Roberto Nascimento
Antes dos idos de março, início das primeiras contaminações por coronavírus, oriundas de passageiros aéreos infectados vindos da Itália e de outros países, sem saberem que estavam assintomáticos, a equipe econômica só falava em novas reformas, principalmente a administrativa e a tributária (boi de piranha). A que verdadeiramente queriam era a reforma administrativa, destinada a restringir direitos, a reduzir salários e acabar com a estabilidade dos servidores públicos e de empresas estatais.
Esse é o mantra neoliberal da Escola de Chicago, objetivando chegar de qualquer maneira ao Estado Mínimo e desmontar o arcabouço da Política de Bem Estar Social, transferindo a função precípua do Estado para as empresas privadas.
PERIGO DE RECESSÃO – Quando começou a pipocar a pandemia, a equipe econômica e o Planalto ficaram apavorados com o horizonte da recessão. O ministro Paulo Guedes então lançou um Pacote Emergencial de ajuda às empresas, em 13 de março, no valor de 4 bilhões. Na mesma balada, liberou R$ 70 bilhões aos bancos, para ampliar o crédito.
Ao mesmo tempo, enviou ao Congresso uma Medida Provisória liberando a suspensão do contrato de trabalho dos trabalhadores por 4 meses, sem a contrapartida do pagamento de salários, sem se preocupar com a sobrevivência das famílias. A reação foi tão dura e violenta, nas redes virtuais, que no final do mesmo dia 13/3, o presidente voltou atrás nesse artigo da maldade.
No dia 27 de março de 2020, portanto, quatorze dias depois, lançaram novo Pacote de ajuda aos empresários, no valor de R$ 700 bilhões, para evitar a quebradeira geral das empresas. No dia anterior, dia 26/03, Donald Trump, editou um Pacote de ajuda aos empresários e trabalhadores americanos, da ordem de 1 trilhão de dólares. Ainda estamos na casa dos 700 bilhões.
TRABALHADOR INFORMAL – Naquela sexta-feira 13, Guedes anunciou uma benesse de R$ 200 para os trabalhadores informais. Todo mundo criticou o valor ínfimo, mas o ministro disse que dava para comprar duas cestas básicas, desconhecendo completamente o valor dos produtos da cesta.
No início da semana passada, os congressistas acenaram com um aumento para R$ 500. Então o presidente para não ficar por baixo, aumentou para R$ 600 sem falar com o Guedes. Entendam como quiserem.
O ministro, isolado, deu entrevistas totalmente diversas do que fora encaminhado na sexta-feira 13, quando se iniciava a crise pandêmica, dizendo agora que era realmente necessário ajudar o trabalhador que vende mate na praia, que vende bala no sinal, prometeu liberar dinheiro para eles. Quer dizer, passou a se preocupar com os trabalhadores informais, mostrando como as redes sociais têm esse componente social gigantesco de pressão contra as autoridades.
IMPORTÂNCIA DO ESTADO – Na prática, a pretenciosa, presunçosa e preconceituosa equipe do Guedes enfim teve de admitir a importância do Estado. Em tempos de crise global ou regional, como a covid-19, são os servidores do Estado, as enfermeiras, os médicos, os cientistas, os infectologistas, principalmente da Fiocruz, que estão na linha de frente do combate ao vírus infernal.
O coronavírus veio para mostrar que deve haver um equilíbrio entre o público e o privado, sem acabar com um, nem com o outro, ambos em consonância para o bem da nação.
Extinguir o setor público ou torná-lo mínimo, como desejam Guedes e sua equipe econômica, condenaria os mais desprotegidos da sociedade à indigência ou à morte lenta nas ruas, doentes e abandonados pela falta da mão protetora do Estado.
Portanto, vamos todos reconhecer a importância dos servidores. E assim caminha a humanidade.