Jairo Costa Jr. e Luana Rocha | Redação CORREIO
A sucessão estadual começou a refletir na Câmara de Vereadores de Salvador. O lance mais evidente no jogo político que se desenha para 2010 foi o anúncio feito pelas duas únicas vereadoras do DEM - Tia Eron e Andréa Mendonça - de que deixam de obedecer às ordens do partido na Casa e se
afastam do prefeito João Henrique (PMDB), formando um novo núcleo de parlamentares auto proclamados como “independentes”.
Fontes ligadas aos partidos envolvidos na disputa deste ano confidenciaram ao CORREIO que, por trás da debandada, está o desejo das vereadoras de embarcar na candidatura de Jaques Wagner à reeleição. Uma por orientação familiar. A outra pelas alianças formadas por sua principal base de apoio.
A vereadora Andréa Mendonça é filha do empresário e deputado federal Félix Mendonça (DEM), que há meses vem comungando com o projeto de poder petista. O irmão de Andrea, Félix Mendonça Júnior, também conversa abertamente sobre o desejo de assumir a herança política do pai, através de uma candidatura à Câmara Federal no barco de Wagner.
Desde setembro, Mendonça Júnior está filiado ao PDT - na mesma cerimônia que também referendou o ingresso na sigla do presidente da Assembleia, Marcelo Nilo (ex-PSDB), e de políticos historicamente ligados ao carlismo, entre eles, o deputado federal José Carlos Araújo (ex-PR), e o deputado estadual Paulo Câmera (ex-PTB).
A vereadora Tia Eron, por sua vez, é ligada à Igreja Universal do Reino de Deus, cuja orientação nacional é apoiar o PT em todas as esferas. Apesar das evidências, as duas democratas negam que a decisão esconda uma manobra para forçar o DEM a expulsá-las, pavimentando o caminho para a
filiação a um partido da base governista.
As vereadoras afirmam que a saída delas da bancada aliada do prefeito teve como único objetivo a liberdade em relação ao Executivo. “Vamos manter uma postura de independência. Vamos votar apenas aquilo que considerarmos que seja bom para a cidade”, afirmou Andrea.
A parlamentar enumerou ainda os motivos para deixar a base do prefeito. “Não concordo com a postura dele (prefeito) em mandar os projetos para a Casa sem uma discussão prévia e sempre de última hora. Assim não conseguimos debater nem com os secretários os temas pertinentes”, disse a democrata.
“O líder do prefeito na Câmara (vereador Pedro Godinho, do PMDB) não pode decidir por nós como vamos votar. Não daremos mais esse direito”, acrescentou.
ISOLAMENTO As parlamentares afirmaram ainda que negaram um convite feito pelos vereadores Alan Castro (PTN), Luizinho Sobral (PTN), Alcindo da Anunciação (PSL), David Rios (PTB) e Pastor Luciano (PMN) para integrar uma espécie de bancada independente - o que não é permitido pelo regimento da Casa, que só considera as bancadas de situação e oposição.
“Não vamos participar de nenhum bloco específico. Queremos apenas independência”, disse Eron. Na prática, no entanto, as duas vereadoras nunca foram aliadas do prefeito. Na votação do projeto para a concessão do serviço de recolhimento do lixo, Eron deixou o plenário antes da apreciação do projeto pela Casa e Andrea votou contra a proposta.
“Na verdade, elas nunca foram da bancada governista. Então a postura delas não indica uma perda”, afirmou um vereador ligado a João Henrique. Presidente da Empresa Salvador Turismo (Saltur), principal cargo ocupado pelo DEM na administração municipal, Cláudio Tinoco negou que a postura das vereadoras possa interferir na sua relação como Executivo.
“Eu me sinto muito prestigiado pela administração municipal e isso não vai influenciar. Eu dissocio completamente a postura delas com a relação entre o DEM e o PMDB”, afirmou. Já o deputado federal ACM Neto (DEM) foi mais crítico em relação à postura das vereadoras. Ele afirmou que não houve uma consulta prévia das parlamentares para a decisão.
“Não sei o motivo que levou à decisão delas. Não posso responder por elas, porque ambas não fazem política comigo, sequer em Salvador. Elas são do partido, mas não falam por ele”, disse. ACM Neto afirmou ainda que a decisão das democratas não reflete a postura do partido em relação ao prefeito.
(Notícia publicada na edição do dia 26/02/2010 do CORREIO)