Carlos Newton
Lembro bem dos idos de 64. Eu trabalhava no IBGE, como operador do primeiro computador do país, e à noite estudava na Faculdade Nacional de Direito, que depois passou a liderar a atuação política estudantil, na gestão de Fernando Barros e Vladimir Palmeira. Naquela época, a situação era bem diferente. Havia uma forte oposição ao presidente João Goulart, defendia-se a derrubada dele, mas não se falava abertamente em implantar uma ditadura militar.
Essa possibilidade nem passava pela cabeça dos golpistas, liderados por Carlos Lacerda. Pretendia-se que os militares tirassem Jango, mas deixassem os civis rearrumar a casa, o que somente veio a acontecer 21 anos depois…
REPRISE (COMO FARSA) – Agora, a conspiração se repete como farsa, comandada pelo próprio presidente da República, que tem formação militar, chegou a capitão mas não iria muito longe, devido à falta de capacidade cultural e intelectual.
Desta vez, nenhum líder da oposição defende o golpe de Estado. Quem o faz, com uma sinceridade espantosa, é o próprio presidente da República, que não consegue agir de forma republicana, contesta publicamente os outros poderes e confraterniza na ruas com os defensores da intervenção militar e do fechamento do Congresso e do Supremo.
Isso talvez esteja acontecendo porque Bolsonaro era menino quando houve a Revolução e não tem a menor ideia de como tudo aconteceu em 1964.
MILITARES ROBÔS – Na sua longeva imaturidade, Bolsonaro acha que pode conduzir os militares como se fossem os robôs digitais comandados por seus filhos. Na semana passada, disse e repetiu que a nação “quase entrou numa crise institucional”, ou seja, ameaçou diretamente o Supremo e, de tabela, o Congresso.
Neste domingo, repetiu-se a estratégia bolsenariana, montada pelos três filhos. Jamais se viu situação semelhante na História Republicana. Desta vez, diante do Palácio do Planalto, o presidente, portando-se como se falasse em nome das Forças Armadas, disse que acabou a paciência e fez uma grotesca ameaça ao Supremo e ao Congresso, avisando que não vai tolerar “intervenção”.
Bolsonaro pensa (?) que os militares farão o que ele ordenar, como comandante-em-chefe das Forças Armadas. Está enganado. Os militares vão respeitar a lei e a ordem. É mais fácil que o internem numa clínica psiquiátrica, para longo tempo de recuperação, como aconteceu ao presidente Delfim Moreira.