sexta-feira, março 27, 2020

Previsões sinistras de Mandetta estão levando Bolsonaro e os filhos à loucura


Mandetta muda discurso, diz que fica no cargo e critica quarentena ...
Mandetta tenta se adaptar a Bolsonaro, mas está difícil
Carlos Newton
Muitas vezes, nas contradições da vida, o que parece ser uma solução pode se tornar um problema. Justamente por isso, na política, existe o ditado de que nunca se deve nomear uma pessoa tão importante que depois não possa ser demitida. É o caso, por exemplo, do ministro da Justiça e Segurança Pública,  Sérgio Moro. No embalo da Lava Jato e da luta contra a corrupção, Bolsonaro atraiu o então juiz, fez-lhe algumas promessas que esperava cumprir e conseguiu convencê-lo.
Como ocorre no Serviço de Meteorologia, houve mudanças no decorrer do período, o Congresso resistiu ao Pacote Anticrime e aprovou a Lei do Abuso de Autoridade, nitidamente do interesse dos criminosos, sem que Bolsonaro se manifestasse, porque a essa altura do campeonato estava tolhido pelas raspadinhas dos filhos.
PROBLEMA REPETIDO – Vida que segue, diria João Saldanha, e mais adiante Bolsonaro teve de tirar de Moro o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras, para proteger não só os filhos, mas também ministros do Supremo, políticos e autoridades diversas, vejam como a vida é muito mais criativa do que as promessas de governantes.
Moro se encrespou, é claro, Bolsonaro queria demiti-lo, mas como fazê-lo? Imediatamente ganharia um adversário da pesada na eleição de 2022, melhor esquecer o assunto e cuidar de sua complicada família.
Agora, repete-se o problema, com o súbito alumbramento do ministro Henrique Mandetta, que se revelou um astro de primeira grandeza na condução do combate ao coronavírus. Além do brilho invulgar, as previsões do ministro são catastróficas e estão levando Bolsonaro e os filhos à loucura.
DEMISSÃO INVIÁVEL – O presidente queria se livrar do ministro, mas não consegue, porque ele se tornou uma espécie de Moro em versão hospitalar. Mandetta dá entrevistas coletivas diariamente e tem repetido a previsão científica, baseada no exemplo da China, o primeiro país a superar a pandemia. Diz que o número de contaminados subirá aceleradamente em abril e maio e só deve começar a cair em agosto, com “queda brusca” a partir de setembro.
O pior é o ministro prever que o sistema global de saúde do país deve entrar em “colapso” em abril, como ocorreu na Itália, que superou a China em número de mortos.
O que é significa o colapso do sistema? É quando nem mesmo os protegidos por planos de saúde conseguem atendimento, explica Mandetta, para desespero de Bolsonaro e dos filhos, que não acreditam nessa calamitosa hipótese.
OTIMISMO x REALISMO – A troupe bolsonariano é otimista, conforme ficou claro no pronunciamento à nação, na terça-feira, quando parecia que estávamos no melhor dos mundos. Para o respeitável público, surgiu, então, o problema crucial. Em quem acreditar: Bolsonaro ou Mandetta?
O pior é que o presidente sabe que não pode acusar o ministro de ser pessimista, porque ele se baseia exclusivamente nos dados científicos trabalhados pelo comitê governamental da crise, que é comandado pelo ministro Braga Netto, general da ativa.
Ou seja, não se trata de pessimismo, mas apenas de realismo, que é sempre a melhor forma de resolver problemas de qualquer gravidade.
INVERSÃO DE PAPÉIS – Ao invés de respeitar os dados científicos e trabalhar nas formas de enfrentar a crise econômica, Bolsonaro se comporta como um Dom Quixote do terceiro milênio e investe contra moinhos do vento que nem existem, obrigando Mandetta a fazer um contorcionismo para criticar a quarentena.
Como diria Cazuza, a visão otimista do presidente não corresponde aos fatos, conforme se constatou com o agravamento da situação de um dos chefes da segurança do Planalto, o capitão Ari Celso Rocha de Lima Barros. Embora esteja fora do grupo de risco, com 39 anos, e seja atleta, ele teve de ser internado no Hospital de Base do DF, na noite desta quarta-feira (dia 25).
Agora, a estratégia de Bolsonaro é negar verbas a governadores e prefeitos, para forçá-los a pôr fim ao confinamento, como se já estivesse tudo normal.
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P.S. 
 Com apoio dos fanáticos de sempre, Bolsonaro joga uma cartada arriscadíssima, que pode encerrar precocemente seu mandato, caso sua visão diminutiva (gripezinha ou resfriadozinho) não venha a se concretizar. E isso logo saberemos. (C.N.)