Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - O mundo político dedicou o fim de semana à análise da mais recente pesquisa Datafolha sobre a sucessão presidencial, emergindo dois raciocínios maiores e, obviamente, conflitantes.
Para as oposições, a permanência de José Serra na vanguarda das preferências populares deixa claro ser o governador de São Paulo o próximo presidente da República. Afinal, há quantas pesquisas ele se mantém à frente? Ao mesmo tempo, festejam tucanos e penduricalhos, Dilma Rousseff não decolou, apesar da monumental propaganda oficial praticada em torno de seu nome.
Não ultrapassa os 11%%, enquanto Serra mantém-se nos 41%. Basta, para o PSDB e aliados, preservar o processo eleitoral nos moldes em que se encontra, quer dizer, sem deixar de viajar eventualmente pelo País, o candidato deve continuar centralizando sua ação política na administração do estado.
Outra lição tirada pelos tucanos é de estar por pouco o desfecho na disputa entre José Serra e Aécio Neves, no âmbito do partido. O governador de Minas perde para Ciro Gomes, na hipótese de ser o candidato, por 26% a 17%, sendo que Dilma cresce apenas um ponto, de 11% para 12%.
No reverso da medalha, mesmo forçando um pouco a mão, os governistas sustentam o crescimento de Dilma Rousseff, que de 8% passou para 11%. Rompeu a barreira de um dígito. Além disso, raciocinam que Serra mantém-se à frente apenas por já ter sido candidato, conhecido pela maioria da população apesar da derrota para o Lula, em 2002. Aplicam como reforço para esse argumento as preferências manifestadas por Ciro Gomes, outro que já concorreu à Presidência da República.
É cedo para tirar conclusões, um ano e seis meses nos separam das eleições, mas a ninguém será dado negar que acendeu o sinal amarelo postado à frente do palácio do Planalto. Dilma não decolou, ainda que daqui até outubro de 2010 muita coisa possa mudar. Por enquanto, porém, fica claro que popularidade não se transfere com facilidade. O governo Lula baixou de 70% para 65% de aprovação, parecendo claro que seus índices pessoais continuam mais acima. Aliás, é de estranhar que a Datafolha não tenha incluído na consulta a pergunta feita em ocasiões anteriores, especificamente sobre o presidente, desvinculado do governo. Por que terá sido?
Para encerrar, vale a mesma questão de sempre: se tivessem incluído o nome do Lula como candidato, mesmo por enquanto impossibilitado pela Constituição, qual teria sido o resultado? Por quantos percentuais ele teria superado José Serra? É bom tomar cuidado, porque permanecendo dona Dilma como vai logo essa pergunta estará incluída nas consultas...
Cabe todo mundo?
Os jornais de ontem dedicaram espaço para texto e fotos da mais recente realização que vem acontecendo no Senado, a construção de uma cela nos porões da Casa, de nove metros quadrados, destinada a abrigar autores de qualquer espécie de crime praticado em suas dependências. A Polícia Legislativa dá prioridade à obra, a ser concluída em uma semana.
Um gaiato que conseguiu inspecionar a cela não se conteve e indagou do pedreiro que preparava a massa: "Será que cabem todos nesse espaço tão pequeno?"...
As distâncias são as mesmas
Um dos argumentos utilizados pelos ministros do Supremo Tribunal Federal para a decisão de ser contínua a reserva Raposa-Serra do Sol foi que, dividida em ilhas, ficaria mais difícil o deslocamento dos índios entre as diversas tribos da região. Com todo o respeito aos doutos juristas da mais alta corte nacional de Justiça, fica a pergunta: sendo contínua a reserva, as distâncias foram encurtadas?
Acresce serem dezenas de etnias a apossar-se integralmente da região, a maioria delas em litígio interno, com línguas e costumes diferentes. Serão dadas as tribos a fazer visitas de boa vizinhança? Ou será que as ONGs estrangeiras empenhadas em locupletarem-se da riqueza local vão criar uma empresa aérea regional para facilitar os deslocamentos?
Melhor aviação comercial
Ficou célebre, décadas atrás, a fotografia do então presidente Richard Nixon sentado numa poltrona da primeira classe da United Airlines, viajando de Washington para Los Angeles. Era o auge da crise do petróleo, todo mundo tinha que economizar e Nixon cancelou os vôos do Air Force One. Durante algum tempo, viajava em aviões de carreira, não sendo difícil identificar agentes da segurança presidencial em fileiras próximas do presidente. Mas ele seguia como um passageiro normal, cercado de gente comum, ou nem tanto, por conta dos preços dos bilhetes de primeira classe.
Agora que o Aerolula passa por reparos, nos Estados Unidos, encontrando-se o "sucatinha" em estado meio precário, não seria o caso de o presidente Lula valer-se da aviação comercial, ao menos em longos trajetos? Está prevista sua ida a Londres, nos próximos dias, para a reunião do G-20. Aguentaria seguir pela TAM e, quem sabe, voltar pela Gol.
Fonte: Tribuna da Imprensa