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Vicente Limongi Netto
Com o coração feliz, aplaudo os valorosos e dignos 88 anos de idade de José Bernardo Cabral. Cidadão por inteiro. Homem público que cumpriu todos os deveres com esmerada dedicação, isenção e competência. Como professor universitário, secretário de Justiça, ministro da Justiça, presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, deputado federal e senador, Bernardo Cabral foi o grande destaque da Assembleia Constituinte.
Não foi apenas o relator-geral da futura Constituição, mas aquele que mais trabalhou e se dedicou durante quase dois anos, liderando a construção e pavimentação da nova Carta Magna.
FUGINDO DOS LOBISTAS – Para se libertar de lobistas e das pressões indevidas, trabalhava com sua equipe fora dos gabinetes do Congresso. Um desses “esconderijos” foi a Gráfica do Senado. Na época, Cabral foi alvo de ameaças até de sequestros de familiares. Jamais esmoreceu nem se intimidou diante desses obstáculos armados pela sanha imunda e doentia de covardes e maus brasileiros, que eram pulhas a serviço de patifes e decaídos que não queriam que o Brasil avançasse nos direitos humanos e sociais.
Ninguém registra nem recorda que, para ser relator da Constituinte, disputando no voto dos congressistas, Bernardo Cabral venceu Fernando Henrique Cardoso e Pimenta da Veiga. O caboclo das barrancas do Amazonas derrotou São Paulo e Minas Gerais.
Com o operoso Bernardo Cabral, seus principais relatores adjuntos foram Konder Reis, José Fogaça e Adolfo de Oliveira. O doutor Ulysses Guimarães não se envolvia, porque estava presidindo, ao mesmo tempo, a Câmara, a Constituinte e o PMDB. Assim, era Bernardo Cabral quem tocava os trabalhos.
ASSISTIMOS DE PERTO – A verdade tem que ser dita. Não temo patrulheiros. Sei o que aconteceu porque tive acesso aos diversos locais em Brasília onde Cabral e os relatores adjuntos tinham que literalmente se refugiar. Para trabalhar sossegados. Longe do assédio de repórteres, lobistas e palpiteiros.
O Brasil muito deve ao relator-geral e aos demais constituintes da época, que tiveram a lucidez de preservar importantes conquistas, como a Zona Franca de Manaus, que agora, mais de 30 anos depois, sofre novos ataques.
Ulysses Guimarães garantiu um final marcante, pelo qual ficou notabilizado como líder político. Na cerimônia final, ergueu e exibiu a todos a Constituição Cidadã, pela qual o jurista Bernardo Cabral tanto se dedicou e hoje pode se orgulhar pelo dever cumprido.