quinta-feira, novembro 05, 2020

Ala militar do Planalto está correta ao defender apoio à retomada do desenvolvimento

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Charge: a economia em Caxias Iotti/

Charge reproduzida da RBS

Carlos Newton   

O presidente do Banco Central e os membros do Copom (Comitê de Política Monetária) fizeram o que se esperava e pela primeira vez o Brasil experimenta juros tecnicamente negativos (em relação à inflação do período), circunstância que incentiva investimentos em atividades produtivas, mas ainda é pouco para um país que precisa se reindustrializar.

No governo, a polêmica é cada vez maior entre os grupos que defendem apoio à retomada do desenvolvimento e os que priorizam a inflação baixa e o respeito aos tetos de gastos públicos fixados pelo Congresso por proposta de Henrique Meirelles, no governo Michel Temer, para tirar o país da recessão.

TODOS RECLAMAM… – Como diz um velho ditado português (“Quando falta o pão, todos reclamam e ninguém tem razão”), o dois grupos têm bons motivos em suas posições, até porque o presidente da República pode sofrer impeachment caso rompa o limite das despesas públicas. Então, é preciso encontrar uma solução conciliatória.

De início, deve-se considerar que não há a menor possibilidade de investimentos governamentais, porque as tais reformas praticamente não economizaram gastos públicos, os privilégios da nomenklatura e os cargos comissionados foram mantidos, tudo está com dantes, sem falar no aumento das despesas com as Forças Armadas.

Portanto, a única alternativa é usar o método do economista Carlos Lessa, que na presidência do BNDES incentivou fortemente a economia, inclusive pequenas e microempresas, levando o PIB a crescer espantosos 7,5% em 2010.

DIZIA LESSA – O brilhante economista, ex-reitor da UFRJ, contava ter se surpreendido em 2003, ao assumir o BNDES e constatar que o PT não tinha um programa de governo. Trabalhando sempre em conjunto com o engenheiro e consultor Darc Costa, vice-presidente do BNDES, Lessa conseguiu criar um próprio projeto para incentivar a economia.

Os dois lançaram o Cartão BNDES, que financia pequenas e microempresas com os menores juros do mercado, implantaram uma série de programas para setores estratégicos e de inovação, financiaram as exportações e a indústria naval e petrolífera, fazendo a economia deslanchar, culminando com o PIB de 7,5% em 2010.

Ao deixar o governo, Lessa avisou que Lula precisava mudar a política econômica, mas não foi ouvido. Uma década depois, o que se vê é uma economia estacionária, baseada no agronegócio, depois de ter sido a 10ª potência industrial e a 3ª naval.

BNDES EM BAIXA –  A única alternativa para ativar a economia volta a ser o BNDES, que chegou a ser o maior banco de desenvolvimento do mundo, antes de os chineses terem enviado ao Brasil uma delegação, nos anos 90, para estudar e copiar o funcionamento da nossa instituição de fomento.

No entanto, o ministro Paulo Guedes e o presidente Jair Bolsonaro demonstram não ter o menor conhecimento sobre a importância do BNDES na economia brasileira. Em 2013, o banco injetou R$ 190,4 bilhões na economia, mas em 2019 o total já caíra para apenas R$ 56,3 bilhões, e continua em queda em 2020. 

A ala militar do Planalto está correta, ao pretender que haja um esforço para retomada do desenvolvimento, mas está evidente que isso jamais ocorrerá nessa gestão de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes. E la nave va, cada vez mais fellinianamente…