo mandato realizamos medidas de preservação da Amazônia, condenando os desmatamentos e as queimadas. Infelizmente, para nós e para o mundo não registramos a continuidade que era esperada e reivindicada pela comunidade internacional.

Lula e Gleisi acrescentaram que o ritmo de desmatamento da Amazônia, destruindo a floresta, constitui uma ameaça para o futuro. A atuação brasileira para retomar os trabalhos efetuados de 2003 a 2010 não tiveram continuidade nos últimos anos.

JULGAMENTO DE LULA – Independentemente do resultado final do julgamento do Supremo, o ex-presidente Lula está com a sua candidatura estabelecida para as urnas de 2022. Se o STF decidisse pela suspeição de Sergio Moro, ele confirmaria a sua candidatura, pois suas condenações estariam anuladas.

Se o Tribunal optasse pela transferencia do julgamento para o Tribunal Regional de Brasília, o efeito era o mesmo. Se o fórum de Curitiba não era competente, o resultado final habilitara também a candidatura do ex-presidente.