O presidente dos EUA pode muito, mas não tanto quanto imagina
Nenhuma restrição, seria idiotice criticar um homem-renovação-esperança-audácia, segundo e seguindo as próprias palavras do novo presidente. O clima é diferente, a descontração é total, a satisfação mais do que visível.
Mas desde a tradicional e belíssima festa da posse, os mais diversos grupos se concentraram na tarefa de mostrar ao novo presidente quem tem força e pode usá-la, quem tem prestígio e pode exibi-lo, quem provoca ou difunde fatos, não apenas no campo dos colossais interesses financeiros.
Antes de Obama entrar oficialmente como presidente, no famoso e badalado Salão Oval (às 7 da manhã do dia 21), os meios de comunicação não perderam tempo para estabelecer ou revelar ao próprio presidente os limites dos caminhos por onde transitará sem problemas ou obstáculos. E aqueles que estarão fechados ou reduzidos para qualquer inovação que não aprovem.
Jornais (de todo o país) e televisões (abertas, a cabo ou satélite) deram a maior cobertura à dança de Obama com a simpaticíssima já primeira-dama. Foi da maior beleza e com grande repercussão. O relacionamento Obama-Michelle é realmente admirável, carinhoso, sem exibicionismo, se transformou num exemplo citado no mundo inteiro.
Mas os mesmos meios de divulgação (jornais e televisão) “esqueceram” inteiramente da família “queniana” de Obama. Presentes a todas as solenidades, não ganharam um flash, mesmo por acaso. Não saíram do anonimato, ficaram o tempo inteiro ignorados.
Como isso foi U-N-A-N-I-M-I-D-A-D-E, é evidente que houve combinação, acordo, decisão, que obviamente só podem ter sido acertados previamente. Foi tudo premeditado, determinado, planejado, direto no coração do novo presidente. E a Primeira Emenda? Os meios de comunicação se refugiam nela ou se atiram contra ela, dependendo dos interesses e das intenções.
48 horas depois da posse, Obama anuncia as três primeiras medidas efetivas, naturalmente muitas outras estão em observação, estudo e gestação. Mas essas três divulgadas já afetaram o clima de “confraternização” fraterna entre o Poder e as colossais pressões. Por enquanto embutidas ou escondidas.
Vejamos as 3 decisões.
Redução do Poder dos lobistas.
Congelamento de salários acima de 100 mil anuais. Suspensão da tortura e adiamento dos julgamentos.
Cada uma dessas medidas atingiu um alvo. É apenas o início, mas Obama tem certeza de que pode muito, mas não pode tanto. Só que atingiu certeiramente (será essa a palavra?) o mais importante setor do país, o lobismo.
1 - Não se faz nada nos EUA (leia-se: Washington) sem a participação dos lobistas. Durante muito tempo foram duramente perseguidos, lobismo era crime. Por isso não se reuniam em lugares isolados e sim com bastante gente. Lugar preferido: lobby dos hotéis. (Entradas, sempre com muita gente.) Por isso, quando oficializados, ficaram com a identificação de lobistas.
Poderosos demais, mandam e desmandam. E como o Partido Democrata e o Republicano, estejam ou não no Poder têm grandes interesses estaduais, utilizam os lobistas. Vão reagir, o presidente sentirá logo, no seu próprio partido.
2 - Tudo nos EUA é citado em termos anuais. O presidente ganha 480 mil dólares (por ano, 40 mil por mês), sujeito a imposto de renda. Tendo congelado os salários acima de 100 mil dólares anuais (mais ou menos 8 mil e 300 por mês) atingiu multidões.
Nos EUA, ao contrário do que se pensa, 8 mil e 300 dólares mensais é apenas razoável. A grande vantagem vem da aposentadoria, das horas extras, dos Planos de Saúde.
Exemplo: Policiais fardados de Nova Iorque ganham 82 mil dólares anuais, 6 mil e 500 mensais. Não serão atingidos.
Mas os agentes da CIA, FBI e Pentágono, em cargos iniciais, ganham 112 mil dólares. É lógico que existem centenas de milhares bem acima desse teto. A gritaria será geral. (Só no Pentágono, trabalham 569 mil pessoas, a maior concentração num edifício público e único. (Quantos já estarão hoje, fazendo reclamações contra Obama?)
3 - Mesmo a medida mais esperada (tortura em Guantánamo) veio em pedaços. De uma certa forma é o que pensavam e decidiram os Fundadores da República. Obama deveria ter criado uma comissão s-e-v-e-r-í-s-s-i-m-a para investigar esses crimes de lesa-humanidade. O fato das prisões e torturas terem sido localizadas em Cuba revela a intenção do governo Bush. Tentou enganar até os Fundadores, rasgando a Constituição, mas dizendo: “Nos EUA não há prisão ou tortura”. Falsidade e traição ao país.
Isso apenas 48 horas depois da posse. São assuntos importantes e até necessários, mas estão longe, bem longe das medidas que terá que tomar em setores explosivos.
Se quiser, Obama pode ler (ler, que coisa retrógrada, um presidente lendo) Eisenhower, tido como herói de guerra e presidente por 8 anos: “AGORA EU SEI QUE O MUNDO É DOMINADO PELO COMPLEXO INDUSTRIAL MILITAR”.
PS - Obama não pode fugir de pelo menos experimentar para saber se é verdade.
PS 2 - Isso sem falar nos bancos, indústria automobilística, seguradoras. Três potências, que dominam todos os governos. Se quiser conhecer o Poder de fogo das seguradoras, mande um emissário ao Estado de Conecticut, considerado a CAPITAL MUNDIAL DO SEGURO.
O “futuro” de Ricardo Teixeira
Fonte: Tribuna da Imprensa