segunda-feira, março 29, 2021

Tudo é relativo, só Deus é absoluto: o candidato ideal não existe


Charge do Ivan Cabral (ivancabral.com)

Pedro do Coutto

A primeira frase do título é de Einstein que pautava a sua visão relativa na ideia de Deus, no qual ele acreditava, embora não acreditasse no livre arbítrio. A segunda frase é do acadêmico Alceu Amoroso Lima, que possuía uma coluna no Jornal do Brasil, sobre o pseudônimo de Tristão de Ataíde.

Ele sintetizou grande parte da questão política e eleitoral ao responder a um grupo de jovens que se surpreenderam com o apoio dele a Negrão de Lima nas eleições de 1965 para o governo da Guanabara, contra o professor Flexa Ribeiro, candidato de Carlos Lacerda.  

QUESTIONAMENTO – Os jovens formaram um grupo, foram a sua casa e o indagaram: “mas professor, o senhor mandar votar em Negrão de Lima? Ele é conservador, foi embaixador em Portugal e era amigo de Marcelo Caetano, Primeiro ministro de Salazar”.  

Amoroso respondeu apenas com uma frase, a meu ver eterna: “meus filhos, o candidato ideal não existe”. Afirmo isso porque li ontem no O Globo, na importante coluna de Merval Pereira, uma opinião do cientista político Carlos Pereira, defendendo como fundamental para o processo brasileiro afastar a polarização entre Jair Bolsonaro e Lula da Silva.

Desenvolveu a sua teoria, mas na prática, o panorama é outra coisa. Carlos Pereira disse que a luta pelo poder não deve ser marcada pelo ódio recíproco. Porém, a meu ver nesse ponto, ele desfocou sua lente sobre a realidade da política.  Os cientistas políticos, geralmente, esquecem que por trás das candidaturas, existem sempre interesses econômicos gigantescos que fazem com que as tendências partam do princípio da perspectiva de vitória.

CAIXA DE SURPRESAS – Tal perspectiva que Pereira busca não existe de acordo com a situação de hoje. Inclusive é preciso acentuar que a política muda a todo instante e que dois anos, a distância para as urnas, equivale a um centenário. Alguém poderia supor que depois de condenado e preso, afastado das telas e dos palanques, de repente Lula tivesse anuladas as sentenças contra ele e assim voltasse a disputar a sucessão de 2022, podendo retornar ao Palácio?

Os cientistas políticos precisam levar em conta a verdadeira atmosfera que envolve os embates porque sem isso não chegarão a qualquer conclusão real. Quanto à terceira via, vale lembrar que o governador João Doria já retirou a sua pré-candidatura ao Planalto.

DESGASTE – O desgaste de Jair Bolsonaro é tão grande que mesmo, por exemplo, a Fiesp prefere Lula a Bolsonaro. Isso ficou claro no artigo do ex-ministro Delfim Netto há duas semanas na Folha de São Paulo, quando disse que a candidatura Lula não assusta ninguém, sendo natural repetir-se o quadro de suas vitórias em 2002 e 2006. O recado foi dado para o universo empresarial, incluindo os bancos.  

Enquanto isso, reportagem de Gustavo Schmitt e Sérgio Roxo, O Globo deste domingo, destaca as articulações de generais da reserva descontentes com Bolsonaro que se movimentam em busca de um outro nome. É o caso do general Carlos Alberto Santos Cruz e do general Paulo Chagas que foram ouvidos pelo repórter.  

Mas falei em desgaste. Está aos olhos de todos. Vejam só; o economista Luis Stuhlberger, executivo gestor do Fundo Verde do Itaú Unibanco, afirmou à repórter Cristiane Barbieri , o Estado de São Paulo, manchete em duas linhas do caderno econômico, que “acreditei e votei no Bolsonaro em 2018, mas ele nunca mais terá o meu voto”.

ARTICULAÇÃO – Deputados do Centrão que apoiaram Arthur Lira para a Presidência da Câmara articularam-se com figuras do universo financeiro, reportagem de Filipe Frazão e André Shelders, o Estado de São Paulo, para dar um ultimato a Bolsonaro.  

O ultimato principalmente visa a questão essencial no combate à Covid-19, cujo fracasso está se refletindo nas bases políticas dos parlamentares. O número de mortes já está em 310 mil e o índice de contaminação diário nas últimas 24 horas passou de 70 mil pessoas.

ECONOMIA – A pandemia afeta também diretamente o processo econômico como está refletido no recuo de 4% no Produto Interno Bruto. Não fossem suficientes essas reportagens, a de Aguirre Talento, O Globo, destaca a posição compacta de especialistas condenando a atuação de Jair Bolsonaro.

Ainda por cima, além do deputado Arthur Lira e do senador Rodrigo Pacheco, que se manifestaram pela demissão imediata de Ernesto Araújo, ainda ministro das Relações Exteriores, Patrícia Campos Mello, na Folha de São Paulo, escreve matéria com grande destaque revelando que mais de 300 diplomatas de carreira lançaram um documento dirigido ao governo afirmando que se impõe a demissão do atual titular do Itamaraty.  

O GLOBO A TV BANDEIRANTES – Na edição de ontem de O Globo foi publicada quase em uma página inteira, reportagem de Tatiana Furtado, sobre a corrida da Fórmula-1 de Bahrein, inclusive informando o horário da transmissão pela TV Band.

Jornalista há muitos anos, vejo a evolução nos órgãos de imprensa. Antigamente, citar concorrentes era bloqueado. Agora o jornalismo está muito diferente. Para melhor. Grandes jornais como O Globo, a Folha e o Estado de São Paulo, costumeiramente citam-se uns aos outros.  A TV Globo tem agido assim em relação a Band, ao SBT e a Record. Uma evolução.  

PAN-AMERICANO DE 1952 – Ontem, neste blog, escrevi sobre as reportagens de Bruno Rodrigues, Folha de São Paulo, e de Rafael Oliveira, O Globo, sobre o goleiro Barbosa, que assumiu uma falha que não cometeu no chute de Ghiggia que marcou a nossa derrota.  

Bruno Rodrigues disse, penso eu que por ele ser muito jovem, que a forra brasileira foi em 1951 em um jogo Vasco e Peñarol, time de Obdulio Varela. Foi um equívoco. A forra brasileira foi no Pan-Americano de 1952, em Santiago do Chile, quando derrotamos o Uruguai por 4 a 2, em um confronto em que conseguimos, dois anos depois, reduzir o impacto negativo da perda da Copa no Maracanã.

O treinador vitorioso foi Zezé Moreira e a escalação da equipe foi a seguinte: Castilho, Djalma Santos, Pinheiro, Brandãozinho e Nilton Santos. No meio, Eli do Amparo, Didi e Pinga. Na frente, Julinho Botelho, Baltazar e Rodrigues Tatu, que estava saindo do Fluminense para o Palmeiras. Foi uma vitória histórica. Não sei porque não é muito lembrada como uma das grandes conquistas do futebol brasileiro.