No Império e na República, o Brasil tem travado luta contra seus melhores homens, perseguindo-os, privando-os da liberdade, até mesmo impedindo que vivessem no país onde nasceram. Lembrando, honrando e homenageando alguns deles, tento ligá-los às palavras do título, para que alguns se recordem do que fizeram, ou os que não conhecem os fatos, passem a admirar os personagens.
(Como ponto de partida, o episódio sem grandeza de Honduras, onde golpistas sacrificam o cidadão e a população, em nome da ambição. Pelo menos Zelaya e os que tomaram o Poder são utilizados para exaltar a liberdade, e os que se sacrificaram por ela).
O primeiro ASILADO do Brasil, além da família Imperial, foi o então Primeiro Ministro, Visconde do Ouro Preto, em 1889. Praticamente Republicano, (como o próprio Imperador Dom Pedro II) vai conversar com Rui Barbosa. Convida-o então (lógico em nome de Dom Pedro) para Ministro da Justiça.
Resposta de Rui: “Por favor agradeça ao Imperador. Não posso aceitar, estou envolvido num projeto que será executado com o Imperador, se for possível, sem ele se for necessário”. Era a República. Divagação e não informação. Se Rui tivesse aceito, talvez a República fosse a dos Propagandistas e não a dos marechais.
Nessa República, a primeira vítima é o próprio Rui. Deodoro e Floriano se apossaram do Poder, brigaram, Deodoro deu o golpe em 3 de Novembro de 1891, Floriano derrubou Deodoro 20 dias depois, tinha que fazer eleições, não fez, ficou como ditador.
Rui comandou a oposição, foi perseguido teve que se EXILAR. Primeiro em Buenos Aires, depois Lisboa, Paris, Londres. Com a posse de Prudente, voltou, foi senador em 1896.
Em 1930, o presidente Washington Luiz, derrubado, foi ASILADO nos EUA, junto com seu chanceler Otávio Mangabeira. Em 10 de Novembro de 1937, no mesmo dia da implantação do Estado Novo, Vargas ASILOU o ex-presidente da República (grande Nacionalista) Artur Bernardes e o diretor proprietário (altamente Conservador) do Estado de S. Paulo, Julio Mesquita Filho.
Em 1941 foi a vez do grande Monteiro Lobato. Perseguido e preso incomunicável por Vargas, solto vai para o EXÍLIO nos EUA. Em 1936, publicara o livro, “Escândalos do Petróleo”. (Já naquela época). Em 1941 escreve ao ditador impressionante carta-libelo ainda sobre o petróleo. Carta que devia ser desenterrada pela SITUAÇÃO e OPOSIÇÃO e distribuída aos alunos da escola primária até às universidades.
Em 1957, perseguido por Juscelino que tenta cassá-lo, proíbe sua ida à televisão, (junto com o jornalista Millor Fernandes, o único jornalista a sofrer tal represália) Carlos Lacerda se ASILA na embaixada de Cuba. Absolvido, retoma o mandato, inferniza o governo, ou melhor, os governos.
Quase 20 anos depois, vem o golpe de 1964, PRISÕES, CASSAÇÕES, EXÍLIOS, ASILOS em massa. Arraes, governador, preso logo no dia 1º de Abril é mandado para Fernando de Noronha, é ASILADO, só volta em 1979.
Jango, Brizola, Marcio Moreira Alves e muitos deixam o país da forma que era possível, são ASILADOS OU EXILADOS. Os guerrilheiros são quase todos mortos, os que escapam vão para o exterior.
Terroristas da ditadura resolvem copiar o que se faz na Argentina, tentam jogar 50 resistentes VIVOS, no mar, do alto do avião. Publicam uma lista com 50 nomes, sou o número 37. Apesar da censura implacável, escrevo artigo protestando contra a minha colocação como 37 na lista dos que devem ser jogados VIVOS dos aviões. Provo que só posso ser no máximo, no máximo, o número 5, ou o número 1 dos que estão no Brasil. Sou preso, mais uma vez, do que adianta?
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PS- Afirmo, reafirmo, confirmo: haja o que houver não saio do Brasil, fico aqui do primeiro ao último dia da ditadura. Rendo homenagem aos EXILADOS, foram obrigados a sair ASILADOS. Aqui ou lá fora, são os heróicos resistentes.
PS2- Depois de tantos exemplos que vêm desde o Império e atravessam a República, inventam a palavra HOSPEDADO para exibir um aventureiro que não é HÓSPEDE de ninguém. Essa palavra desonrosa, nada a ver com ASILADO ou EXILADO.
Fonte: Tribuna da Imprensa