quinta-feira, fevereiro 06, 2020

Armínio Fraga está certo: a discussão sobre o Brasil precisa ser técnica, sem politicagens nem ideologias

Posted on 

Resultado de imagem para arminio fraga"
Teses de Fraga precisam ser debatidas com urgência
Carlos Newton
Em quase onze anos de funcionamento contínuo, este Blog foi mantido sob o signo da liberdade, jamais nos afastamos deste lema, que significa abrir espaço para todas as tendências políticas, ideológicas, filosóficas e sociais, sem qualquer discriminação. Os comentaristas e leitores menos vinculados idelogicamente sabem que o editor-chefe jamais tenta impor suas preferências e respeita as posições contrárias – este é o objetivo da existência deste espaço livre na internet, que é uma iniciativa totalmente utópica.
Desde a década de 70, quando dirigi a “Revista Nacional”, criada por Mauritônio Meira e que tinha a maior tiragem do país e circulava encartada em grandes jornais dos Estados, onde pontificavam Rubem Braga, Sebastião Nery, Joel Silveira, Nina Chavs, Mário Moraes, Nássara e tantos outros craques, eu já defendia a tese da morte das ideologias.
BEM-ESTAR SOCIAL – Admirador das teses de Karl Marx e Friedrich Engels, que abriram caminho às conquistas sociais que levaram ao Welfare State (Estado do Bem-Estar Social), eu já sabia ser impossível adotar as teorias marxistas, porque o capitalismo evoluíra e se adaptara a novas situações.
Ficara claro que o melhor rumo político a seguir, no Brasil e em qualquer outro país, era simplesmente tomar o caminho do meio, para fazer a coisa certa. Por isso, concordo plenamente com as novas posições do economista Armínio Fraga, que está se posicionando desta forma, ao advertir para a urgente necessidade de mudanças no capitalismo à brasileira, digamos assim.
Fraga, que não marxista nem petralha, precisa ser ouvido com atenção, porque tem apontado os equívocos da equipe econômica, num momento em que o governo não pode nem deve errar. Infelizmente, o ministro Paulo Guedes, que é seu amigo pessoal, não parece aberto ao diálogo.
PRIVILÉGIOS INACEITÁVEIS– “No Brasil há mecanismos que permitem a uma pessoa que ganha até R$ 4,8 milhões por ano, R$ 400 mil por mês, pagar apenas 5% [de imposto], é uma desfaçatez completa. Então a gente tem que acabar com isso. É difícil entrar em um debate mais profundo sobre política pública, política social, enquanto se convive com essas aberrações”, denuncia Fraga, mas sua voz se perde no vazio ideológico.
O ex-presidente do Banco Central aponta flagrantes erros dos governos Lula e Dilma, que deram isenções fiscais bilionárias aos empresários, na esperança de que eles usassem o dinheiro para abrir mais empregos. Quanta ingenuidade… Agora Guedes quer repetir o erro, ao lutar desesperadamente para eliminar a contribuição das empresas ao INSS (20% sobre o total da folha salarial), sob a mesma justificativa de que os empresários irão usar o dinheiro para abrir empregos, ao invés de comprar uma mansão em Orlando ou um apartamento em Paris…
É claro que os empresários não raciocinam dessa forma simplista idealizada por Lula, Dilma, Guedes e outros defensores do neoliberalismo extremado.
MARXISMO MITIGADO – Hoje, meu marxismo se limita a apoiar algumas poucas teses para o Brasil. Assim como recomenda Armínio Fraga,  eu apoio um Estado forte, até porque nenhum país do mundo se desenvolveu tendo um Estado fraco. Defendo também imposto de renda progressivo e a extinção das falsas pessoas jurídicas, que se tornaram uma praga no país, sonegando Imposto de Renda, INSS e FGTS.
Da mesma forma, acredito que todo banco deveria ser estatal e não visar ao lucro infinito, atuando normalmente sem cobrar juros estratosféricos e também sem tarifas para o cliente manter conta e usar cartões de crédito, como é costume nos bancos brasileiros.
Em respeito ao direito à vida, defendo a tese de que precisa ser garantido a todos os cidadãos um atendimento médico gratuito e de qualidade. E também defendo um ensino público de qualidade, como já existiu, oferecendo as mesmas oportunidades de ensino a todas as crianças. Lembro que o jogador Raí, quando foi atuar na França, ficou surpreso e encantado quando soube que a filha da empregada doméstica estudava na mesma escola de sua filha, as duas eram colegas.
MERITOCRACIA – Acredito, também, que toda família deveria ter direito a uma casa sólida, sem riscos de deslizamentos e enxurradas, com ajuda estatal em fases de desemprego. Apenas isso. Paro por aqui, defendendo que o resto fique a cargo de cada e que todos trabalhem duro, sendo remunerados em sistema de meritocracia. E por aí cessa o meu marxismo, em que não há censura à imprensa nem ditadura de proletariado ou de elite.
Por fim, confesso que tenhoa mais admiração por Engels do que por Marx. Enquanto Marx era da classe média baixa e vivia na maior dureza, Engels era de uma família rica, dona de uma das primeiras multinacionais do mundo, com fábricas na Alemanha e na Inglaterra. Em tradução simultânea, Engels foi um intelectual que soube resistir à riqueza e lutou pelos ascensão dos mais carentes, com atuação semelhante à de São Francisco de Assis, Mahatma Gandhi e Sidharta Gautama, três expoentes da Humanidade que nasceram ricos, mas não se deixaram contaminar pelo Deus Dinheiro.