segunda-feira, agosto 30, 2010

Jornais: Temer omite do Fisco imóvel de R$ 2 milhões

FOLHA DE S.PAULO

Temer omite de declaração ao TSE imóvel de R$ 2,2 milhões

Vice na chapa da presidenciável petista Dilma Rousseff, Michel Temer (PMDB-SP) omitiu um imóvel de R$ 2,2 milhões na declaração de bens que entregou à Justiça Eleitoral no ato de registro de sua candidatura, nas eleições de 2006. A omissão foi reconhecida por Temer quando a Folha buscou detalhes de uma explicação que ele havia dado a jornalistas sobre a evolução de seu patrimônio nos últimos quatro anos.

Em julho, assim que Temer entregou sua relação de bens ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a imprensa notou que o patrimônio do deputado e presidente da Câmara havia crescido 118,8% entre 2006 e 2010, em valores já corrigidos pelo IPCA. O patrimônio passou de R$ 2,29 milhões, em 2006, para R$ 6,05 milhões, em 2010. Procurado então por jornalistas, o deputado distribuiu, por meio de sua assessoria, uma informação que agora se revela inverídica.

Na ocasião, assessores do deputado afirmaram que o crescimento se devia ao recebimento de honorários advocatícios relacionados a uma causa que Temer, como advogado, havia conduzido ainda nos anos 70. A explicação foi divulgada pela imprensa e na internet -incluindo a Folha, na edição de 6 de julho passado. No dia 5, o portal da internet IG ressaltou a explicação de Temer: "A assessoria ainda disse que a evolução patrimonial de Temer se deu devido a honorários advocatícios que ele recebeu de uma ação da década de 1970 e que só teve sua decisão final dada recentemente".

Ao longo dos últimos 30 dias, a Folha quis saber de Temer qual era o cliente da causa milionária. A assessoria do deputado não dirimiu a dúvida, mas reafirmou a primeira versão sobre os honorários, que teriam sido recentemente recebidos. A reportagem não encontrou, nos registros da Justiça paulista, nenhuma causa milionária ganha por Temer e, por isso, voltou a indagar a assessoria. A dúvida não foi esclarecida novamente.

Na última segunda-feira, questionado em São Paulo, o deputado apresentou uma nova versão que desmente explicação dos honorários. Ele disse que, por um "erro de digitação", não foi declarada, em 2006, a propriedade de imóveis na região do Itaim Bibi, bairro nobre de SP. A omissão do imóvel, disse Temer, teria levado à conclusão de que seu patrimônio evoluiu.

Equívoco é do "sujeito que digitou a declaração", justifica deputado

O deputado Michel Temer atribuiu a um "erro de digitação" a omissão de R$ 2,2 milhões na declaração de bens de 2006. Reclamou de reportagens da Folha em 2008 que revelaram divergências de valor na declaração de uma fazenda. A seguir, trechos da entrevista.

Folha - Sobre seu patrimônio, que evoluiu 118%...
Michel Temer - [Interrompendo] Você já sabe disso. Está insistindo numa pergunta à toa. Vou solucionar logo: você pega a minha declaração entregue ao Tribunal Regional Eleitoral de 2004, e verá que lá está o meu patrimônio. É que na digitação de 2006, tiraram um patrimônio, declarado desde 2003 em todas as minhas declarações de Imposto de Renda. Por isso, o que parece 118%, na realidade, é 5%.

Qual foi retirado?
Um imóvel de R$ 2,2 milhões. (...) Eu tinha em 2003, e declarado em 2003, 2004.

Houve erro na declaração?
De digitação.

De quem foi o erro?
Do sujeito que datilografou, que digitou. A primeira explicação é que havia honorários de uma causa dos anos 70... Eu ganhei honorários ao longo do tempo. (...) Mas antes de 2003. Por isso que digo que está na declaração de 2004. Lamento que vocês façam isso. Olha, vocês fizeram um barulho enorme, com negócio de terras lá, não sei o quê, [mas] quando o procurador-geral arquivou...

Eleitor vê Dilma como mais preparada

Em três meses, a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, passou a ser vista pelo eleitorado como a "mais preparada" para governar o país e administrar áreas como educação, economia e segurança. É o que aponta o detalhamento da última pesquisa Datafolha.

O levantamento feito nos dias 23 e 24 deste mês mostra que a exposição da petista gerou mudanças significativas na visão do eleitor. Dilma hoje é considerada "mais preparada" para ser presidente por 42% dos entrevistados, contra 38% de José Serra (PSDB). Na última pesquisa a incluir essa questão, em maio, Serra tinha 45%, ante 29% dela.

Seu desempenho evoluiu no Sudeste (+ 14 pontos), no Nordeste (+ 18 pontos) e entre os mais jovens, de 16 a 24 anos (+ 17 pontos). Ela passou o tucano nos quesitos de melhor nome para combater a violência (38% a 30%), cuidar da educação (41% a 31%), manter a estabilidade econômica (49% a 28%) e lutar contra o desemprego (46% a 28%). Serra mantém a dianteira (47% a 33%) na saúde, área em que concentra sua propaganda eleitoral e da qual foi ministro no governo FHC.

Dilma já vendeu bugigangas e "Cavaleiros do Zodíaco" no Sul

Nem só de política e cargos públicos viveu a presidenciável Dilma Rousseff (PT). Entre uma função e outra no Rio Grande do Sul, ela investiu no mundo empresarial com uma loja de bugigangas importadas do Panamá. O negócio, que durou um ano e cinco meses, fechou em julho de 1996 e é omitido de sua biografia oficial.

Com o nome fantasia de Pão & Circo, inspirado na estratégia romana para calar as vozes insatisfeitas, a empresa foi registrada para comercializar confecções, eletrônicos, tapeçaria, livros, bebidas, tabaco, bijuterias, flores naturais e artificiais, vendidos a preços módicos. O forte, porém, eram os brinquedos, particularmente os dos "Cavaleiros do Zodíaco", animação japonesa sobre jovens guerreiros que fez sucesso nos anos 1990.

Na biografia oficial de Dilma na web, que exalta a fama de boa gerente da candidata, não há menção ao período em que ela foi sócia-gerente da Pão & Circo. Nem mesmo quando defendeu a criação de um ministério para pequenas e médias empresas, em maio, mencionou o fato. A Folha procurou a candidata por telefone e por e-mail para que ela falasse dessa experiência. Por meio da assessoria, Dilma confirmou que a empresa existiu e fechou há cerca de 15 anos – e que não falaria mais sobre isso.

A empresa tinha sede e filial em Porto Alegre e importava artigos de bazar de Colón, no Panamá, para revender no atacado e no varejo. A simplicidade da loja e o baixo movimento de clientes também estão na memória dos comerciantes. "A loja era mal-acabada, com divisórias de tábua, um troço rústico. E, claro, não entrava ninguém ali", diz Ênio da Costa Teixeira, dono de pizzaria, lembrando que dois funcionários ficavam na loja e Dilma aparecia eventualmente.

Paraguaçu já acena com "apoio bajulista" a Dilma

Em cartaz nos cinemas com "O Bem Amado", prefeito de Sucupira lançou candidatura ao Planalto; Cláudio Paiva, corroteirista do filme, imagina entrevista do presidenciável

Nanicos sem espaço
Estou aqui com a alma lavada e enxaguada pela indignação com a legislação safadista que impede que o povo conheça minha plataforma. Integro um partido nanico, mas minha plataforma, talqualmente a P-33, é enorme!

Inexperiência de Dilma
Quem gosta de experiência é professor de ciências. Se o presidente Lula subir no meu palanque, a candidata Dilma pode contar com meu apoio bajulista. Se me perguntarem o que acho de Dilma, direi a verdade estripitiscamente nua: ela é o cara! Ou o cara é ela. Tanto faz.

Alianças de Serra
Pode parecer sem-vergonhice, mas em política, talqualmente num bacanal, é dando que se recebe.

Apoio a Marina
Se a candidata pevecista quiser conversar, sabe que goza das licenciaturas e alvarás para penetrar e se estabelecer, não somentemente no meu gabinete, como talqualmente no coração. Sentaremos no sofá e tomaremos licor de jenipapo.

Socialista como Plínio
Apesar das críticas dos canhotistas praticantes e juramentados, também sou meio socialista. Não da ponta esquerda, mas do meio de campo, caindo para a direita. Eu e Arruda temos muito em comum: queremos a presidência. Emboramente ache que lugar de Arruda é atrás da orelha!

Quebra de sigilo é fruto de "banditismo", diz Mendes

Ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, 54, afirmou que a quebra de sigilo fiscal de pessoas vinculadas a tucanos é fruto de "banditismo político" e revela "paradigmas selvagens da política sindical". Em entrevista anteontem à Folha, ele disse que "o servidor público não pode usar button", numa referência àqueles que usam o cargo em benefício de seus partidos. Mendes criticou o aparelhamento político do serviço público brasileiro, ao dizer que se trata de "uma anomalia que se normalizou".

Folha – Como o senhor avalia esse vazamento de informações sigilosas da Receita Federal?
Gilmar Mendes - É algo assustador e lamentável. Sobretudo quando ocorre em uma instituição profissionalizada e profissional como a Receita Federal.
O senhor vê alguma relação com o grande número de cargos em comissão?
Claro. O aparelhamento de instituições é algo grave e nocivo ao serviço público do país. Os funcionários públicos precisam entender que não estão a serviço de uma instituição partidária. Quando fazem isso, estão descumprindo o princípio democrático.

Esse aparelhamento é tratado como algo natural no Brasil?
O servidor não pode usar button e isso é algo que se transformou em cultura ao longo do tempo. É uma anomalia que se normalizou.

Marina critica Dilma e Serra e reclama de copo descartável

A candidata Marina Silva fez ontem uma caminhada de cerca de 20 minutos, sob um calor de 30 graus no Parque da Cidade de Brasília, acompanhada de cerca de 500 pessoas, entre militantes e candidatos do PV. Ela voltou a apelar para que haja segundo turno para que os eleitores possam "pensar duas vezes".

Com um megafone, deu alfinetadas em Dilma Rousseff e José Serra. "Sempre digo, com respeito, que a Dilma e o Serra são competentes, mas muito parecidos. São desenvolvimentistas. É como se houvesse um concurso para quem conseguisse decorar mais número. O Brasil precisa é de visão estratégica."

Ela não gostou de ser indagada pela Folha sobre ter oscilado negativamente nas pesquisas. "A campanha está no caminho certo. O que sinto na rua é diferente do que aparece na pesquisa." Pouco antes de entrar no carro, ao final da caminhada, Marina reclamou com um assessor que lhe entregou água num copo plástico descartável.

Serra diz que não dá para "terceirizar" o governo do país

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, disse ontem em Ribeirão Preto (SP) e em Cascavel (PR) que um "presidente não governa terceirizando". "É uma ingenuidade de muitos achar que o Lula, terminando o mandato, saindo do Palácio do Planalto em 1º de janeiro, vai governar o país de fora." Ele fez uma analogia com o futebol. "Imagine um técnico de futebol que vai bem em um time e depois resolve sair para o exterior, mas diz à torcida que vai orientar um substituto em todas as partidas. Não tem cabimento. Isso é o que está colocado no país", disse, em Ribeirão.

Serra disse que a quebra do sigilo fiscal de quatro pessoas ligadas ao PSDB por funcionários da Receita Federal foi um "crime contra a Constituição" em "benefício da campanha [de Dilma]". "O governo usa a máquina para invadir a vida íntima de qualquer brasileiro. Como disse a Marina Silva [candidata à Presidência pelo PV], se estão fazendo isso na campanha, imagine como será depois da eleição", afirmou.

Dilma diz que estenderia a mão a tucano

"A gente desarma o palanque e estende a mão para quem for pessoa de boa vontade e quiser partilhar desse processo de transformação. Eu não sei se ele [Serra] quer. Se ele quiser, perfeitamente", disse a petista ontem, em Brasília.

Parado por traficantes, Gabeira diz que seguirá indo a favelas

O candidato do PV ao governo do Rio, Fernando Gabeira, foi abordado por traficantes armados na noite de sexta durante campanha na favela Vila Cruzeiro, na Penha, zona norte da cidade. Ele andou pela favela por uma hora e meia e passou por homens mostrando armas. Foi parado por um grupo, com o qual conversou.

Ontem, em caminhada em Belford Roxo, ele disse que não mudará sua postura. "Irei a todas as comunidades. Interessante que queiram de mim outra atitude: que enfrente uma máquina poderosa, com o domínio quase completo do Rio, só entrando em lugares onde não tem gente armada. Se eu fizer isso, perco as eleições".

Reforma do Palácio do Planalto deixa imperfeições

Realizada para liquidar os vazamentos e os "puxadinhos" que descaracterizavam a imponência do prédio, a reforma do Palácio do Planalto não conseguiu atingir plenamente suas metas. A mudança mais radical ficou concentrada no quarto andar, remodelado para diminuir o total de gabinetes e ampliar espaços internos.

O carpete que recobria piso e paredes de gabinetes e salões foi trocado por mármore branco, o mesmo das colunas externas e do térreo. Fiação elétrica e tubulação hidráulica foram refeitas. Há também novos móveis: saíram os de designers estrangeiros, como as cadeiras Barcelona, do alemão Mies van der Rohe, e entraram peças assinadas pelos brasileiros Sérgio Rodrigues, Oscar Niemeyer e Jorge Zalszupin.

Do lado de fora, o palácio ganhou estacionamento subterrâneo para 500 carros e torre de saída de emergência. A configuração do espelho d'água sofreu alteração. A obra causou polêmica por falta de fiscalização e deslizes de acabamento. A parede de espelhos do mezanino distorce imagens, e o teto de gesso da entrada principal tem imperfeições.

Nos gabinetes, tampas cortadas no piso de madeira para passar fiação podem provocar acidentes. Além disso, contornos de elevadores estão sem acabamento. Mesa nova desenhada por Oscar Niemeyer e colocada no antigo "salão oval" (agora "reunião suprema") tem respingos de tinta. É ali que Lula fará reuniões ministeriais. O Ministério da Defesa, porta-voz da obra, admite falhas e diz que os defeitos serão consertados pela empresa contratada.

O ESTADO DE S.PAULO

Dirceu tenta barrar avanço de Palocci

A 35 dias da eleição de 3 de outubro e confiantes na vitória de Dilma Rousseff (PT) no primeiro turno, os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci disputam os rumos de eventual novo governo comandado pelo partido. Depois de emitir sinais contrários à possível indicação de Palocci para a Casa Civil, Dirceu luta agora para impedir que ele volte a ditar os caminhos da economia, a partir de 2011.

Os dois "generais" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva reeditam a queda de braço que travaram no primeiro mandato do PT para definir a fisionomia do governo. Abatido pelo escândalo do mensalão, em 2005, e cassado pela Câmara, Dirceu vislumbra perda de influência se Palocci - ex-ministro da Fazenda - assumir a Casa Civil sob Dilma.

A preocupação não é à toa: cabe ao ministro da Casa Civil coordenar a equipe, o que lhe dá muito poder e pode torná-lo candidato natural ao Planalto. Foi o que ocorreu com a própria Dilma, puxada para o cargo após a queda de Dirceu. Nove meses depois, em março de 2006, Palocci também caiu, no rastro da quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa.

Embora se movimente nos bastidores para evitar que o antigo colega vire uma espécie de "primeiro-ministro" de Dilma, Dirceu sabe que pode perder a aposta. Motivo: Palocci é um dos principais coordenadores da campanha e, além de tudo, tem Lula como padrinho. O plano do presidente é reabilitar o ex-titular da Fazenda na cena política.

Se Palocci for para a Casa Civil, o grupo de Dirceu - que quer empurrar o deputado para o Ministério da Saúde - espera uma "compensação". Sob o argumento de que "o governo Dilma não pode ter a cara do ajuste fiscal de Palocci", aliados do ex-chefe da Casa Civil defendem, agora, a permanência de Guido Mantega (PT) na Fazenda em dobradinha com "alguém de esquerda" no Planejamento.

Lula ocupa 27% do horário eleitoral da petista

A campanha da candidata petista Dilma Rousseff dedicou 17 minutos de seu tempo no horário eleitoral a citações, depoimentos ou exibição de imagens do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É como se dos seis programas veiculados pela petista na TV, cerca de um e meio tivesse sido ocupado exclusivamente por Lula.

Até agora, nenhuma das propagandas exibidas pela candidatura de Dilma, seja no rádio ou na TV, deixou de fazer menção ao presidente. Cada peça publicitária consumiu, em média, 27% do tempo para reforçar a aliança entre o presidente e sua candidata ao Planalto. Nem mesmo os horários reservados para os candidatos a deputado federal e estadual nas coligações encabeçadas pelo PT deixaram de explorar o alto índice de popularidade de Lula.

As inserções das frases de Lula nos programas da candidata petista têm finalidades bem específicas. Nos primeiros episódios, por exemplo, eram carregadas de emoção. A maioria enaltecia o currículo de Dilma e o desempenho dela à frente do Ministério de Minas e Energia e da Casa Civil. As seguintes focaram na continuidade das realizações e dos programas sociais da atual gestão.

Dilma diz que, se eleita, ''estenderá mão'' a Serra

A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, negou ontem estar de "salto alto", mas frisou que, se eleita, vai "estender a mão" para seu principal adversário na disputa, o candidato do PSDB, José Serra. "As pessoas que concorrem conosco têm de ser respeitadas. Depois da eleição, a coisa muda de figura. A gente desarma o palanque e estende a mão para quem for pessoa de boa vontade e quiser partilhar desse processo de transformação", afirmou ela, em entrevista coletiva no jardim de seu escritório político, em Brasília, no final da tarde.

Questionada se estenderia a mão para Serra, Dilma respondeu: "Estendo a mão para quem quiser partilhar. Eu não sei se ele quer. Você pergunte a ele. Mas, se ele quiser, perfeitamente." Em seguida, novamente abordada pelos jornalistas, Dilma negou que estivesse fazendo um convite ao tucano. "Estou fazendo um conceito. O conceito é que um governo ou é para todos ou não é republicano", disse.

Para ele, ideias da adversária preocupam

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, não poupou a principal adversária, durante campanha ontem em Cascavel, no Oeste do Paraná. "Preocupa-me mais o que a Dilma pensa hoje do que ela pensou no passado", declarou o tucano. "Uma hora fala a favor do aborto, outra hora não se define. Uma hora fala sobre liberdade de imprensa outra hora faz jogo sujo contra adversários e aplica pressão sobre a imprensa. Não sei o que ela pensa sobre a agricultura, não sei o que pensa sobre indústria, não sei o que pensa sobre tributação", afirmou Serra, quando indagado se iria citar na propaganda de TV e rádio o passado guerrilheiro de Dilma.

Ao lado do candidato ao governo do Estado, Beto Richa (PSDB), ele participou de uma carreata pelo centro da cidade e de um encontro com agricultores e líderes cooperativistas paranaenses. Ele evitou falar sobre as pesquisas. "Não faço comentário. As pessoas querem saber das nossas propostas."

O candidato voltou a falar sobre o vazamento de dados na Receita Federal. "Isso tem dimensão muito maior do que parece. O vazamento não é só para a política eleitoral. É a invasão do poder do Estado sobre o cidadão."

''Houve um recuo político e aumento do artificialismo''

Presidente do comitê financeiro da campanha do PSDB, José Gregori diz ver um "artificialismo" exacerbado na campanha eleitoral deste ano. "Houve um recuo do setor político e um crescimento do artificialismo cenográfico vindo dos marqueteiros", declarou ao Estado. "O problema é que para ser marqueteiro, além do talento profissional, você tinha que ter militância partidária. Senão fica sempre meio artificial", disse.

Para o secretário especial de Direitos Humanos da prefeitura paulistana, há uma "nuvem hipnótica" no País que alimenta a ideia de que a eleição já está definida. Ele ataca as pesquisas, o marketing e a despolitização.
Nesta semana, o comitê de Serra enviará outra prestação de contas parcial ao Tribunal Superior Eleitoral. Desta vez, diz Gregori, a receita será "cinco ou seis" vezes maior que a da prestação anterior, quando foram declarados apenas R$ 3,6 milhões de arrecadação. "Desde o começo, disse que não seria uma campanha na baba."

Na semana passada, o sr. disse que a ideia de que a eleição já está resolvida cria um "cheiro de pré-fascismo". O que quis dizer?
Uma eleição tem de ser aproveitada minuto a minuto. Os três candidatos com viabilidade são figuras com passado de luta democrática. Agora o período eleitoral estabelece diferenças. Estou indignado porque vejo que a 34 dias da eleição, não há mais o que fazer, a não ser esperar a posse? Só o fascismo ou qualquer regime autoritário pré-determina resultados. Estamos transformando esse mês antes da eleição num espetáculo de celebração e conformismo. As pesquisas, que são mero indicativos, se transformaram em instrumentos decisórios. A eleição é um ato complexo, não aritmético. Precisamos quebrar essa nuvem hipnótica. Os "vencedores" não devem se dirigir à apoteose nem os "vencidos" cruzar os braços para curtir a derrota.

A oposição cruzou os braços?
Falo de maneira geral. É o que vejo. A gente sente nas ruas que esses 30 dias serão um excesso de algo que já está feito.

O PSDB é conhecido por não ter militância forte. Também não fez oposição clara a Lula. Serra resistiu a se colocar como governador de oposição. Esse imobilismo não seria reflexo disso?
Poderia dizer que sim, mas não daria a resposta total. Isso é consequência da "despolítica" dos últimos anos. As pessoas esperam os programas da TV e diante deles tomam as decisões de acordo com as pesquisas. São os dois protagonistas dessa eleição. A política é diálogo, debate. Os candidatos não apresentam totalmente suas mensagens porque acham que as pesquisas são soberanas. Os que as pesquisas favorecem já se consideram vitoriosos e passam a repartir o pão. Está tudo errado.

A Dilma do Maranhão

Passava das duas horas da tarde de quarta-feira, quando a governadora do Maranhão e candidata à reeleição, Roseana Sarney (PMDB), desceu de um helicóptero imaculadamente branco na pequena e empoeirada Nina Rodrigues, cidade com pouco mais de 10 mil habitantes a 175 quilômetros de São Luís. Era mais um dia da opulenta campanha da peemedebista - que elegeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, como seus principais cabos eleitorais.

Numa espécie de clonagem, toda a campanha e os programas eleitorais de televisão de Roseana são muito parecidos com os de Dilma. Assim como a petista, a governadora é apresentada como "guerreira". A cor predominante também é o vermelho. "É coincidência", diz Roseana, que contratou o marqueteiro Duda Mendonça como consultor de campanha. A de Dilma é tocada pelo publicitário João Santana.

Mais do que Dilma, a presença de Lula é ostensiva na campanha. "Sou Dilma, sou Roseana", diz Lula, logo na abertura do programa, fazendo as vezes de apresentador. "Vote Dilma presidente, Roseana governadora", emenda o presidente. "Roseana e Dilma muito me ajudaram. Peço ao povo do Maranhão para eleger Dilma presidente e Roseana governadora." Lula também pede voto para a reeleição do senador e ex-ministro Edison Lobão (PMDB), de quem diz ser muito amigo, e para João Alberto (PMDB), outro aliado da família Sarney que disputa o Senado.

Estado com os piores índices sociais do País e sob o comando da oligarquia dos Sarney há quatro décadas, o Maranhão simplesmente ignora as denúncias contra o clã. À exceção de um candidato do PSOL ao Senado, Paulo Rios, ninguém fala dos escândalos envolvendo o patriarca, senador José Sarney (PMDB-AP), e a própria Roseana - há duas semanas, por exemplo, o Estado revelou que documentos nos arquivos do Banco Santos indicam que a governadora e seu marido, Jorge Murad, simularam em 2004 um empréstimo de R$ 4,5 milhões para resgatar US$ 1,5 milhão que possuíam no exterior. "Eles (os Sarney) são iguais a índio: inimputáveis", diz José Reinaldo (PSB), ex-governador e ex-aliado dos Sarney.

Nordeste dita tendências na campanha de 2010

As tendências costumam partir dos centros em direção à periferia. É assim no vestuário, na tecnologia, no design. O que é moda em Milão hoje será moda em São Paulo amanhã, e em Xiririca da Serra no dia seguinte. E na hora de votar? Onde fica o centro e quem está na periferia?

Na eleição 2010, quem dita a tendência é o Nordeste. Quando José Serra (PSDB) ainda liderava sozinho as pesquisas sobre a sucessão presidencial, os eleitores nordestinos já preferiam Dilma Rousseff (PT). À época, era comum atribuir esse comportamento ao assistencialismo do governo Lula na região. O tempo mostrou que essa explicação é reducionista e insuficiente. Reducionista porque sempre a preferência por Dilma incluiu os nordestino ricos e pobres, escolarizados ou não, com e sem bolsa federal. E insuficiente porque ela não explica o fato de essa tendência ter extrapolado as fronteiras do Nordeste.

A mais recente pesquisa Ibope/Estado/TV Globo dá pistas importantes para se entender melhor o porquê de a "onda vermelha" ter se espalhado de lá para o Norte/Centro-Oeste, para o Rio de Janeiro, depois para Minas Gerais, para São Paulo e finalmente chegar ao Sul do Brasil. Tudo aponta para a continuidade. Mas por que o eleitor quer mais do mesmo, em vez de variar um pouco? A fila andou e incluiu dezenas de milhões no mundo do consumo. Mas, tão importante quanto, os eleitores avaliam que ela continua andando. Principalmente no Nordeste.

Compadre de Lula ''nomeia'' nos Correios

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva demitiu no dia 28 de julho a cúpula dos Correios por temer que o fisiologismo partidário ampliasse a crise administrativa na estatal e respingasse na campanha eleitoral, mas a iniciativa pode ter sido infrutífera. O novo diretor de Operações dos Correios, Eduardo Artur Rodrigues da Silva, assume o cargo sob uma nuvem de suspeita.

Conhecido no setor da carga aérea como "coronel Artur" ou "coronel Quaquá", ele chegou à estatal com o apoio do compadre de Lula, o advogado Roberto Teixeira. Presidia uma empresa de transporte de mala postal, a Master Top Linhas Aéreas (MTA). Vinte dias antes de ser escolhido para a função, a MTA arrematou o contrato de uma das principais linhas da estatal, a Linha 12, que opera no trecho Manaus-Brasília-São Paulo. A empresa, com sede em Campinas, venceu o pregão eletrônico com o lance de R$ 44,9 milhões.

É uma linha estratégica nos negócios dos Correios - representa 13% do valor total da malha e 14% da capacidade de carga contratada. Ao assumir a diretoria nos Correios, no dia 2 de agosto, o coronel entregou o comando da MTA nas mãos de uma filha, Tatiana Silva Blanco. Com essa triangulação, a MTA tem agora a família Rodrigues da Silva como contratada e, ao mesmo tempo, contratante. Em site na internet, a MTA destaca que tenta ser uma "extensão" das empresas com as quais mantém parceria.

Maus gestores causam perda de R$ 3,5 bilhões

O próximo presidente da República já sabe que herdará um problema que a administração pública federal não consegue eliminar. A cada ano, só aumenta a quantidade de irregularidades envolvendo o mau uso de recursos federais por gestores públicos - na maior parte dos casos, prefeitos, secretários municipais ou diretores de autarquias regionais.

Levantamento feito pelo Estado, com dados do Tribunal de Contas da União (TCU), mostra que essa espécie de "custo gestor nacional" se transformou num buraco bilionário. Desde 2005, a soma das condenações e aplicações de multas feitas pelo TCU a esses maus gestores já alcança cerca de R$ 3,5 bilhões. Mesmo corrigindo os valores, não existe a certeza de recuperação desses recursos, uma vez que os acusados recorrem constantemente de suas condenações, alongando ao máximo a definição de seus processos.

Apenas no primeiro trimestre de 2010, as punições pelo mau uso de recursos julgadas pelo TCU já somavam R$ 157 milhões. Mas a tendência é que o número até ultrapasse a impressionante marca do ano passado, de R$ 1,2 bilhão. Desde 2005, o TCU abriu 6.744 processos e pediu punições para 10.287 responsáveis pela gestão de verbas federais que apresentaram problemas.

O GLOBO

Um 'recesso' que sai caro

Com os parlamentares voltados para a campanha eleitoral, o Congresso mergulha, nos três meses que antecedem as eleições, no chamado recesso branco eleitoral. Mesmo com providências para reduzir a improdutividade na área legislativa, como dar férias a um grande número de funcionários, oferecer cursos de reciclagem e fazer revezamento de horários, Câmara e Senado mantêm em funcionamento toda a sua grande e cara estrutura neste período.

Apesar de as eleições ocorrerem a cada dois anos no país, não há esquema especial que possa reduzir os custos da máquina nesses meses de plenários vazios e poucas decisões. Período em que os parlamentares continuam recebendo não apenas seus vencimentos, mas todas as verbas de custeio do mandato. E muitos levam assessores de Brasília para as campanhas nos estados.

Só no caso dos 594 parlamentares, nos três meses, são R$ 29,4 milhões gastos apenas com os subsídios. A despesa média nesses três meses (agosto a outubro) é de R$ 1,7 bilhão para as duas Casas, levando-se em conta que o orçamento anual da Câmara e do Senado para 2010 é R$ 6,88 bilhões.

A alternativa utilizada até hoje para o recesso parlamentar não se mostrou suficiente para vencer o dilema do ostracismo inevitável: a Câmara foi convocada para seis dias de trabalho, entre agosto e outubro, e fracassou, sem votar nenhuma matéria em plenário. Já o Senado transformou a primeira semana de esforço concentrado numa maratona de votações de um verdadeiro pacote de bondade eleitoral.

Marqueteiro no olho do furacão

No olho do furacão desde que as últimas pesquisas de intenção de voto mostraram a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, com cerca de 20 pontos à frente do candidato do PSDB , José Serra, o jornalista paulistano Luiz Gonzalez, 57 anos, coordenador de comunicação e principal estrategista da campanha tucana, é um sujeito visivelmente irritado com as críticas - que ele considera infundadas - ao seu trabalho.

À frente de uma equipe de 300 pessoas e uma rotina que começa cedo e entra pela madrugada, por conta dos hábitos notívagos do seu candidato, o marqueteiro não dispensa opiniões, especialmente numa hora tensa como agora. Mas as quer respaldadas em fatos.

À tentativa de responsabilizá-lo pela queda de Serra, responde com fatos e números das campanhas das quais participou. Os levantamentos de sua equipe não reproduzem a rejeição a Serra captada pelos institutos de pesquisa. O que significa que o rumo não muda por conta do escárnio petista, das avaliações de eventuais marqueteiros ou do fogo amigo de políticos do PSDB e aliados.

De tucanos, ele entende bem. São 16 anos administrando campanhas do partido, desde que em 1994 fez a vitoriosa comunicação de Mario Covas na disputa pelo governo de São Paulo.

Serra em campanha com Alckmin, tenta recuperar votos

Para tentar recuperar os votos perdidos nas últimas semanas em São Paulo e levar a disputa para o segundo turno, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, manteve neste sábado, no interior paulista, a estratégia de colar a sua imagem à do candidato tucano a governador, Geraldo Alckmin.

Serra tenta se beneficiar da alta popularidade do colega no estado. Em discurso para militantes, durante a inauguração de um comitê do PSDB em Ribeirão Preto, Serra pediu mobilização nas ruas para conseguir a virada em São Paulo: - Vamos fazer no nosso estado mobilização, não só para a vitória, mas para ganhar de muito. Vamos ganhar essa eleição em São Paulo e no Brasil. No Ibope, Dilma tem 42% em São Paulo e o tucano, 35%. Alckmin tem 47% para governador. Serra se recusou a comentar o resultado do Ibope.

Dilma:após eleições estenderá a mão aos adversários

A candidata do PT à presidência da República, Dilma Rousseff disse neste sábado que depois das eleições estará à disposição para diálogo com seus adversários. Com possibilidade de ganhar eleição ainda em 3 de outubro, ela refutou a afirmação feita pela manhã pela concorrente Marina Silva (PV), de que a democracia fica fortelecida quando ocorre o segundo turno.

Em uma entrevista coletiva convocada para divulgação de suas propostas para a infância, Dilma não escondia o bom humor, no dia em que as pesquisas apontam uma diferença de 24 pontos para seu adversário tucano, José Serra. - As pessoas que concorrem conosco devem ser respeitadas e depois da eleição a coisa muda de figura. - afirmou Dilma.

Questionada se já estaria estendendo suas mãos para Serra e Marina, Dilma falou como presidente eleita: - Estendo a mão para quem quiser partilhar. Eu não sei se ele (Serra) quer. Você pergunta para ele, se ele quiser, perfeitamente.

Crédito farto e consumo decidem o voto do eleitor

Salvo surpresas no caminho, é a economia que está decidindo a eleição. Economia? Mais precisamente o poder de consumo, dizem especialistas. Crédito farto, facilidade de compra de imóveis, emprego e renda em alta, ganho do salário mínimo e Bolsa Família fazem a cama para a candidata do PT, Dilma Rousseff, disparar nas pesquisas. Cheio de bens em casa, o eleitor não pensa em problemas coletivos, como saúde ou transporte. E liga menos ainda para questões mais abstratas, como a situação fiscal.

Ao longo desta semana, O GLOBO mostrará por que o consumidor está feliz. Como dizia James Carville, estrategista da campanha vitoriosa de Bill Clinton à Presidência dos EUA em 1992: "É a economia, estúpido!"

- Consumo é o motor dessa euforia. Só entre dezembro de 2008 e o mês passado, o crédito à pessoa física nas modalidades mais comuns (exceto imobiliário) subiu 35%, de R$ 275 bilhões para R$ 370 bilhões - isso é quanto os consumidores estão devendo ao sistema financeiro hoje. Sobre os R$ 74,4 bilhões de dezembro de 2002, o avanço é de 396%, bem além da inflação, de 52%. - As pessoas estão votando com o bolso. Estão consumindo mais numa proporção não vista há 30 anos - afirma o economista Claudio Frischtak.

Eduardo Jorge chama de burocrática investigação da RF

O vice-presidente executivo do PSDB, Eduardo Jorge, considera que a investigação da Receita Federal em torno do vazamento de seu sigilo fiscal é burocrática. Segundo ele, a sindicância interna apenas arrolou como testemunha o sindicalista Hamilton Mathias, delegado do Sindireceita (Sindicato dos servidores da Receita) no grande ABC, que sentavase ao lado do computador de onde vazaram os dados. - Se fosse uma sindicância investigativa eles iriam investigá-lo. Mas isso não ocorreu.

Para Eduardo Jorge, o importante não é identificar apenas o responsável pelo vazamento, mas quem utilizou as informações em um dossiê, com fins eleitorais. Segundo ele, as informações sobre seus dados fiscais que chegaram à imprensa foram originadas em um comitê do PT.

México: Itamaraty divulga nomes 2 vítimas brasileiras

O Itamaraty divulgou neste sábado os nomes de dois brasileiros mortos na chacina de San Fernando, no Estado de Tamaulipas, nordeste do México, na qual 72 imigrantes foram assassinados. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, o corpo de Juliard Aires Fernandes, de 20 anos e natural de Minas Gerais, foi identificado entre as vítimas. As autoridades mexicanas também encontraram os documentos de Hermínio Cardoso dos Santos, de 24 anos e também de Minas Gerais, mas seu corpo ainda não foi identificado. O Itamaraty informou que já entrou em contato com as famílias de ambos.

CORREIO BRAZILIENSE

O preço de uma vaga na Câmara

O que é preciso para eleger um parlamentar? Com pouco espaço nos programas de rádio e televisão e sem os comícios milionários de eleições anteriores, candidatos a deputado federal e estadual investem maciçamente em material impresso, placas, estandartes e faixas, no esforço para fixar nome e número, sempre aliados à própria imagem. A contratação de pessoal, diretamente ou por intermédio de serviços terceirizados, é o segundo item mais dispendioso. Os gastos registrados no primeiro mês de campanha confirmam que essa estratégia é usada pela maioria dos candidatos em todo o país. Dos R$ 37 milhões já consumidos por candidatos à Câmara dos Deputados, mais da metade foram gastos com propaganda visual.

Os custos de uma campanha impressionam. Até agora, candidatos a deputado federal já arrecadaram R$ 73 milhões, enquanto os candidatos às assembleias legislativas receberam R$ 85,2 milhões em contribuições registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). As campanhas mais caras, com despesas como fretamento de avião, podem ficar entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões(1). No primeiro mês, as 10 mais ricas somaram quase R$ 8 milhões. A maior arrecadação foi de Eduardo da Fonte (PP-PE), com R$ 1,5 milhão.

O candidato à Câmara que mais gastou com impressos foi Odílio Balbinotti (PMDB-PR). Ele imprimiu 400 mil revistas, com uma versão para cada um dos 60 municípios que compõem a sua base eleitoral. Também fez santinhos, cartazes e “colinha”, para ajudar o eleitor a decorar o seu nome. Gasto total: R$ 260 mil. E precisou contratar cerca de 250 cabos eleitorais para distribuir esse material todo. Também alugou carros para transportar tanta gente. O assessor Amarildo Torres estima que a campanha vai ficar em R$ 2 milhões, mas a metade já foi gasta no primeiro mês.

Uma ausência chamada FHC

Responsável por levar o PSDB à Presidência e uma das figuras mais importantes do partido, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso passa longe da campanha tucana ao Palácio do Planalto este ano. Enquanto até mesmo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, maior adversário da legenda, apareceu no programa eleitoral do tucano José Serra, a imagem de FHC restringiu-se aos programas de candidatos a governos estaduais e ao Senado. E, mesmo em aparições públicas de Serra, em debates ou comícios, FHC não está presente.

A blindagem, segundo tucanos envolvidos na estratégia da campanha, teria sido motivada pelos resultados das pesquisas indicando a alta aprovação de Lula pela população (79% segundo o último levantamento do Datafolha), o que poderia significar uma certa rejeição a FHC. “A percepção que ficou para a sociedade é a do nosso segundo governo, que enfrentou uma série de crises, e não do primeiro, que foi de grandes acertos”, avalia um membro do PSDB que prefere não se identificar.

Para interlocutores próximos, o ex-presidente — além de demonstrar preocupação com um quadro que, não imaginavam os tucanos, parece estar decidido muito cedo na campanha presidencial — tem confidenciado estar magoado por não observar os feitos de seus oito anos de mandato em evidência na campanha de Serra. “Ele gostaria de ver as teses do governo dele sendo defendidas”, diz outro integrante do partido.

Mexicanização ou histeria?

O cientista político Bolívar Lamounier admite: é pequena a probabilidade de José Serra (PSDB) inverter a linha de crescimento de Dilma Rousseff (PT), mudando o curso das eleições. Diante de um cenário que, segundo ele, permite projetar a derrota do PSDB em âmbito nacional e, ao mesmo tempo, a conquista, na maior parte dos estados, de governos da base de Lula, Lamounier, que tem grande proximidade política e ideológica com o PSDB do sociólogo e ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, declara haver um risco de “mexicanização” do país. “Refiro-me às seis décadas em que o PRI, Partido Revolucionário Institucional, governou sozinho o México, suprimindo na prática as oposições. Isso não significaria a eliminação total da competição política e eleitoral, mas uma absorção dela: para dentro da aliança PT-PMDB e para dentro da máquina pública.”

Para o sociólogo, um eventual governo Dilma, com ampla maioria na Câmara dos Deputados e no Senado, terá “um controle quase total do processo político e das instituições”. Lamounier prega em conferências e em artigos o risco do que chama de liquidação da oposição nos estados. “Lula e o PT nunca tiveram um traço sequer de visão federativa. A pedra no sapato de Lula é evidentemente o estado de São Paulo. Por isso ele já avisou que não medirá esforços para impedir a vitória de Geraldo Alckmin.” O cientista político acredita que, para a “saúde da democracia”, é preciso mais oposição. E uma oposição que, em sua avaliação, passa pelo PSDB.

A tese de Lamounier é contestada pelo cientista político e professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Fábio Wanderley Reis, que recupera, historicamente, o que ocorreu no México. “O quadro geral no Brasil é distinto de algo que emergiu de uma revolução armada, em que havia um grupo que tomou conta do Estado, fez um partido instrumental e o processo eleitoral foi acomodado dentro de um esquema resultante da revolução”, avalia. Reis lembra que as instituições estão em perfeito funcionamento no Brasil, inclusive os partidos políticos e a Justiça Eleitoral.

Primeiro embate após a ditadura

O homem que lutou contra a ditadura e que esteve à frente dos principais momentos da história contemporânea do país cometeu um erro político e assim acabou sem qualquer chance de chegar ao Palácio do Planalto. O ex-deputado Ulysses Guimarães amargou uma sétima colocação nas eleições presidenciais de 1989, a única da qual participou em sua carreira, e também a primeira do processo de redemocratização do Brasil. Um ano antes, durante a Constituinte, o ex-deputado desvinculou os pleitos presidenciais dos estados. Era uma maneira de manter as bases trabalhando, mas para candidaturas distintas. Isso não ocorreu com relação ao ex-deputado, que acabou abandonado pelos correligionários nos estados.

Ulysses, que ficou conhecido como o Senhor das Diretas Já, sempre esteve à frente de acontecimentos marcantes, como bancar a posse do então presidente e hoje senador, José Sarney (PMDB-AP), no Palácio do Planalto, após a morte de Tancredo Neves. “O doutor Ulysses Guimarães era uma espécie de Lula daquela época”, lembra Marco Aurélio Costa, dono do Piantella, restaurante na 202 Sul frequentado pelo ex-deputado e que, por muito tempo, foi reduto da oposição ao regime militar.

O revés dos peemedebistas começou com o fracasso do Plano Cruzado, um pacote de medidas econômicas adotadas por Sarney em 1986 para baixar a inflação. Até então, o PMDB tinha uma boa posição no cenário político brasileiro. “Enquanto o Cruzado deu certo, o partido fez mais de 20 governadores e a maioria no Senado e na Câmara”, explica Marco Aurélio, que passou a ser um dos seguidores de Ulysses, com quem convivia há mais de 30 anos. Todos achavam que o partido iria eleger qualquer candidato ao Planalto, mas isso acabou não acontecendo por um erro involuntário do próprio Ulysses. “Durante a Constituinte, ele havia desvinculado as eleições presidenciais. O doutor Ulysses achava que os prefeitos eleitos iriam trabalhar para ele nas bases. Mas isso não ocorreu”, conta Marco Aurélio. O ex-deputado só ganhou dos principais adversários em Tubarão (SC) e São Lourenço da Mata (PE).

Militância que se move por interesses pontuais

O caminhão que corta por uma estrada empoeirada a divisa do Distrito Federal com Goiás é amarelo, tem alto-falantes estridentes, uma mulher ao microfone, voz inflamada. Há dois meses, o mesmo cenário servia para fazer anúncio de roupas, supermercados, promoções varejistas. O ofício agora é pedir votos para candidatos do PMDB e PT goiano. Nenhuma mensagem é dispensada à presidenciável apoiada pelos dois partidos, Dilma Rousseff (PT). A poucos quilômetros dali, militantes contratados pelos tucanos tentam, santinho em punho, vender o peixe que nem eles sabem se estão dispostos a comprar: a candidatura de José Serra (PSDB). O esforço maior, no entanto, também é feito pelos políticos locais da aliança DEM-PSDB.

No Entorno, a proximidade de candidatos com a população transforma as eleições em uma corrida sem bandeira definida. Lá, não se vota em partidos, mas em pessoas. No comitê de Dilma em Águas Lindas, dominado por 70% de eleitores da capital, a ênfase dos cabos eleitorais é em cartazes e adesivos de candidatos proporcionais aliados à petista. De forma tímida, ainda tentam emplacar Iris Rezende (PMDB) ao governo de Goiás. Material de Dilma inexiste. “Não é preciso fazer muita campanha para a Dilma porque ela já ganhou”, resume o militante Jorge Batista, do PMDB local.

Do outro lado da rua, o comitê tucano forrado com fotos do candidato ao governo de Goiás Marconi Perillo (PSDB) esconde em caixas bem fechadas o material de José Serra (PSDB). Nada que lembre a campanha do presidenciável está à mostra. A pedido do Correio, o presidente do PSDB de Águas Lindas, Nelson Almirante, “acha” adesivos do adversário de Dilma guardados em uma caixa, nos fundos do comitê. A poucos quilômetros dali, em Valparaíso, o material se restringe a um cartaz e um folheto informativo. A prioridade é tentar fazer Marconi Perillo (PSDB) retornar ao Palácio das Esmeraldas.

Entre os dois comitês, tucano e petista, não há sinal de disputa por votos no que toca às eleições nacionais. Há até um acordo informal. A prioridade de um lado é eleger proporcionais. Do outro, Marconi. Como os objetivos não entram em conflito, a solução é um não invadir a seara do outro. O escritório tucano não pede votos para presidente e o petista não se dedica muito pelos candidatos a senador ou governador. “É o jeitinho brasileiro de fazer política”, explica Almirante.

Marina pede voto em meio à seca no DF

A candidata do PV à Presidência da República, Marina Silva, minimizou a queda de um ponto percentual na pesquisa do Ibope, divulgada ontem, passando de 8% para 7%. Na caminhada de poucos metros que fez no Parque da Cidade, ontem de manhã, ela afirmou que continua apostando em um segundo turno com seus principais adversários, a petista Dilma Rousseff (51%) ou o candidato do PSDB, José Serra, segundo colocado na amostragem do Ibope, com 27%. Sob forte calor de mais de 30°C e uma baixa umidade relativa do ar, próxima a 25%, Marina fez um discurso usando um megafone para uma plateia sentada no chão.

A candidata Dilma Rousseff (PT), também passou o dia em Brasília. No fim da tarde, convocou entrevista para falar de seu projeto de atendimento integral às crianças, e também evitou polêmica sobre a possível vitória no primeiro turno com os 51% de intenções de voto apontados no Ibope. Mas, bastante tranquila, depois de fazer várias ressalvas sobre o fato de a eleição ter dois turnos, disse que “as pessoas devem ser respeitadas” e que, terminada a campanha, “a gente desarma o palanque e estende a mão às pessoas de boas vontade”. Disse ainda que, se Serra quiser colaborar, será bem-vindo. “Estou dando um conceito: um governo ou é para todos, ou não é republicano”, afirmou. “Sou do Sul. Lembro quando havia um atrito, o presidente não ia lá e não mandava dinheiro, República velha é isso”, afirmou, sem citar entretanto o governo gaúcho de Olívio Dutra (PT) e Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente.

Em queda constante nas pesquisas eleitorais, o candidato à Presidência da República José Serra (PSDB) não quis comentar os dados do último levantamento Ibope, divulgado ontem, no qual aparece com 27% das intenções de voto, contra 51% da sua principal adversária, Dilma Rousseff (PT), a quem manteve os ataques. Em Ribeirão Preto (SP), onde inaugurou um comitê do PSDB, Serra disse que, durante o tempo em que ficou à frente do governo, a favela de Heliópolis — a maior da capital paulista — foi transformada em bairro e a candidata petista teria utilizado a infraestrutura lá implantada no programa eleitoral dela.

Coluna Brasília-DF - Lobby

Sabendo que a essas alturas das campanhas os políticos estão tentando manter os caixas cheios, operadoras de TVs por assinatura circulam em gabinetes da Câmara Legislativa oferecendo apoio a candidatos à reeleição. A meta é obter aliados para a aprovação do projeto que libera as operadoras de pagar ao governo cerca de R$ 800 mil em impostos. O dinheiro foi cobrado dos assinantes e nunca foi repassado aos cofres públicos.

Incomodado

O deputado federal Henrique Eduardo Alves (foto), do PMDB-RN, não tem escondido o desconforto com os movimentos do líder governista Cândido Vaccarezza (PT-SP) em direção ao posto de presidente da Câmara na próxima legislatura. Alves tem dito a correligionários que seu partido é grande e que a única chance de o PT assumir o cargo é fazendo um acordo com os peemedebistas. O acerto iria prever uma eleição casada, na qual cada legenda assumiria o comando da Casa por dois anos.

Fonte: Congressoemfoco