Carlos Chagas
Tem outro nome? Não. É chantagem, mesmo, o que as bancadas do PMDB e do PT na Câmara fizeram com a presidente Dilma Rousseff. Ela afirmou que não voltaria atrás na decisão de não prorrogar o prazo para o fim da validade do pagamento das emendas individuais ao orçamento, referentes ao ano de 2009. Na noite de quarta-feira, porém, mandou a ministra Ideli Salvatti telefonar para os líderes dos partidos, anunciando a prorrogação por mais três meses. Desta vez, impreterivelmente.
Será? E se a chantagem continuar, ou seja, se em outubro os partidos da base oficial ameaçarem outra vez não votar ou votar contra os projetos de interesse do palácio do Planalto, Dilma cederá?
Raras vezes se tem assistido no Congresso espetáculo tão explícito de chantagem. Porque os deputados, talvez também os senadores, atuam à maneira de Al Capone. Vendem proteção legislativa.
A pergunta que se faz é se terá valido à pena esse recuo da presidente da República. Dona Dilma poderia e até deveria ter engrossado, quem sabe desde o seu primeiro dia de governo. Dispor de uma base de apoio assim, para que? Passados seis meses, nenhuma contribuição dos partidos governistas chegou ao palácio do Planalto. Só exigências, melhor dizendo, ameaças. Por mais estranho que pareça, muita gente começa a ter saudades do general Ernesto Geisel.
Desse episódio grotesco sobra uma indagação: como terá a ministra Ideli Salvatti aconselhado a presidente da República? Afinal, a coordenação política passou a encargo dela, conhecida nos tempos de senadora como inflexível e sempre pronta para embates e tertúlias. Teria verificado a impossibilidade de resistência diante do fisiologismo? Como desenvolverá, daqui por diante, suas relações institucionais?
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ME ENGANA QUE EU GOSTO
Nessa escabrosa novela da fusão entre o Pão de Açúcar e o Carrefour o que mais chama a atenção é a desfaçatez dos dirigentes dos dois supermercados quando garantem que não haverá demissões. Não haverá como manter as operações praticadas por duas empresas se elas viram uma só. Pior fica quando se atenta para a evidência de que as demissões estarão sendo financiadas com dinheiro do BNDES, isto é, dinheiro público.
Há quem deposite esperanças num veto do CADE, Conselho de Direito Econômico, mas muito melhor seria se desde já o governo retirasse o apoio de seu banco, explicando tratar-se a fusão de um assunto pertinente a duas empresas privadas. Elas que busquem recursos nos bancos particulares.
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ATÉ NA INGLATERRA
Só faltava mesmo a Inglaterra. Ontem a ilha parou. Todo mundo fez greve, protestado por 24 horas contra a mais recente maldade do neoliberalismo. O governo inglês vai aumentar de 60 para 66 anos a idade mínima para aposentadorias. E ainda cobrará mais 3% na contribuição de quem pensa em, um dia, aposentar-se.
Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha, França e agora a Inglaterra encenam o espetáculo do inconformismo popular diante da malandragem das elites. Porque se as contas não fecham, se a crise ameaça suas economias, a solução seria buscar recursos onde eles existem, quer dizer, no lucro dos bancos, na taxação das especulações financeiras e na renda dos que vivem sem trabalhar. Jamais às custas do trabalhador.
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OS EX-PRESIDENTES
O Senado continua debatendo a reforma política, primeiro na Comissão de Constituição e Justiça, depois no plenário. O singular é que não apareceu, até agora, nenhuma sugestão relativa aos ex-presidentes da República, sequer aquela que daria a eles uma cadeira vitalícia no Senado, mesmo sem direito a voto. A razão é simples.
Três já são senadores, eleitos pelo voto popular: José Sarney, Fernando Collor e Itamar Franco. Dos outros dois, um prepara-se para voltar ao palácio do Planalto, o Lula. O outro, Fernando Henrique, seria o único beneficiado com a proposta. Pelo jeito, nem a bancada tucana pensa nele…
Fonte: Tribuna da Imprensa