Carlos Chagas
A premissa, em primeiro lugar: raras vezes na História do Brasil as forças armadas vem mantendo conduta política tão exemplar. Desde que deixaram o poder, em 1985, acostumaram-se a engolir sapos em posição de sentido. Ainda que reverenciando o passado, os oficiais-generais de hoje nada tiveram com o período autoritário, quando eram aspirantes ou tenentes.
O problema é que do outro lado muita gente procura conservar acesa a chama do confronto. E não se trata de um fenômeno peculiar ao PT. Desde o governo Fernando Henrique que a prática tem sido de isolar, escantear e até humilhar as forças armadas. Tome-se os cortes e contingenciamentos em verbas orçamentárias imprescindíveis à manutenção das suas estruturas ao sucateamento dos equipamentos imprescindíveis para o desempenho das funções castrenses e a criação do ministério da Defesa para afastar Exército, Marinha e Aeronáutica das discussões ministeriais.
O governo Lula seguiu na mesma linha dos oito anos do antecessor, até exagerando em certas figurações, comoa recente exclusão cerimonial dos comandantes das forças das proximidades do presidente da República, no desfile militar do último Sete de Setembro.
O grave, porém, é a continuidade da redução de recursos, que a anunciada mega-compra de aviões, submarinos e helicópteros não engana.
Tome-se a decisão adotada pelo Exercito, de imitar o Congresso e suprimir atividades nos quartéis às segundas e às sextas-feiras, por falta de dinheiro para providenciar o almoço da tropa. Nem se fala do cancelamento de exercícios, pelo mesmo motivo. Ou da redução drástica do número de jovens admitidos no serviço militar antes dito obrigatório.
É claro o descontamento, exemplificado pelo pedido de exoneração, semana passada, do comandante da Aeronáutica, que o presidente Lula conseguiu contornar. Por isso se diz que a temperatura anda subindo, mas, é claro, jamais a ponto de gerar inquietações institucionais. A febre cresce, mas o termômetro aguenta.
A máfia das empresas de ônibus prepara-separa atuar nas campanhas do ano que vem
Os serviços públicos, mesmo em mãos de particulares, como diria o Chacrinha, existem para servir ao público. O tempo passa, os governos se sucedem, a tecnologia avança, mas o emclçavemafioso das empresas de ônibus continua o mesmo. Em todo o país, viaturas caindo aos pedaços, em número insuficiente para atender a demanda que só aumenta, pagando miséria aos motoristas e auxiliares.
Como o mundo anda para a frente, a sociedade encontrou seus derivativos. Vieram as vans, facilitando o transporte público, assim como proprietários de carros particulares passaram a levar populares, cobrando tarifas ilegais mas necessárias ao deslocamento do trabalhador para o emprego e para casa.
Como vinham sabotando projetos inovadores do tipo ampliação dos metrôs e implantação de veículos leves sobre trilhos nas principais capitais, as empresas de ônibus passaram a pressionar as autoridades para obstar a ação de vans e carros particulares. Como são elas, as empresas de ônibus, fonte permanente de distribuição de recursos para financiar a eleição de políticos, basta somar dois e dois. O povo que se dane, em sua busca de melhores condições de transporte. As eleições vem aí, ano que vem, e como a mídia não pode prescindir da farta publicidade direta e indireta das empresas de ônibus, quem quiser que conclua sobre os motivos da ampla campanha hoje desenvolvida.
Agrados não fazem mal a ninguém, selando umentendimento prévio entre Lula, Marina e Ciro
Marina Silva e Ciro Gomes acusaram o agrado. No fim de semana, a ex-ministra do Meio Ambiente derramou-se em elogios ao presidente Lula, ressaltando em sua pré-campanha a estabilidade da moeda, a maior distribuição de renda e outras realizações do governo. O ex-ministro da Integração Nacional nãoficou atrás, referindo-se ao orgulho que tem de haver colaborado com a atual administração e praticamente informando que vai transferir seu título eleitoral para São Paulo. Mesmo disposto a concorrer ao palácio do Planalto, aceita o papel de ferrinho de dentista na candidatura José Serra.
Essa postura dos dois aspirantes à presidência da República reflete a aceitação do canto de sereia entoado pelo Lula, semana passada, ao colocá-los no mesmo patamar de Dilma Rousseff, isto é, de candidatos em condições de dar continuidade ao programa do atual governo.
O Lula não joga suas fichas fora do pano verde. Percebendo o enfraquecimento da campanha de Dilma, é claro que não irá abandoná-la, mas acautela-se elogiando dois concorrentes. Afinal, se um deles chegar ao segundo turno, mesmo em segundo lugar, contará com o respaldo dos detentores do poder. Assim, sobressai a evidência de que agrados se pagam com agrados…
Política é para profissionais, sempre disse José Maria Alckmin,demonstrando que muitas vezes as coisas não são o que parecem
Há outra leitura para a informação de que o PMDB estaria exigindo do presidente Lula e da ministra Dilma Rousseff uma definiação rápida a respeito de quem ocupará a vice-presidência na chapa da chefe da Casa Civil. À primeira vista parece que os cardeais do maior partido nacional andam ávidos de merecer a indicação, mas pode ser exatamente o contrário: querem ver selecionado quem potencialmente irá para o sacrifício para traçarem seus verdadeiros planos eleitorais.
Michel Temer, nome mais cotado até pouco, medita sobre a hipótese de ficvar sem mandato durantequatro anos, se Dilma for derrotada, jogando pela janela uma reeleição tranquila para a presidência da Câmara e a preservação do controle do partido.
Geddel Vieira Lima insiste em candidatar-se ao governo da Bahia, mesmo atropelando o PT, como forma de tornar-se peça desimportante da equação futura.
Sérgio Cabral reúne forças que imaginava não ter para afastar Lindberg Farias da sucessão fluminense e reeleger-se como solução fundamental na aliança entre o PMDB e os companheiros.
Helio Costa alega a ocupação do palácio da Liberdade como seu grande sonho. E assim por diante. Até Edison Lobão, que formaria excelente chapa com Dilma, se ela estivesse decolando, reafirma a disposição de mergulhar no pré-sal, peça importantíssima como ministro das Minas e Energia, capaz de fazê-lo sacrificar a honra de tornar-se companheiro de chapa da cabdidata oficial. Política é para profissionais, sempre disse José Maria Alckmin…
Fonte: Tribuna da Imprensa