segunda-feira, julho 19, 2010

Pinheiro terá que mudar, se quiser chegar ao Senado

Osvaldo Lyra - Editor de Política

O senador César Borges é daqueles políticos que preferem apresentar propostas e debater ideias a tecer meras críticas a seus adversários. Terminando seu primeiro mandato como senador, ele, que já foi governador e vice-governador da Bahia na era ACM, diz que a população do Estado terá a possibilidade de atestar ou não seu mandato. Presidente estadual do PR, César diz que a gestão Wagner não correspondeu às expectativas e diz que das candidaturas postas, a de Geddel é a única que possui condições reais de crescer.

Formado em Engenharia Civil pela Ufba, ele fala sobre a amizade e gratidão ao senador Antonio Carlos Magalhães e sobre o fim do carlismo, personificado na figura do ex-senador. Quando questionado sobre o clima de animosidade com o ex-governador Otto Alencar, César chega a falar em “recalques do passado”.

Nessa entrevista à Tribuna da Bahia, o senador fala do período em que foi cortejado pelo PT, pelo DEM e PMDB (inclusive, da relação com o governador Jaques Wagner). Já sobre o candidato Walter Pinheiro, que disse recentemente que os senadores da Bahia tinham um fraco desempenho, disparou que se o petista quisesse, de fato, chegar ao Senado, teria que começar mudando o comportamento atual.

“Não será de forma rancorosa, nem sendo o escudeiro do governador que ele chegará a lugar algum”. E diz ainda que a carapuça não lhe serviu, pois possui muito trabalho a mostrar aos baianos. César acredita também que a eleição só será definida nos últimos dias da campanha, sob forte influência da propaganda eleitoral do rádio e televisão.

Tribuna da Bahia - A sensação que se tem é que a campanha ainda não engrenou. A forma e a dinâmica da eleição mudaram?
César Borges –
Você tem que distinguir o tipo de campanha. A campanha majoritária, sem sombra de dúvidas, passou a depender do rádio e da televisão. Hoje, há uma difusão completa nesses dois tipos de veículos. O rádio e a tevê alcançam quase toda a população, de forma instantânea. Aquele método tradicional de comício e reuniões existe, mas não com a força e repercussão que tem a propaganda eleitoral gratuita, que só vai ser iniciada no mês de agosto. Por isso, não tenho dúvida que a eleição será definida a partir da propaganda eleitoral gratuita.

TB - O DEM está enfraquecido? Geddel vai conseguir passar Souto e ir para o segundo turno?
César -
Eu acredito na candidatura de Geddel Vieira Lima. Eu vejo esta candidatura com estruturação para crescer. Inclusive, eu acho que das candidaturas postas, aquela que possui mais condições de crescimento é a do PMDB. Primeiro, porque um é o governador do estado e vinha com uma propaganda muito forte, que ocupava espaço com outdoors triplos, ocupava rádio, televisão, com propaganda pesada, feita com recursos públicos que passavam dos R$100 milhões. Segundo, a candidatura democrata tem à frente uma pessoa que está disputando pela quinta vez um cargo majoritário. E Geddel é um nome que representa o novo. Então, a projeção de Geddel e do PMDB a um nível maior no estado se deu a partir do momento em que ele foi ministro da Integração Nacional e pode fazer um trabalho de destaque, beneficiando a Bahia inteira. Então, eu vejo que é um candidato que tem pista para decolar. Eu acredito que Geddel vai ter posição de destaque na eleição.

TB - Ele vai passar Paulo Souto?
César -
Eu não quero dizer que vai passar A ou B, quero dizer que, ou ele (Geddel) ganha ou vai estar no segundo turno muito bem.

TB - O senhor acredita que o carlismo acabou com a morte do ex-senador Antonio Carlos Magalhães?
César –
O carlismo, para mim, existia com a presença do senador Antonio Carlos Magalhães. O carlismo não era um movimento ideológico ou institucionalizado. Era a presença do senador Antonio Carlos, que agregava em torno dele lideranças políticas de vários setores, naipes e cores, uns mais próximos, outros menos. Claro que dentro deste movimento existiam também aqueles que faziam até um contraponto, achavam que era excessiva a participação do senador. Na medida em que você não tem a presença dele, ficaram os amigos, aqueles que têm por ele uma reverência, um homem que teve um espírito público e se devotou pela Bahia. Eu sou um deles. Sempre eu direi que todo o meu aprendizado com o senador ACM foi um aprendizado rico, e sou grato ao período em que nós participamos juntos. Entretanto, agora, a situação política ficou diversa. As pessoas que faziam parte daquele grupo se reposicionaram. Não houve, assim, uma continuidade daquele grupo político.

TB – Há quem diga que a chapa que tem menos carlistas é a do DEM...
César –
Agora cada um vai se posicionar diante dos novos fatos políticos. Essa questão de que “a chapa tem menos carlistas” é que, aqui na Bahia, se procura caracterizar as pessoas. Então, havia o carlismo, o anticarlismo, e dentro do carlismo você tinha o carlista puro- sangue. Então, isso muitas vezes é que se caracteriza que há menos carlistas na chapa de Paulo Souto. Mas eu acho que não é uma questão do carlismo ou não. Aí é uma questão de quem tinha mais proximidade com o senador, que o aceitava como uma liderança, e aqueles que não o aceitavam como uma liderança. Hoje, eu vejo que alguns até se arvoram em defensores do legado de Antonio Carlos e que, na verdade, quando ele era vivo, faziam até uma certa oposição a ele dentro do próprio grupo.

TB - Por que esse clima de animosidade entre o senhor e o ex-governador Otto Alencar?
César -
Eu tenho notado que o Otto Alencar tem procurado entrar num clima de conflito. Eu fico imaginando que tanto ele quanto Walter Pinheiro têm se arvorado em ser escudeiros do governador, uma vontade de prestar serviços ao PT e ao governo. Eu tenho me colocado em outra posição. Acho que a questão política e o debate das ideias não passam por aí. Passa por discutir a Bahia de hoje e a Bahia de amanhã, a que nós queremos. Então, eu não vou entrar nesse clima nem com A nem com B.

TB – Seriam problemas do passado, já que ele foi seu vice?
César -
Eu fico a compreender certas coisas. Se alguém guarda recalques do passado, porque eu fui governador da Bahia, tive minha posição sempre correta, reconhecida politicamente pela sociedade, minha relação com o senador Antonio Carlos. Por exemplo, houve uma espécie de reação muito forte quando eu cheguei ao PR, como presidente, comandada pelo conselheiro Otto Alencar, que era conselheiro do Tribunal de Contas e comandou essa reação interna no PR, procurando desestabilizar a minha presidência. Isso aí, quem tem que explicar, na verdade, não sou eu. Essas questões são intimas de cada um, profundas de suas idiossincrasias, seus recalques internos. Isso tem que cada um explicar, porque eu não tenho isso aí. Acho que o povo baiano me deu tudo que eu pude requerer na vida pública. Fui governador, estou no Senado. Acho que o reconhecimento do meu trabalho, inclusive até pouco tempo todas as forças políticas me desejavam, todas me cortejam e hoje passam a ser oposição diferente. Então, são críticas sem fundamentos, não são sinceras e coerentes com a posição de pouco tempo atrás, quando os jornais estampavam que eu era desejado para estar compondo a chapa, seja do governador, seja do DEM. Então, a população assistiu e fará seu julgamento.

TB - Pinheiro disse recentemente que os senadores da Bahia tinham um fraco desempenho. Isso o incomodou?
César -
Tenho respeito por todos os políticos, inclusive pelo deputado Walter Pinheiro, mas acho que se ele tem vontade de chagar ao Senado, tem que mudar um pouco. Não será de forma rancorosa, nem sendo o escudeiro do governador (aquele que vai bater no lugar do governador), que ele chegará a lugar algum. Até porque, o Senado não tem esse nível de posição. Ele usa termos que não são adequados. Waldir Pires, por exemplo, não usaria esses termos, porque ele tem outro tipo de padrão. Então, eu acho que o Walter tem que se adequar. No momento que ele tenta fazer essa crítica, para mim é uma crítica fraca, sem fundamento. Essa carapuça não cai em mim. Porque eu sou um senador que tem destaque e reconhecimento dos meus pares, da sociedade baiana e brasileira e, inclusive, dos pares do PT que compõem a base aliada no Senado Federal e nos ministérios. Os ministros reconhecem o meu trabalho, a importância, minhas relatorias. Então, não é comigo. Agora, ele tem que detalhar e nominar quem são os dois senadores, porque a carapuça não caiu em mim.

TB - Líder nas pesquisas, o senhor acredita que vai vencer? Há chances reais para isso?
César -
Pesquisa não define eleição. Pesquisa é um indicador de momento. Eu estando hoje na liderança das pesquisas, eu diria de forma bastante confortável, acho que é fruto de um trabalho desenvolvido no Senado, e fico muito mais satisfeito pelo reconhecimento da população ao meu trabalho. Agora, a eleição é algo que vai se definir na campanha eleitoral. Então, eu tenho que fazer o meu trabalho da melhor forma, agora no campo da campanha eleitoral, que é o que nós estamos fazendo e que vamos desaguar na campanha gratuita de rádio e televisão nas eleições de 3 de outubro.

TB - Como ex-governador, qual a avaliação do governo Wagner?
César -
Acho que é um governo que traçou uma perspectiva de desenvolvimento e melhorias para o estado da Bahia e de modificações, que não aconteceram. Acho que a Bahia, por exemplo, não avançou na Infraestrutura, porque a construção de uma sociedade e de um estado é uma tarefa permanente de cada um. Então, quando o governador faz a sua parcela, a gente avança; quando não faz, fica um passivo que você tem que recuperar. Então, nós temos que sempre sermos ativos e avançar sobre o que nós encontramos. Então, o governador Wagner encontrou uma base que, diferentemente do que ele chama de herança maldita, era uma base muito boa para continuar o desenvolvimento do estado. Em todos os aspectos, eu falo aspectos sócios e aspectos econômicos. Porque, nos aspectos econômicos, a Bahia é a sexta maior economia. A Bahia representava, há pouco tempo, 35% da economia do Nordeste, mas hoje ela está reduzindo. A Bahia representa mais de 50% das exportações, e tudo isso foi conseguido de um trabalho árduo feito no passado. A conquista da Ford é um grande exemplo, o Polo Petroquímico é outro grande exemplo. Então, nada disso foi conseguido no atual governo. Então, era preciso dar continuidade e em quais setores? Em alguns setores como a infraestrutura, o setor portuário, o setor aeroportuário (a Bahia tem 60 aeroportos, mas 20 estão interditados).

TB - O que deixou de ser feito?
César -
É preciso se ampliar o Aeroporto de Salvador, é preciso que se repense a infraestrutura baiana. A Ferrovia Oeste-Leste é um grande projeto, mas lamentavelmente continua tendo problemas ainda para ser efetivado. E veja que estou falando de obras estruturantes, inclusive de responsabilidade do governo federal. O governador se arvora muito amigo do presidente (Lula), mas não utiliza essa amizade para o uso da Bahia, que eu acho que essas obras estruturantes deviam colocar a Bahia sempre no papel de líder do Nordeste brasileiro. Eu não tenho nada contra o desenvolvimento de Pernambuco e Ceará, mas a posição relativa da Bahia, nesse quadro, é que nós perdemos posição.

TB - Após a desistência de ir para a chapa do PT, como ficou sua relação com o governador Jaques Wagner?
César -
É uma relação normal e civilizada. Não há dificuldade. Eu só acho que, quando se fala quase, na verdade aí é uma expressão muito forçada. Porque esse quase poderia estar até na cabeça do governador, como, aliás, ele declarou, à véspera da solução, de que estava certo comigo, mas não estava com o meu partido. Na minha visão, e eu disse isso claramente ao governador, nunca essa questão esteve resolvida. E até é bom que se frise, eu nunca tive uma iniciativa de procurar o governador para qualquer tipo de conversa ou entendimento. A iniciativa partiu dele em me procurar. E como eu acho que, na política, o diálogo é sempre um bom caminho, que nunca deve ser desprezado, não me furtei a ter esse diálogo. Mas nunca considerei a situação quase resolvida; considerei que havia conversa, mas que não era situação fácil de resolver.

TB - O senhor apoia a candidata do PT, Dilma Rousseff. Acredita que ela sustentará o debate direto com Serra?
César -
Eu não tenho dúvida disso. Já tive algumas oportunidades junto com a candidata Dilma Rousseff e vi a sua competência em todos os assuntos. Ela é estudiosa, ela domina, ela tem capacidade de entendimento. Já participei de algumas audiências públicas em que ela esteve presente e ela se saiu muito bem no Senado Federal. Ela é técnica, mas também é política. Porque tem político de vários matizes e você faz política de várias formas. Um tem o gosto mais para o popular, outro tem frases bombásticas e há outros que têm um estilo mais moderado para colocar as suas posições. Isso é do estilo de cada um. Mas isso não é deficiência. Acho que as pessoas têm que ser honestas com os seus estilos.

TB - Sobre as chantagens contra a Ademi. Há muita coisa a ser esclarecida?
César –
Essa questão da chantagem foi explicitada numa carta da Ademi, assinada, que eu repercuti no Senado. Chantagem é crime e tem que ser apurado. O que eu acho é que os órgãos competentes citados têm a obrigação de investigar se está acontecendo ou não este tipo de chantagem através de ações judiciais promovidas, muitas vezes, para que amanhã apareçam condições de executar uma chantagem. Agora, eu tenho defendido a indústria de construção civil na Bahia, pela sua capacidade de geração de emprego. Fiz discursos no Senado dizendo que é prejudicial manter uma insegurança jurídica com relação à ocupação dos espaços urbanos, sem saber quem é que tem a autoridade sobra a ocupação. É a prefeitura municipal, é o governo do estado, é o governo federal, através do Ibama? É o Ministério Público Federal ou Estadual? Então, fica o envolvimento de muitos setores, o que traz uma insegurança jurídica, porque na hora que você vai fazer um empreendimento, o banco vai financiar esse empreendimento, o consumidor vai adquirir um apartamento, ele quer segurança nessas relações. Nós estamos, através de legislação no Congresso, para resolver essa questão do conflito de competência sobre a área ambiental. A área sendo urbana, o Congresso vai definir que o ente federativo competente é o município e os outros órgãos poderão opinar.

Colaborou: Evandro Matos

Fonte: Tribuna da Bahia