Carlos Newton
Primeiro, o atentado a faca, em plena campanha, com a hemorragia que não cessava, a gravidade da cirurgia, a quase morte. Depois, a recaída, outra cirurgia perigosa num corpo já enfraquecido. Enfim, a lenta recuperação já na fase final do segundo turno, com as orações repetidas e a inabalável fé em Deus. Parece um enredo de ficção, mas é tudo verdade, diria Orson Welles, ao comentar este calvário na vida de um homem chamado Jair Messias Bolsonaro.
Na semana passada, ele chamou o alfaiate para fazer o terno da posse – azul marinho, com camisa branca e uma gravata surpresa, que pode até ser em tons discretos e verde e amarela, cairia bem.
PREPARAÇÃO INTERNA – É claro que o presidente eleito precisa se preparar para a posse, decidir se vai usar o carro aberto ou o blindado, que parece mais adaptado à situação atual. Mas a preparação externa é uma bobagem, o importante mesmo é a preparação interna, para o exercício do governo de um dos mais importantes países do mundo – quinto em extensão territorial/população, uma das dez maiores economias do mundo e que atravessa uma crise assustadora, devoradora e arrasadora.
O fato concreto é que Bolsonaro dá sinais de que precisa de preparação interna, pessoal e intransferível, porque todo esse imbróglio eleitoral e a quase morte fizeram exacerbar sua religiosidade, a ponto de promover uma oração pela TV, em transmissão direta, para comemorar a eleição na noite do domingo 28.
Nunca se viu nada igual. Depois o presidente, ao apresentar seu programa de governo, o texto vem encabeçado pela citação bíblica do versículo 32 do capítulo do Evangelho de João: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.
TEMENTE A DEUS – Tudo bem que o novo presidente seja religioso, temente a Deus. Isso é ótimo, claro. Teoricamente, significa que não vai roubar, matar ou torturar comunistas. Eu posso dormir tranquilo.
Pessoalmente, sou religioso, igual ao Luiz Vieira e também ando com Jesus Cristo no meu coração. Mas sou ecumênico, respeito e admiro todas as religiões, como o Espiritismo, o Judaísmo, o Budismo, as Religiões Africanas, o Protestantismo etc. Já fui assinante das revistas dos Testemunhas de Jeová, frequentei a Igreja Messiânica e até os Mantos Amarelos. Mas não aceito o desvirtuamento religioso que ocorre com o islamismo, por exemplo. Não, não estou louco, o Papa Francisco também gosta das outras religiões, que Deus o abençoe sua caminhada rumo ao ecumenismo.
Quando começou essa onda pentecostal, fiquei pensando que seria de grande ajuda para diminuir a criminalidade, mas estava enganado, porque nas favelas a força do Deus Dinheiro fala muito mais alto.
ESTADO LAICO – Eu não sou nada, minha vida não interessa, sou apenas um sujeito meio estranho, cheio de curiosidade e que hoje se interessa pelas novas mensagens de Cristo, através de Irmã Faustina, a nos pedir que sejamos mais misericordiosos.
Mas a vida de Jair Messias Bolzonaro interessa a todos, porque é o presidente eleito, que promete cumprir a Constituição, cujo texto determina que o Estado seja laico. É uma imposição, não dá para ficar distraído e dizer que não sabia de nada.
Por isso, insisto que Bolsonaro necessita de apoio psicológico para ser presidente. É preciso que ele tenha exata compreensão de que é o presidente de todos os brasileiros. Tem de entender que Deus e os médicos o salvaram para que ele salve a todos nós, inclusive os palestinos e ciganos que adoram viver neste imenso país que abre os braços para todos, feito o Cristo Redentor.