Carlos Chagas
Dessa vez o sociólogo quebrou a cara. Não encontrou um tucano, sequer, que concordasse com sua proposta elitista para o PSDB, de dedicar-se à classe média, esquecendo o povão. Muito menos os aliados do DEM e do PPS admitiram a distorção. Alguns com jeito, como Aécio Neves, opinaram que Fernando Henrique foi mal interpretado. Outros, como José Serra, exigiram mais clareza e coerência por parte do companheiro. ACM Neto quer as oposições na rua, dialogando com as camadas menos favorecidas, e José Agripino Maia simplesmente discordou e desautorizou o ex-presidente. Roberto Freire foi adiante e afirmou que não contem com os ex-comunistas para excluir as massas.
FHC insistiu no equívoco, durante palestra realizada no interior do Paraná. Rendeu-se ao PT, na medida em que os companheiros dominam a área sindical e dispõem do apoio da população carente. Insistiu em que o PSDB deve voltar-se para camadas pouco representadas no universo político, como a classe média.
A conclusão surge óbvia: durante os oito anos de seu reinado, o governo esqueceu o andar de baixo, perdendo um tempo precioso que o Lula recuperou em seus dois mandatos. Não será repetindo os erros do passado que os tucanos chegarão ao poder. Nem em 2014 nem depois, se ainda tiverem asas para voar. Felizmente para eles, só um parece sem plumas, penas e bicos.
PROPOSTA DESNECESSÁRIA
Um animal, a tiros de revólver, assassinou doze crianças numa escola, no Rio. Por conta disso, deve-se proibir a posse de armas de fogo? Fosse assim e os automóveis deveriam ser banidos da civilização. Ou ainda há pouco um tarado não investiu e atropelou dezenas de ciclistas, em Porto Alegre?
Sugere o senador José Sarney, através de projeto de lei, a realização de um novo plebiscito para saber se o cidadão comum apóia a proibição. Essa manifestação já aconteceu, anos atrás, e a resposta da sociedade foi clara, pelo direito de dispor de revólveres ou espingardas, em casa. Até porque, sabia-se de antemão, os bandidos ignoraram o primeiro plebiscito e continuaram utilizando suas armas.
Nos tempos de Vitorino Freire e mesmo depois, quando da dissidência da Frente Liberal, Sarney botou o revólver na cintura e saiu de casa disposto a matar ou morrer, como está registrado em sua biografia autorizada. Aceitaria ser humilhado, se um plebiscito tivesse estabelecido a proibição, décadas atrás?
PRIMEIRO-MINISTRO AD-HOC
Nesta semana de permanência da presidente Dilma Rousseff na China, o vice Michel Temer programou algumas atividades, inclusive homenageando, no Rio, o sargento que enfrentou o assassino das doze crianças na escola do Realengo. Visitou uma feira de armas, reuniu-se com dirigentes do PMDB, mas não ocupou o gabinete presidencial, no terceiro andar do palácio do Planalto. Também não determinou qualquer diretriz aos ministros. Apenas cumpriu o protocolo.
Por conta disso a administração parou? Nem por sombra. O governo continuou funcionando pelas mãos do chefe da Casa Civil, Antônio Palocci. Faltasse alguma evidência dele ser o primeiro-ministro de fato e a viagem de Dilma ao exterior comprovaria o óbvio.
COMO RECUPERAR DÉCADAS DE ATRASO
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, não arrefece em sua determinação de ver as forças armadas melhor aparelhadas e em condições de cumprir suas missões. Sabe muito bem que as deficiências de equipamento devem-se à falta de recursos e aos contingenciamentos orçamentários, como não ignora que tudo depende da presidente Dilma e da equipe econômica. Luta o quanto pode e não pode, como no caso do adiamento da compra dos aviões de caça.
Esta semana referiu-se às décadas de atraso na aquisição de material bélico e de apoio para Exército, Marinha e Aeronáutica, mas como ficaria constrangedor criticar o próprio governo a que pertence, optou pela fórmula clássica de todas as reclamações, batendo no Congresso. Disse que só uma nova legislação garantirá orçamentos estáveis, capazes de assegurar a renovação do equipamento militar. O problema é que o orçamento votado pelo Congresso, por mais pródigo que seja, estará sempre à mercê da tesoura do Executivo. Infelizmente, é assim mesmo: em casa onde não há pão, todos brigam e ninguém tem razão…
Fonte: Tribuna da Imprensa