segunda-feira, setembro 30, 2019

Senador gasta mais de meio milhão em recursos públicos com empresas de familiares e de ex-assessor


Coronel emitiu ordens de pagamento quando era deputado estadual 
João Pedro Pitombo
Folha
Presidente da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News no Congresso Nacional, o senador Angelo Coronel (PSD-BA) gastou R$ 566 mil em recursos públicos com empresas de Comunicação que pertencem a seus familiares e a um ex-assessor. Os gastos foram feitos entre 2015 e 2018, período em que o senador era deputado estadual na Bahia, com recursos da cota parlamentar. Ele nega que tenha usado a verba de forma irregular.
 
Em quatro anos, o gabinete de Angelo Coronel emitiu 11 ordens de pagamento no valor total de R$ 173 mil para a BS2 Marketing e Publicidade. A empresa pertence à Corel Brasil Holding, conglomerado que tem como presidente Angelo Mario de Azevedo Martins Filho, um dos filhos do senador.
 
COTA PARLAMENTAR – Em formato sociedade anônima, a Corel Brasil Holding, tem como acionista único a Jet International Trading, offshore com sede no Panamá e que tem o próprio Angelo Coronel como diretor-presidente. O grupo ainda detém outras empresas ligadas ao senador, caso da Jet Gold Serviços Aéreos, dona da aeronave na qual o senador costuma viajar entre Salvador e Brasília e é abastecida com recursos da cota parlamentar do Senado.
 
Além da BS2 Marketing e Publicidade, o então deputado Angelo Coronel gastou outros R$ 392 mil da verba da cota parlamentar com a XYZ Comunicação e Marketing. A empresa pertence a Marcelo Cerqueira dos Santos, que atuou assessor do Angelo Coronel na Assembleia Legislativa da Bahia. Ele também é diretor de quatro empresas controladas pelo Grupo Corel, que pertence à família do senador.
 
VOLUME DE RECURSOS – De acordo com registros da Receita Federal, a firma de Marcelo Cerqueira dos Santos funciona em um edifício comercial de Salvador, em uma sala vizinha ao lado da sede empresa Jet Gold Serviços Aéreos, que pertence à família do senador. Ali, até dezembro de 2018, também funcionava a Corel Brasil Holding. O volume de recursos despendidos em empresas da família e de assessores do senador pode ser maior.
A Folha pediu, por meio da Lei de Acesso à Informação, acesso aos dados de gastos do gabinete de Angelo Coronel entre 1995 e 2014, período em que ele cumpriu cinco mandatos consecutivos como deputado estadual. A Assembleia Legislativa da Bahia, contudo, informou que a documentação foi descartada pelo tempo ou destruída no incêndio que atingiu os arquivos da Diretoria Financeira da Casa.
CINZAS – O incêndio aconteceu em julho de 2018, período em que o próprio Angelo Coronel era presidente da Assembleia Legislativa. A perícia do Corpo de Bombeiros informou que o incidente foi causado por um curto-circuito. Em nota, o senador Angelo Coronel afirmou que as empresas prestaram serviços de divulgação de mandado parlamentar e destacou que esta “deve ser confiada a pessoas de estrita confiança por ser estratégica para o mandato”.
 
Sobre a contratação da BS2 Marketing e Publicidade, ele diz que a firma “era dirigida por Marcelo Cerqueira dos Santos, que não é membro da família”. Contudo, não cita que a empresa pertence à Corel Brasil Holding, que tem como presidente Angelo Coronel Filho e pertence à sua família. Em relação à da contratação da XYZ Comunicação e Marketing, o senador afirma que possui relação apenas comercial com a empresa, “que foi contratada legalmente”.
 
CONTRADIÇÕES–  O senador ainda diz que Marcelo Cerqueira dos Santos “não cuida dos negócios particulares do senador”. A afirmação contrasta com dados da Junta Comercial da Bahia que mostram que Santos é presidente ou diretor de quatro empresas que pertencem à Corel Brasil Holding, da família do senador.
 
Reportagens da Folha mostram que o senador tem um histórico empresarial controverso. Em junho de 2018, o jornal revelou que assessores de seu gabinete atuavam como funcionários de suas empresas e também comandavam organizações sociais que firmaram contratos com o poder público.
 
Em outubro, nova reportagem mostrou que o então candidato ao Senado contratou a Jet Gold Serviços Aéreos, empresa que pertence à sua família, para prestar serviços em sua campanha eleitoral. Nas duas ocasiões, Angelo Coronel negou irregularidades.