Carlos Chagas
Ponto para o Lula. Em Manaus, esta semana, definiu o que deve ser a greve: uma guerra, não um período de férias. Para ele, o objetivo das paralisações é botar medo no governo ou no patrão, quer dizer, conquistar as reivindicações através da mobilização. Lembrou que nos seus tempos de sindicalista, no ABC, costumava reunir cem mil operários na rua, em manifestações permanentes, comícios e passeatas.
As coisas estão diferentes, hoje, acrescentou, porque os grevistas até contratam pessoas para colar cartazes e levar faixas, exigindo o pagamento dos dias parados, uma aberração.
Poderia o Lula ter acrescentado que mesmo causando prejuízos para a população, greve não se faz contra o povo, especialmente as camadas menos favorecidas. Existem categorias impedidas até constitucionalmente de paralisar serviços públicos, obrigadas a manter um percentual de trabalhadores em suas funções.
Tome-se os transportes coletivos, ônibus, metrô e trens. Quando param, sofre o cidadão que não tem carro. Ou o fornecimento de energia, atingindo hospitais. Para não falar na segurança pública, ou seja, nas greves de policiais. Podem ter razão ao exigir melhores salários e condições de trabalho, mas optaram por essas profissões sabendo das consequências da suspensão de suas atividades.
Gansos e cavalos
Trezentos anos antes de Cristo, Roma começava a crescer, mas era ameaçada por montes de inimigos. Certa noite os celtas se preparavam para invadir a cidade, sem que ninguém percebesse. Foi quando nos degraus do Capitólio, centro maior da vida dos romanos, gansos deram o alarme, numa gritaria inusitada. Os soldados acordaram, o povo também, e os celtas foram rechaçados. Logo um senador propôs transformar os gansos em Cônsules, idéia felizmente rejeitada pela razão.
Pouco menos de três séculos depois, Calígula era o imperador e, meio louco, meio malandro, pressionava e humilhava o Senado. Para mostrar onde estava o poder, nomeou seu cavalo Incitatus senador romano. Ninguém ousou protestar e o bicho foi recebido no plenário…
Por que lembramos esses dois episódios? Para que o eleitorado pense duas vezes antes de eleger gansos e cavalos para o Congresso…
Operação Ulysses II
Por mais que exprima uma federação de divergências, o PMDB deverá manter maioria na Câmara e no Senado. Apesar das dissidências que marcam o processo eleitoral em curso, separando algumas seções estaduais da direção nacional, há no partido quem imagine passar o apagador de divergências no novo quadro a ser revelado pelas urnas. Independentemente de quem vier a ser eleito para o Planalto, se Dilma ou Serra, e até mesmo pela presença do presidente Michel Temer na chapa oficial, um grupo de peemedebistas já pensa no dia seguinte. Por que não encontrar um denominador comum capaz de levar o PMDB a agir em uníssono? Mesmo sem superar embates ideológicos ou posições regionais, a hora seria de uma ação nacional comum, em especial no Congresso. Vale repetir, tanto faz qual será o novo presidente da República. Essa operação já tem até um nome: “Ulysses II”.
Fogo amigo
Antecipou-se a Comissão Mista das Atividades de Inteligência, ontem, no Congresso, convidando o delegado Onésimo Souza para depor a respeito da denúncia de um tal dossiê que assessores da campanha de Dilma Rousseff estariam preparando. O araponga declarou que em jantar com o jornalista Lanzetta e outros supostos integrantes da campanha, um deles mencionou a necessidade de investigarem gente do lado de José Serra, a começar pelo próprio candidato. E também Eduardo Jorge Caldas e outros. Sua maior revelação, porém, envolveu menção à hipótese de um futuro grupo de inteligência levantar dados a respeito de Rui Falcão, precisamente o responsável pela Comunicação Social de Dilma Rousseff. Coisa que o depoente classificou de “fogo amigo”. Como não aceitou a proposta para comandar o setor, ficou tudo no plano das conjecturas.
Fonte: Tribuna da Imprensa