Vinicius Sassine
O Globo
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O secretário de Direitos Humanos da Procuradoria-Geral da República (PGR), Ailton Benedito, disse ao O Globo que inexiste qualquer iniciativa de federalização da investigação sobre a morte de Adriano da Nóbrega, ex-capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) do Rio, suspeito de liderar milícias e comandar assassinatos de aluguel na região.
O ex-PM, que já recebeu homenagem da família Bolsonaro e conseguiu emprego para a mãe e a mulher no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), foi morto em ação da polícia da Bahia no último dia 9 de fevereiro.
SUSPEITAS – O presidente Jair Bolsonaro e o senador Flávio (sem partido-RJ) fizeram seguidas declarações nesta semana levantando suspeitas sobre a condução da polícia da Bahia e sobre as investigações da polícia fluminense. A ofensiva do presidente alimentou uma crise já em curso com governadores dos estados.
A federalização de uma investigação, com a entrada da Polícia Federal (PF) no caso, é uma competência da PGR, que direciona os pedidos ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). A área da PGR que cuida da formulação dos pedidos é a Secretaria de Direitos Humanos. “Por ora, não há nada sobre isso em curso na Secretaria de Direitos Humanos da PGR”, afirmou o titular da secretaria.
A reportagem perguntou a Benedito, apoiador de Bolsonaro nas redes sociais e crítico da esquerda, qual sua opinião sobre os desdobramentos da morte do ex-capitão do Bope. “Não tenho opinião sobre esse episódio”, respondeu.
CAUTELA – O próprio procurador-geral da República entende que ainda é cedo para uma definição sobre pedir ou não federalização do caso. Segundo Aras manifestou em conversas com colegas no Ministério Público, é preciso que existam mais elementos para uma decisão nesse sentido.
Bolsonaro chegou a dizer que adotou “providências legais” para a realização de uma “perícia independente” que permita a elucidação do caso, mas sem esclarecer quais medidas tomou. O presidente da República lançou dúvidas sobre a isenção das investigações, com insinuação de que aparelhos de telefone celular do suposto chefe de milícia pudessem ser manipulados.
VÍDEO FALSO – Já Flávio compartilhou conteúdo em suas redes sociais para levantar a suspeita de que Adriano foi torturado antes de morrer. O governador da Bahia, Rui Costa (PT), afirmou que o vídeo é falso. Na terça-feira, a Justiça da Bahia determinou a realização de uma nova perícia no corpo de Adriano, a ser feita por peritos oficiais. O corpo dele permanece no Instituto Médico-Legal (IML) do Rio.
A federalização do caso não está no horizonte da família de Adriano e da defesa que a representa, pelo menos por enquanto. Eles sustentam que Adriano foi executado e que a interferência política no caso atrapalha uma elucidação sobre o que de fato ocorreu. Para os familiares e advogados, o suposto chefe de milícia e matador de aluguel foi vítima de uma queima de arquivo.
MONITORAMENTO – O ex-capitão era monitorado há um ano pelo setor de inteligência da Secretaria de Polícia Civil do Rio. Adriano era acusado de ser o chefe do “Escritório do Crime”, grupo de matadores de aluguel investigado por suspeita de envolvimento nas execuções da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e de seu motorista, Anderson Gomes.
A então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu a federalização das investigações sobre quem mandou matar Marielle e Anderson. O STJ ainda não decidiu a respeito. O crime segue sem elucidação, quase dois anos depois da execução.