sexta-feira, fevereiro 08, 2019

Brasil tem saída, mas é preciso que os generais enquadrem o lobby dos banqueiros


Carlos Newton
Já comentamos diversas vezes, aqui na “Tribuna da Internet” a ardilosa manobra do mercado financeiro para manter o Brasil subjugado a seus interesses. Não é por mera coincidência que o maior problema do país – a dívida pública – jamais seja discutida pela equipe econômica do presidente Jair Bolsonaro ou pela mídia, que está em estado de falência e não pode enfrentar os interesses de seus principais anunciantes.
O Brasil tem sorte – apenas um banco estrangeiro entre os seis maiores.
an daLiderança é uma Arte” foi um best-seller que ficou na História. Na era moderna, porém, em que há macroempresas e megaorganizações, precisamos adaptar as ideias de Emerson, para concluir que os governos são reflexo do grupo que os dirigem. Hoje em dia, a função de primeiro-ministro ou presidente da República é mais representativa do que executiva, pois o ato de governar é delegado aos ministros e também ao segundo escalão, pelo menos, que é o responsável mais direto pelo ato de governar, que inclui licitar e gastar os recursos públicos, digamos assim.
No caso de Jair Bolsonaro, uma expressiva parte de seus eleitores votou nele na esperança de que trouxessem os militares de volta ao governo, porque eles se saíram bem. Entre 1950 e 1980, o Brasil foi o país que mais cresceu no mundo, com média de 7,4% ao ano. Chamou-se a isso de “milagre brasileiro”.
CUSTO DO DINHEIRO – E qual a diferença entre o Brasil daquela época, iniciada por Getúlio Vargas e seguida por Juscelino Kubitschek, e o Brasil de hoje? A meu ver, a diferença principal é o custo do dinheiro. Havia limitações e os bancos não podia cobrar juros compostos (os chamados juros sobre juros).
Não se sabe como isso aconteceu, mas durante o regime militar os bancos deram um jeito de passar a fixar taxas mensais, ao invés de anuais, e isso significa cobrar juros sobre juros, algo que não acontece na nossa Matriz, os Estados Unidos, mas se tornou a praxe aqui na Filial, ninguém sabe como os banqueiros conseguiram isso.
Na Constituinte, em 1988, houve a tentativa de evitar a excessiva exploração financeira, chegou a fixar os juros máximos de 12% ao ano: art. 192, parágrafo 3º – “As taxas de juros reais, nelas incluídas comissões e quaisquer outras remunerações direta ou indiretamente referidas à concessão de crédito, não poderão ser superiores a doze por cento ao ano; a cobrança acima deste limite será conceituada como crime de usura, punido, em todas as suas modalidades, nos termos que a lei determina”.
SUPREMO VETOU – Se a Constituição fosse obedecida, hoje o Brasil seria uma potência econômica. Mas o Supremo (sempre ele) considerou esse dispositivo letra morta e permitiu que os bancos cobrassem os juros que bem entendessem. E assim o Brasil se transformou em campeão mundial de juros bancários.
Se medo de errar, digo que o Supremo é o maior inimigo da pátria. Além de abrir o Brasil à exploração do capitalismo financeiro, o tribunal destruiu o teto salarial fixado pela, ao aprovar os penduricalhos. Acabou, também, com os planos de cargos e salários – hoje, um juiz iniciante começa ganhando quase o mesmo salário de um juiz com 30 anos de exercício. A meritocracia foi para o espaço.
E OS GENERAIS – A única esperança que os brasileiros podem ter é que os generais que assessoram Bolsonaro acordem para a realidade. Primeiro, raciocinando sobre a seguinte questão: “Se a dívida pública é o maior problema brasileiro, por que não é discutida, por que a equipe econômica jamais a menciona?”
Depois, podiam refletir sobre os juros compostos: “Se os EUA não adotam essa prática, porque o Brasil o faz?”. Por fim, complementando a análise econômica, que tal raciocinar sobre o BNDES? Afinal, a indústria brasileira somente se desenvolveu porque o BNDES cobrava aos empresários nacionais juros de país civilizado, através da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP).
De repente, o presidente do BNDES, Joaquim Levy, decide acabar com a TJLP. Por quê? Não há motivos, generais. Levy era diretor do Bradesco. É um antinacionalista igual a Paulo Guedes, seu objetivo é fortalecer os banqueiros, apenas isso.
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P.S. 1
 – Ainda há tempo. Bolsonaro é um idiota completo, não entende nada de economia, Guedes dá uma volta nele com a maior facilidade. Mas os generais são preparados. Fizeram curso de Estado Maior e a Escola Superior de Guerra, não podem sem decepcionar.
P.S. 2 – Se os generais bobearam, a equipe econômica lhes passará a perna e o Brasil continuará refém da dívida pública e dos interesses dos banqueiros. Pessoalmente, eu torço para que os generais acordem. Mas já tenho dúvidas se eles realmente querem defender os interesses nacionais.
P.S. 3 – Ao invés de tentarem tirar o corpo fora na reforma da Previdência, os militares deviam exigir uma auditoria externa. Como dizia Francisco Barroso, o Brasil espera que cada um cumpra sem dever. (C.N.)