quinta-feira, março 24, 2011

Ficha Limpa: Marinor protesta contra decisão do STF

Fábio Góis

O julgamento sobre a validade da Ficha Limpa (leia tudo sobre a Lei Complementar 135/10) no Supremo Tribunal Federal, nesta quarta-feira (23), ainda nem havia acabado e a senadora Marinor Britto (Psol-PA) já fazia seu discurso de despedida no Plenário do Senado. Graças ao entendimento do ministro recém empossado Luiz Fux, que votou contra a aplicação da lei para as eleições de 2010, Jader Barbalho (PMDB) ganha o direito a uma cadeira no Senado na vaga de Marinor, quarta colocada no pleito do ano passado.

Jader foi eleito em segundo lugar no Pará, mas havia sido barrado pela lei – ele já foi condenado e ainda responde a diversos processos no STF.

Leia mais sobre o senador: Jader: o rei do ‘Valle de los Caídos’

O terceiro colocado, Paulo Rocha (PT), também foi barrado pela lei. Mas, como são três senadores por estado, o petista não conseguiu um lugar no Senado, uma vez que Flexa Ribeiro (PSDB) foi reeleito na condição de mais votado e Mário Couto (PSDB) ainda tem mais quatro anos de mandato.

Marinor Brito: "O Pará também está de ficha limpa"

Antes de Fux chegar ao Supremo para completar a composição da corte – que estava incompleta desde agosto de 2010, com a saída de Eros Grau –, o placar sobre a interpretação da lei estava empatado em cinco votos. Acreditava-se que Fux – que defendeu a lisura na política durante sabatina na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, em fevereiro – desempatasse o julgamento em favor da lei. Com o desfecho no STF, Marinor disse que o ministro contradiz o posicionamento emanado no colegiado. E que a decisão da corte é contra o povo brasileiro.

“Eu lamento a posição do ministro Fux. Ele se contradisse, porque aqui [no Senado], na hora de ser sabatinado e aprovado pelos senadores, ele disse que a Justiça brasileira não pode ficar de costas para a intencionalidade da lei. Mas ele virou as costas para a intencionalidade da lei que precisava ter sido validada na eleição de 2010, porque a corrupção não começou hoje, tem história, e nós precisamos freá-la. Não podemos esperar para freá-la depois de amanhã”, bradou Marinor à porta do Plenário do Senado, logo depois do emocionado discurso na tribuna, quando disse que as “raposas” e os “corruptos” voltariam à Casa. “É uma frustração para quem acredita na democracia.”

Questionada sobre a volta de Jader ao poder, mesmo com o histórico negativo do peemedebista no Judiciário, Marinor soltou um riso de desalento antes de responder. “Olha, é difícil responder isso por mim. Eu respondo pelo povo do Pará, que não aguenta mais esse controle das elites, as oligarquias dominando as estruturas do estado, matando o povo do estado do Pará de fome”, exaltou-se.

Ofegante

Em um dos púlpitos do Senado, Marinor proferiu palavras fortes contra a queda da ficha limpa. Dedos em riste, voz em alto volume, a senadora alternava brados de protesto com declarações emotivas e olhos lacrimejantes, enquanto cerca de dez senadores se revezavam em apartes de solidariedade. Ao final do discurso, um a um foi abraçá-la, entre eles Cristovam Buarque (PDT-DF), João Pedro (PT-AM) e Wellington Dias (PT-PI).

“A Lei da Ficha Limpa é para barrar corruptos, desonestos, para barrar os que historicamente têm deixado o povo no abandono, para barrar politicamente os que têm representado a fome, a miséria, a prostituição infanto-juvenil, os que têm respondido pelo trabalho escravo”, discursou Marinor, com o microfone da tribuna a captá-la ofegante, quando a palavra era passada a algum colega.

Três deputados do Psol correram da Câmara para prestar amparo moral à senadora em plenário, e acomodaram-se nas cadeiras azuis reservadas aos senadores: o líder do partido naquela Casa, Chico Alencar (RJ), Ivan Valente (SP) e Jean Willis (RJ). Ou seja, toda a bancada da legenda na Câmara nesta legislatura. Mas, até por imposição do regimento interno do Senado, eles resolveram não discursar ou pedir apartes.

“Nós queremos ver fortalecida a democracia direta neste país, queremos ter um Judiciário transparente, queremos ver – e talvez vejamos agora, meu companheiro Jean – varridos da política brasileira – os corruptos como Jader Barbalho. Queremos ver varridos da política brasileira os Roriz da vida, os Malufs da vida e muitos outros que contribuíram para matar o sonho de milhares e milhares de crianças alguns anos atrás”, vociferou a senadora, antes de sair para falar com a imprensa, quando disse que o processo de limpeza na política está apenas no início com a Ficha Limpa.

Fonte: Congressoemfoco