segunda-feira, julho 19, 2010

Crescimento do PIB deve ser o maior em 24 anos

Antonio More/ Gazeta do Povo / Amaury Branco Belem: com  hiperinflação era difícil planejar o futuro Amaury Branco Belem: com hiperinflação era difícil planejar o futuro Macroeconomia

PIB tem retomada histórica

Retomada de investimentos, consumo em alta e inflação sob controle devem fazer país crescer 7,2% neste ano

Publicado em 19/07/2010 | Cristina Rios

A combinação de crédito e consumo em alta, retomada de investimentos depois da crise de 2008 e inflação sob controle prometem fazer com que o Brasil registre um dos cinco maiores índices de crescimento mundiais em 2010. Se confirmado, o aumento de 7,2% no Produto Interno Bruto (PIB) será o maior desde 1986, quando foi lançado o Plano Cruzado. Quase 60 milhões de pessoas – o equivalente à população de um país como a Itália – vão conhecer, pela a primeira vez, um avanço tão robusto da economia.

“É a primeira vez em que o Bra­­sil cresce nessa proporção com uma inflação de apenas um dígito”, diz Marcio Cruz, o professor de economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR). O Brasil de hoje é muito diferente do de 86. Na­­quela época, o país era assolado pelos efeitos da hiperinflação, que superava os 200% ao ano, responsável por comprometer a vida financeira de toda uma geração. O ano de 1986 ficou marcado pelo lançamento do Plano Cruzado, umas das tantas tentativas fracassadas da década de 80 de tentar domar o dragão da inflação. O plano, criado pelo então ministro da Fazenda Dilson Funaro combinou congelamento de preços, mudança da moeda de cruzeiro pra cruzado, e aumento real dos salários. O resultado foi uma forte onda de consumo, interrompida logo depois pelo fracasso do plano em conter a alta dos preços.

Freio - Risco está no déficit externo

Para economistas, a principal fragilidade do Brasil, que pode frear um desenvolvimento de longo prazo, é o déficit em transações correntes (o que o país compra e vende de produtos e serviços com o exterior). Para este ano, é esperado um déficit de US$ 50 bilhões e para o próximo, US$ 100 bilhões. Não há consenso se o déficit seria capaz de causar uma nova crise econômica em um cenário de escassez de recursos externos, mas a maioria diz que esse é um risco que precisa ser levado em consideração. “No passado esse déficit foi responsável por provocar várias crises econômicas. “É preciso lembrar que um dos motivos de o Brasil ter conseguido passar pela crise de 2008 foi o fato de ter reservas próprias e ter tido superávit em transações correntes em anos anteriores”, diz Marcio Cruz, professor da UFPR.

Passado marcado por filas e hiperinflação

Os anos de estabilidade parecem ter apagado da memória dos curitibanos os tempos de hiperinflação e a prática de estocar produtos. Nas ruas da cidade poucos se lembram do que aconteceu durante a implantação do Plano Cruzado, em 1986, durante o governo de José Sarney e muitos confundem a medida com outras implantadas no país – como o Cruzado Novo ou o Plano Real.

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Um dos principais problemas foi o fato de o congelamento não ter permitido que os preços sujeitos à sazonalidade se ajustassem. Com o tabelamento abaixo dos custos de produção, as empresas deixaram de vender no mercado, levando ao aparecimento do ágio para compra de produtos escassos, como carne, leite e automóveis. Aliado a isso, a manutenção dos altos gastos do governo ajudou a afundar o plano, que foi seguido pela volta da hiperinflação. Em novembro daquele ano o governo lançou uma segunda versão, o Plano Cruzado 2, que foi um movimento de recuo em relação ao plano anterior e, a partir daí a inflação recrudesceu. Chegou a 363% ao ano em 1987.

Bola da vez

O Brasil de 2010, por outro lado, é considerado a “bola da vez”, de­­pois da crise, com bases macroeconômicas sólidas, amplo acesso ao mercado de capitais internacional e, principalmente, uma inflação baixa e estável, lem­­bra o professor José Luís Orei­­ro, professor da Universi­­dade de Brasília (UnB). A onda de consumo atual vem sendo pavimentada graças à oferta de crédito, aumento da renda, e ascensão de milhões de pessoas para a classe C. O consumo das famílias e o crescimento dos investimentos – que crescem a um ritmo três vezes maior do que a economia – vão puxar o PIB no ano.

Além da estabilidade na inflação, outra diferença entre os dois períodos é a sustentabilidade do crescimento. Logo depois de crescer 7,45% naquele ano, o Brasil afundou em uma crise de crédito que o levou a declarar moratória, dando início a um período de avanço magro. As dificuldades recorrentes fizeram os anos 80 serem considerados “a década perdida”. “Agora o Brasil tem a chance de crescer de maneira sustentável por pelo menos dois, três anos”, afirma Oreiro.

O crescimento brasileiro na história recente foi pautado pelo chamado “voo da galinha”, em que anos de crescimento são sucedidos por outros de menor avanço ou até mesmo desaceleração.

Economistas calculam que crescimento sustentável na casa dos 7% poderia levar o Brasil a aumentar em 5,5% a renda per capita ao ano, levando-se em conta o aumento populacional anual de 1,5% . “Trinta anos de crescimento dessa ordem levariam o Brasil a alcançar um PIB per capita equivalente hoje a um país como Estados Unidos”, calcula Marcio Cruz.

Apesar de forte, o avanço de agora ainda está longe das taxas registradas durante o “milagre econômico”, que vigorou na década de 70, quando o Brasil conseguiu crescer ao “ritmo chinês” – até 13% ao ano. Mas ao contrário do que ocorre agora, pouco desse avanço foi sentido na vida da po­­pulação. O período, em meio ao regime militar, ficou marcado por uma forte concentração de renda, aumento da pobreza e da desigualdade social.

Fonte: Gazeta do Povo