Bernardo Mello e Paulo Cappelli
O Globo
Em busca de um partido com estrutura para disputar as eleições de 2022, o presidente Jair Bolsonaro tenta vencer focos de resistência para retornar ao PSL, sigla que deixou há pouco mais de um ano após desavenças com a direção nacional. O partido, que terá a segunda maior fatia do fundo eleitoral e do tempo de propaganda em TV, é visto por aliados de Bolsonaro como a alternativa viável, em meio às repreensões que o presidente tem recebido de parlamentares do Centrão.
A maior oposição está em São Paulo. O principal símbolo da contrariedade era o senador Major Olimpio, que morreu há dez dias em decorrência da Covid-19 — parlamentares avaliam que a recusa de Bolsonaro em prestar condolências também atrapalhou o cenário.
ALTERNATIVA SÓLIDA — “O PSL precisa buscar uma alternativa sólida. O país está numa situação de desesperança por conta da Covid-19, e o presidente não vem mostrando sensibilidade humana” — criticou o deputado Junior Bozzella, presidente do diretório paulista.
Embora a volta seja defendida por parte da cúpula do PSL, o presidente da legenda, deputado Luciano Bivar (PE), ainda resiste. Emissários de Bolsonaro já fizeram sucessivas reuniões com o vice de Bivar no PSL, Antonio Rueda, numa tentativa de desarmar o conflito iniciado em 2019.
Bivar tem adotado o discurso de que Bolsonaro precisaria “se adequar” e que o PSL planeja fazer parte de um “projeto de centro” em 2022. Bivar espera também atrair parlamentares de outras legendas na próxima janela partidária, no início do ano que vem, o que poderia mitigar o peso interno do bolsonarismo.
HÁ APOIADORES – Por outro lado, a maior parte da bancada federal de 53 deputados apoia Bolsonaro. A eleição à presidência da Câmara deu um termômetro: mais de 30 parlamentares assinaram as listas em apoio a Arthur Lira (PP-AL), candidato de Bolsonaro, rejeitando o bloco formado por Baleia Rossi (MDB-SP), que tinha o apoio da cúpula do partido.
Para esses parlamentares, a eventual ida de Bolsonaro para siglas como PP, PL, PSD ou Republicanos, que já estiveram no seu radar, dificultaria os planos de reeleição da base bolsonarista, por se tratarem de partidos com diretórios estaduais já estruturados.
“Sem espaço para deputados de sua base brigarem por mais um mandato, o presidente correria o risco de ver sua identidade se diluir dentro de outro partido. O PSL pode ter alguns focos de ferrugem, mas tem identificação com o bolsonarismo” — avalia o deputado Luiz Lima (PSL-RJ), que defende o retorno.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – À proporção que a pandemia avança, diminui o prestígio de Bolsonaro. Se a segunda onda não for logo revertida, a sonho da reeleição vai virar pesadelo. (C.N.)