quinta-feira, dezembro 02, 2010

Litoral norte: fuja da rota de fuga

RODRIGO LAGO

Quem segue de Salvador para o Litoral Norte são aproximadamente dez quilômetros de desvio (rota de fuga do pedágio), com início à direita, logo após o Empório Mineiro. A pista é de mão dupla, sem sinalização. O cenário é ameaçador. O breu ocasionado por uma iluminação precária é vencido com os faróis do carro, que passa por trechos esburacados, terrenos baldios, areais e ladeiras íngremes sem visualização.

Panorama perfeito para a ação de marginais. As casas ao redor, em sua maioria vazias (pois são mais usadas para veraneio), são protegidas com cerca elétrica e cães ferozes, consequência do perigo latente do lugar. O alívio só aparece na chegada à Jauá, fim da rota e saída para o quilômetro 16 da Estrada do Coco (BA-099).

À volta do litoral para Salvador, tem cerca de quatro quilômetros e é tão intimidante quanto à ida. A iluminação também é ruim. São mais de cinco quebra-molas na passagem, em alguns trechos encurralados com os muros de algumas casas, em outros com matagais.

Assemelha-se a um corredor polonês, que, para quem não sabe, é o nome popular dado a uma passagem estreita formada por duas fileiras de pessoas alinhadas lado a lado, que tem como objetivo maltratar seja com pancadas ou com o uso de porretes ou arma branca, quem é forçado cruzar a passagem.

A única diferença da analogia, no entanto, é que ninguém é forçado a cruzar nenhum dos dois trechos. Corre perigo apenas quem prefere economizar a tarifa do pedágio, R$ 6,90 aos sábados, domingos e feriados e R$ 4,60 nos dias úteis, cobrada pela Concessionária Litoral Norte (CLN), empresa que administra a rodovia e vai continuar a fazê-la pelos próximos 25 anos.

Os usuários e moradores da Estrada do Coco, que utilizam a opção do desvio muitas vezes pagam por um preço ainda mais caro, até com a vida. Na rota em direção a capital baiana, o motorista ainda é obrigado a fazer uma manobra extremamente perigosa, que é a travessia, em perpendicular, da Via Cascalheira (onde foi morto recentemente por bandidos o delegado Clayton Leão), onde os carros passam a mais de 100 quilômetros por hora.

“É um perigo, quase todos os dias tem acidente e já morreu muita gente. Os carros têm que sair em primeira marcha e cruzar a pista de alta velocidade, sem visualização de quem vai em direção a Camaçari, uma roleta russa. Já presenciei muitas tragédias e sempre ajudo a socorrer os ocupantes dos veículos que ficam presos nas ferragens”, disse o músico Rene Serravale, que há mais de vinte anos reside próximo ao local da manobra, na Cascalheira.

Ainda segundo ele, os assaltos são constantes. “Tem uns caras que ficam passando de moto, roubam e estupram mulheres numa casa abandonada aqui perto”, garantiu.

“Passo apenas durante o dia, que é mais seguro, mas a noite nunca. É perigoso e os bandidos dessa região são cruéis. Eu nunca fui assaltado, pois sempre me preveni”, explicou o morador de Jauá Clarisson Silva.

Já a dona de casa Ana Patrícia Leitte que vende cocadas no desvio em direção a Salvador, diz que não sabe de assalto algum. “Nunca ouvi dizer”, afirmou. No entanto, início do mês passado, de acordo com informações da 26ª CP (Abrantes), dois bandidos assaltaram e sequestraram ocupantes de um veículo Corsa na Via Alternativa do pedágio em Jauá. Uma das vítimas teve a orelha quase decepada pelo bandido e a outras três costelas quebradas.

Em depoimento, o motorista do veiculo disse que transitava no sentido Salvador quando reduziu a velocidade em um quebra-mola e foi surpreendido pelos meliantes com armas em punho que saíram de traz de um muro. Sob ameaças e agressões, um dos elementos tomou a direção do carro e colocou o motorista no porta-malas e o carona no banco traseiro. Os marginais fugiram após subtraírem R$ 547,00, celulares e o próprio veículo.

Trabalho ostensivo com rondas

De acordo com a delegada titular da 26ª DP (Abrantes), Jamila Cidade, no mês de novembro deste ano foram registradas cinco ocorrências na delegacia, sendo uma relacionada a roubo de transeunte e quatro roubo de veículos (uma moto e três veículos quatro rodas).

No entanto, ela concorda que o número real possa ser maior, já que muitas pessoas não prestam queixa na 26ª DP. O número registrado, ainda de acordo com a delegada, não é tão expressivo, mas ela confirma que já foi bem maior nos meses anteriores, sem revelar quanto.

“Identificamos e prendemos recentemente uma quadrilha composta de menores que agia nessas localidades, mas como são menores, logo são libertados e voltam a cometer os mesmos delitos. Se não houver um trabalho de policiamento ostensivo, os crimes voltam a ocorrer”, disse, apontando responsabilidade do policiamento nessas localidades, feito pela 59ª CIPM – Companhia Independente da Policia Militar.

Segundo o capitão Brito, da 59ª CIPM, o trabalho ostensivo é realizado apenas com rondas. “A viatura com dois policiais passa por esses locais de duas a três vezes por dia. É insuficiente, mas é com esse efetivo que podemos contar”, disse.

Fonte: Tribuna da Bahia