"Esses partidos disputam eleições apenas para divulgar as suas posições doutrinárias entre o maior número possível de pessoas. Seus candidatos jamais chegam a ter a ilusão de possuir chances razoáveis de serem eleitos para qualquer cargo que seja"
Uma das características mais intrigantes desta eleição presidencial é a abundância de candidatos ao Palácio do Planalto lançados pelos micro-partidos de extrema esquerda. Esses presidenciáveis estão condenados a ter um desempenho pífio nas urnas. E os seus partidos também continuarão sendo nanicos.
Nunca houve nada parecido nas campanhas presidenciais dos últimos vinte anos. Em 2010, todos os partidos nanicos da esquerda radical lançaram candidatos próprios à presidência. O Psol apresentou a candidatura de Plínio de Arruda Sampaio. O PSTU e o PCO lançaram as candidaturas de José Maria de Almeida e Rui Costa Pimenta, respectivamente. Finalmente, o PCB apresentou a candidatura de Ivan Pinheiro.
Essas siglas partidárias (com exceção do PCB) se originaram de facções ultra-esquerdistas anteriormente abrigadas no PT. E alguns desses candidatos até já participaram de outras eleições presidenciais. É a terceira vez em que o mesmo candidato do PSTU concorre ao Planalto. Idem no caso do candidato do PCO, exceto pelo fato de que seu nome foi impugnado pelo TSE na eleição de 2006.
Com a exceção (talvez provisória) do Psol, essas siglas não possuem representantes no Congresso Nacional ou sequer nas Assembléias Legislativas estaduais. Nas mais recentes pesquisas de intenção de voto feitas pelo Ibope e pelo Datafolha, todos os quatro candidatos da esquerda radical registraram "traço" nas perguntas espontânea e estimulada - mesmo após aparecerem diariamente há algumas semanas na propaganda eleitoral gratuita. Parece improvável que seus votos somados superem 1% ou 2% dos votos válidos nas eleições de outubro.
A virtual irrelevância eleitoral não é a única característica em comum desses candidatos e de seus partidos. Todos eles se apresentam com propostas e discursos (declarados ou escritos) muito semelhantes. No "front" econômico, rejeitam a economia de mercado (o "capitalismo") e pregam a estatização da propriedade privada (o "socialismo). No "front" político, rejeitam a democracia representativa e defendem a adoção de regimes ditatoriais. Não surpreende que sejam mesmo ignorados pela quase totalidade dos eleitores.
A literatura de ciência política costuma designar essas organizações como "partidos anti-sistema". Eles disputam eleições apenas para divulgar as suas posições doutrinárias entre o maior número possível de pessoas. Seus candidatos jamais chegam a ter a ilusão de possuir chances razoáveis de serem eleitos para qualquer cargo que seja. A oposição que fazem não é ao governo de plantão, mas aos regimes político e econômico em si mesmos. Por essa mesma razão, sequer se coligam eleitoralmente aos partidos convencionais.
Na verdade, o maior obstáculo ao crescimento desses partidos é o fato de que o espaço eleitoral da esquerda já está ocupado pelo PT e pelos seus aliados históricos (PSB, PC do B e PDT). No governo Lula, esses partidos lograram fazer um movimento em direção ao centro sem perder o controle sobre os segmentos tradicionalmente de esquerda do eleitorado. Assim, só resta aos partidos nanicos da esquerda radical a alternativa de permanecerem isolados no espectro político-partidário.
Curiosamente, no entanto, esses quatro partidos sequer parecem ter cogitado a possibilidade de uma aliança eleitoral. Em muitos outros países, o destino dos partidos anti-sistema de extrema-esquerda é abrigarem-se sob um único guarda-chuva eleitoral (uma "Frente Ampla", ou algo parecido). Desse modo, aumentam a sua viabilidade política. Mas não parece que os nanicos da esquerda brasileira já tenham atingido esse nível de pragmatismo político.
Fonte: Congressoemfoco