Domingo, 30 de Dezembro de 2018 - 15:20
por Filipe Oliveira | Folhapress
Foto: Reprodução
A indústria de alimentos teme que novas regras para a disposição de informações nutricionais em análise pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) tragam prejuízos ao setor.
Em relatório preliminar de maio, a agência indicou preferência por um modelo a partir do uso de alertas na parte da frente dos rótulos dos alimentos que contenham sódio, açúcar ou gorduras em excesso, de modo análogo ao aviso sobre riscos usado em cigarros.
Segundo a agência, esse tipo de informação foi o que apresentou melhor captura de atenção e compreensão nos estudos analisados por ela.
O modelo apresentou bons resultados para auxiliar consumidores a identificar itens que costumam ser vistos como saudáveis, mas que possuem versões com alto teor de nutrientes negativos.
Inspirado em regulamentação adotada no Chile em 2016, esse modelo é defendido no Brasil pela Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável, articulada pelo Idec (Instituto de Defesa do Consumidor) com associações de nutricionistas e ONGs.
João Dornellas, presidente-executivo da Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentação), diz concordar que, do modo como as informações são dispostas hoje, em uma lista com a quantidade de cada nutriente do produto em letras miúdas, elas só são entendidas por uma parcela pequena da população.
Por outro lado, afirma que as advertências propostas não oferecem a melhor informação possível e criam mais alarme do que o necessário.
"Se você coloca um alarme, vai causar pânico. Se estiver escrito que um produto tem teor alto de sódio, provavelmente não compra."
A associação defende que sejam aplicados em todos os alimentos semáforos que indicam a quantidade de açúcar, gordura e sal e que podem estar nas cores verde (quantidade baixa), amarelo (média) e vermelho (alta).
Além deles, Dornellas propõe que seja disponibilizada a informação de qual o percentual da quantia diária do nutriente que deve ser consumida presente em uma porção do alimento.
"Se, em vez de um alerta para não consumir, por ter muito sódio, recebo a informação de que a porção do alimento tem 16% da quantidade que posso consumir no dia, já posso fazer uma proposta de alimentação incluindo ele de acordo com meu estilo de vida", diz.
Ana Paula Bortoletto, nutricionista e líder do programa de Alimentação do Idec, diz que, assim como a indústria já ressalta características positivas de produtos (com informações do tipo zero açúcar, integral ou fit), é importante que o consumidor seja alertado claramente sobre características negativas de alimentos.
Segundo ela, os alertas são melhores que os três semáforos porque, em sua avaliação, quando há informações positivas e negativas na mesma embalagem (um semáforo vermelho ao lado de dois verdes, por exemplo), a escolha entre consumir ou não fica mais difícil.
"Quando comparamos o nível de entendimento do consumidor sobre a informação, a advertência aumenta o percentual de respostas corretas sobre o que contém o alimento."
Citando o exemplo chileno, Bortoletto afirma que, mesmo que a venda de alguns produtos caia, a indústria é capaz de se adaptar e lançar alternativas mais saudáveis para compensar essa perda.
Resultados preliminares de estudo da Universidade do Chile, em parceria com a Universidade Diego Portales e a Universidade da Carolina do Norte (EUA), apontaram queda de 25% no consumo de bebidas açucaradas e 14% na compra de cereais matinais em período de 6 a 10 meses após a nova regulamentação.
Por outro lado, o consumo de chocolates e bolachas se manteve estável. Houve redução no uso de sódio e açúcar em alimentos industrializados consumidos no país. Em derivados de leites e cereais matinais, a redução de açúcar chegou a 35% e em queijos e embutidos o sódio caiu até 10%.
Segundo a pesquisa, 90% dos adolescentes e das mães de crianças afirmam valorizar e entender as advertências. Outro debate trata do critério para analisar se o alimento traz muito ou pouco do nutriente que deve ser consumido com moderação.
A Abia propõe que, para cada tipo de alimento, seja considerada uma porção diferente, dependendo da quantidade usualmente consumida.
Já o Idec leva em conta a quantidade de cada nutriente na composição calórica do alimento, enquanto a Abran (Associação Brasileira de Nutrologia), que apresentou uma proposta alternativa baseada em escala de cores dependendo da qualidade nutricional do produto, prefere que seja analisada a presença do nutriente a cada 100 gramas.
"Você compra um tablete de manteiga e são 200 gramas. Ninguém come um pão com 100 gramas de manteiga. A porção próxima do consumo seriam 10 gramas. Se o consumidor tiver a informação sobre quantidade de sódio em 100 gramas, terá de fazer contas", diz Ornellas.
Em oposição, o médico Durval Ribas Filho, presidente da Abran, afirma que o uso da medida de 100 gramas dá objetividade à avaliação dos alimentos.
"O que é uma porção de nozes? É um punhadinho? Usar 100 gramas é uma maneira de avaliar cientificamente", diz.
Antonio Bernardo, presidente para o Brasil da consultoria Roland Berger, que produziu relatório sobre o debate da rotulagem dos alimentos, diz acreditar que o semáforo proposto pela indústria é o modelo de mais fácil compreensão e, por isso, adequado ao Brasil.
A consultoria afirma que, no Chile, os alertas levaram a redução de vendas no primeiros cinco meses de sua implantação. Porém o relatório afirma não ser possível saber se a queda foi causada por maior conscientização da população ou pela restrição da venda desses produtos em determinados locais, especialmente escolas.
Em sua avaliação, para o controle da obesidade e de doenças relacionadas a ela, a disponibilização de mais informações é apenas uma parte da solução.
Outras medidas que poderiam ser adotadas são o incentivo ao uso de embalagens menores no caso de produtos que devem ser consumidos com moderação e a criação de grupos de trabalho envolvendo indústria, governo e consumidores para o incentivo a ações educacionais e ao desenvolvimento de alimentos mais saudáveis.
É esperado que a Anvisa avalie as contribuições recebidas e submeta uma proposta de regulamentação para consulta pública no início de 2019.
No Brasil, a proporção de homens com excesso de peso passou de 18,5% em 1974 para 57,3% em 2013. Nas mulheres, foi de 28,7% para 59,8% no mesmo período.
Em relatório preliminar de maio, a agência indicou preferência por um modelo a partir do uso de alertas na parte da frente dos rótulos dos alimentos que contenham sódio, açúcar ou gorduras em excesso, de modo análogo ao aviso sobre riscos usado em cigarros.
Segundo a agência, esse tipo de informação foi o que apresentou melhor captura de atenção e compreensão nos estudos analisados por ela.
O modelo apresentou bons resultados para auxiliar consumidores a identificar itens que costumam ser vistos como saudáveis, mas que possuem versões com alto teor de nutrientes negativos.
Inspirado em regulamentação adotada no Chile em 2016, esse modelo é defendido no Brasil pela Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável, articulada pelo Idec (Instituto de Defesa do Consumidor) com associações de nutricionistas e ONGs.
João Dornellas, presidente-executivo da Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentação), diz concordar que, do modo como as informações são dispostas hoje, em uma lista com a quantidade de cada nutriente do produto em letras miúdas, elas só são entendidas por uma parcela pequena da população.
Por outro lado, afirma que as advertências propostas não oferecem a melhor informação possível e criam mais alarme do que o necessário.
"Se você coloca um alarme, vai causar pânico. Se estiver escrito que um produto tem teor alto de sódio, provavelmente não compra."
A associação defende que sejam aplicados em todos os alimentos semáforos que indicam a quantidade de açúcar, gordura e sal e que podem estar nas cores verde (quantidade baixa), amarelo (média) e vermelho (alta).
Além deles, Dornellas propõe que seja disponibilizada a informação de qual o percentual da quantia diária do nutriente que deve ser consumida presente em uma porção do alimento.
"Se, em vez de um alerta para não consumir, por ter muito sódio, recebo a informação de que a porção do alimento tem 16% da quantidade que posso consumir no dia, já posso fazer uma proposta de alimentação incluindo ele de acordo com meu estilo de vida", diz.
Ana Paula Bortoletto, nutricionista e líder do programa de Alimentação do Idec, diz que, assim como a indústria já ressalta características positivas de produtos (com informações do tipo zero açúcar, integral ou fit), é importante que o consumidor seja alertado claramente sobre características negativas de alimentos.
Segundo ela, os alertas são melhores que os três semáforos porque, em sua avaliação, quando há informações positivas e negativas na mesma embalagem (um semáforo vermelho ao lado de dois verdes, por exemplo), a escolha entre consumir ou não fica mais difícil.
"Quando comparamos o nível de entendimento do consumidor sobre a informação, a advertência aumenta o percentual de respostas corretas sobre o que contém o alimento."
Citando o exemplo chileno, Bortoletto afirma que, mesmo que a venda de alguns produtos caia, a indústria é capaz de se adaptar e lançar alternativas mais saudáveis para compensar essa perda.
Resultados preliminares de estudo da Universidade do Chile, em parceria com a Universidade Diego Portales e a Universidade da Carolina do Norte (EUA), apontaram queda de 25% no consumo de bebidas açucaradas e 14% na compra de cereais matinais em período de 6 a 10 meses após a nova regulamentação.
Por outro lado, o consumo de chocolates e bolachas se manteve estável. Houve redução no uso de sódio e açúcar em alimentos industrializados consumidos no país. Em derivados de leites e cereais matinais, a redução de açúcar chegou a 35% e em queijos e embutidos o sódio caiu até 10%.
Segundo a pesquisa, 90% dos adolescentes e das mães de crianças afirmam valorizar e entender as advertências. Outro debate trata do critério para analisar se o alimento traz muito ou pouco do nutriente que deve ser consumido com moderação.
A Abia propõe que, para cada tipo de alimento, seja considerada uma porção diferente, dependendo da quantidade usualmente consumida.
Já o Idec leva em conta a quantidade de cada nutriente na composição calórica do alimento, enquanto a Abran (Associação Brasileira de Nutrologia), que apresentou uma proposta alternativa baseada em escala de cores dependendo da qualidade nutricional do produto, prefere que seja analisada a presença do nutriente a cada 100 gramas.
"Você compra um tablete de manteiga e são 200 gramas. Ninguém come um pão com 100 gramas de manteiga. A porção próxima do consumo seriam 10 gramas. Se o consumidor tiver a informação sobre quantidade de sódio em 100 gramas, terá de fazer contas", diz Ornellas.
Em oposição, o médico Durval Ribas Filho, presidente da Abran, afirma que o uso da medida de 100 gramas dá objetividade à avaliação dos alimentos.
"O que é uma porção de nozes? É um punhadinho? Usar 100 gramas é uma maneira de avaliar cientificamente", diz.
Antonio Bernardo, presidente para o Brasil da consultoria Roland Berger, que produziu relatório sobre o debate da rotulagem dos alimentos, diz acreditar que o semáforo proposto pela indústria é o modelo de mais fácil compreensão e, por isso, adequado ao Brasil.
A consultoria afirma que, no Chile, os alertas levaram a redução de vendas no primeiros cinco meses de sua implantação. Porém o relatório afirma não ser possível saber se a queda foi causada por maior conscientização da população ou pela restrição da venda desses produtos em determinados locais, especialmente escolas.
Em sua avaliação, para o controle da obesidade e de doenças relacionadas a ela, a disponibilização de mais informações é apenas uma parte da solução.
Outras medidas que poderiam ser adotadas são o incentivo ao uso de embalagens menores no caso de produtos que devem ser consumidos com moderação e a criação de grupos de trabalho envolvendo indústria, governo e consumidores para o incentivo a ações educacionais e ao desenvolvimento de alimentos mais saudáveis.
É esperado que a Anvisa avalie as contribuições recebidas e submeta uma proposta de regulamentação para consulta pública no início de 2019.
No Brasil, a proporção de homens com excesso de peso passou de 18,5% em 1974 para 57,3% em 2013. Nas mulheres, foi de 28,7% para 59,8% no mesmo período.
Bahia Notícias