Laerte Braga
Os resultados das eleições na Nicarágua e na Venezuela contrariaram os antigos donos do poder. Os governos de Daniel Ortega e Hugo Chaves venceram as eleições. As conseqüências são simples. Os derrotados na manifestação popular do voto não aceitam a derrota e partem para as tentativas de golpe em nome da “democracia”. Já havia acontecido outras vezes na Venezuela, como na Bolívia.
Em abril de 2002 o presidente Chávez foi preso e levado a uma base militar enquanto um empresário mafioso assumia a presidência do país em nome da “restauração democrática". Três dias depois Carmona fugia para Miami e milhões de venezuelanos nas ruas trouxeram Chávez de volta. Em agosto, um referendo popular confirmou o mandato presidencial por maioria absoluta e mais à frente Chávez foi reeleito também por maioria absoluta.
O mandato de Hugo Chávez termina em 2012. Eleições estaduais e municipais confirmaram a maioria absoluta do seu partido em governos estaduais (17 em 23) e municipais (265 em 338) e maioria absoluta também de legisladores nos municípios.
Os principais partidos de oposição, com apoio financeiro de grandes empresas e do governo terrorista dos EUA começam a se movimentar na tentativa de um novo golpe contra Chávez.
Não é difícil entender isso. É só olhar para o Brasil e perceber que de fato são as grandes empresas, os bancos e os grandes proprietários de terra que controlam o Estado como um todo. Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Um país que tem como presidente de uma suposta mais alta corte, o stf alguém como gilmar mendes não pode pretender ter a justiça respeitada pelo simples fato que não é justiça, mas balcão de negócios. Os que restam íntegros acabam à margem do processo.
Na Venezuela e na Nicarágua não é diferente. Se não podem alcançar o poder pelo voto, se pelo voto foram despejados do poder, vale dizer pela vontade popular, os donos se rebelam, insuflam golpes, recebem apoio financeiro dos donos maiores, os norte-americanos, e usam como retórica a “defesa da democracia”.
A deles. A que lhes garante a propriedade do Estado, a chave do cofre.
Aí, numa crise montada e fabricada no modelo perverso e cruel que chamam capitalismo, colocam quatro trilhões de dólares para salvar fábricas de automóveis, bancos, imobiliárias enquanto milhões morrem de fome em todos os cantos do mundo.
Ou inventam armas químicas e biológicas que não existem para se apropriar de um petróleo que não é deles.
A Venezuela é o quarto maior produtor e exportador de petróleo do mundo. Chávez colocou esses recursos para erradicar o analfabetismo, criar condições favoráveis de saúde comuns a todos os cidadãos, iniciar um processo de transformação que implica em moradia para todas as pessoas, empregos e salários justos e fim dos privilégios de uma elite podre, apátrida, carcomida pela corrupção, que é igual em qualquer país do mundo, inclusive aqui.
A mídia dominada e em poder desses grupos (aqui também é a mesma coisa) revela a “verdade” dessa gente.
O processo de transformação da vida num espetáculo, num show. Que mistura luzes feéricas da sociedade de consumo desvairado e do mercado elevado à condição de divindade. Tanto quanto, da quebra de valores fundamentais do ser, da essência do ser para que possam se apropriar de tudo e todos, transformando a vida num sonho dourado de “garota fantástica”. Ou do sucesso a qualquer preço, ainda que ilusório, na verdade, num grande e imenso mundo de fantasia e irrealidades transformadas em realidades dolorosas e cruéis, mas que servem aos interesses dos donos.
A democracia na versão desse gente só vale se as eleições forem ganhas por eles. Caso contrário um histérico com ares de bom moço padrão William Bonner, em cada canto do mundo, vai gritar “terroristas”, “ditadores”, com os bolsos e consciências jogados a um canto qualquer, respaldados por um projeto fracassado de Paulo Francis com o nome de Arnaldo Jabor. Uma espécie de pesadelo vendido por anúncios de compre um carro agora, salve a FORD da falência, pague somente em não sei quantas prestações que a diferença vai ser paga por cada um de nós nas formas privilegiadas que os donos constroem para si no modelo político e econômico.
Chávez e Ortega, como Evo Morales, Lugo e Castro, alguns outros, invertem essa lógica e transformam o Estado numa instituição de fato democrática, com ampla participação popular e fazem do progresso e das conquistas políticas e econômicas benefícios comuns a todos e não a uns poucos, retirando-lhes assim o caráter de privilégio.
O presidente Chávez está alertando as forças armadas e a população para que fiquem atentas às tentativas de golpe e saia às ruas para defender a revolução decidida no voto, ratificada várias vezes no voto, agora inclusive. Ao primeiro sinal de golpe.
Essa é uma característica de elites. Como não têm pátria, tampouco escrúpulos, são amorais, não se importam de mergulhar uma nação inteira num processo de conflito, desde que preservem as propriedades inclusive sobre os seres humanos, supostos trabalhadores, na verdade escravos guardados em pastas dos interesses sórdidos dessa gente.
O JORNAL NACIONAL apresentou uma tentativa de diagnóstico das fortes chuvas que caem em Santa Catarina, no antigo Espírito Santo (estado ARACRUZ/SAMARCO/VALE) e falou em “zona de alta pressão do Atlântico”. O que isso significa? Segundo a moça que apresentou a matéria com ares científicos, é preciso investigar.
É simples. Desmatamento inconseqüente, crescimento urbano sem o menor planejamento e desordenado em função dos interesses de empresas, presença de agentes químicos na agricultura de forma descontrolada, sempre em função de lucros, ganhos e sem a menor preocupação, por exemplo, com altos índices de doenças respiratórias, ou de depressão no ser usado e abusado ao limite extremo.
Chávez e Ortega já que falamos mais diretamente de Venezuela e Nicarágua significam o oposto disso. Chávez não iria comprar uma parte das ações de um banco de um empresário/pilantra/pistoleiro como Ermírio de Moraes, ancorado no Estado, no dinheiro público, como fez o governo Lula. Ou tampouco jogar quatro trilhões de dólares (nem os tem) em bancos quebrados para salvar o crédito, afirmando que assim abre perspectivas para os cidadãos comprarem casas de novo, carros novos e pagarem juros e prestações extorsivas que permitem aos executivos viajarem em jatinhos particulares.
É óbvio contrariam os donos. Enfrentam essa gente de cada ilha de Caras da vida, os Eikes da vida (aquele que compra Lumas no mercado).
O que acontece na Venezuela e na Nicarágua tem a ver com cada um de nós, pois é a tentativa de manter intocado esse modelo de privilégios e abusos das elites.
A violência, a barbárie, a miséria, a fome, as doenças, o que temos aqui embaixo, antes de serem desígnios de “deus”, o criado por eles, fomentado em projetos “religiosos” de poder e associados aos donos, Edir, o Macedo por exemplo (tem os menores contentes com pão de nozes e 500 reais, um cafezinho e um tapa nas costas), é a conseqüência desse modelo.
Quando do furacão Ike que devastou a cidade de New Orleans, a senhora Bárbara Bush, mãe do presidente/terrorista George Bush, disse a propósito de críticas das vítimas da tragédia sobre a demora em socorro: “não sei porque, eles aqui nos abrigos comem três vezes por dia, podem tomar banho todos os dias, estão reclamando de que?”.
É a mesma situação de Santa Catarina. Transformam o drama de milhares de pessoas em show de solidariedade, particularizam situações dessa ou daquela família para despertar a comoção nacional, enquanto esperam o início do Big Brother Brasil, um prostíbulo em sua casa e assim se sustentam no poder.
Chávez e Ortega mudaram as regras do jogo com apoio popular. Logo, têm que ser varridos e transformados em demônios.
Bom é Uribe, que prende, mata tortura e ainda produz e vende drogas.
Você pode votar em quem quiser, desde que a Mariazinha ganhe e para isso as urnas eletrônicas de Nelson Jobim, com apoio do “mensalista” Eduardo Azeredo, tucano evidente, estão aí garantindo a democracia.
E ai de você se disser que Queiroz Galvão, Norberto Odebrecht, Mercedes, Ford, GM, Itaú, Bradesco, Votorantin, etc, são quadrilhas semelhantes às de Beira-mar. A pátria amada do general Heleno cai em cima, culpa os índios e garante o progresso e o desenvolvimento. Deles, sempre o deles, com sede em Washington.
Mais de uma centena de pessoas inocentes morreram em hotéis da Índia num ataque de guerra. Milhares de palestinos morrem todos os meses nos ataques terroristas do “povo eleito”, o de Israel. Dois por cento da população iraquiana foi morta na guerra estúpida e imperialista do terrorismo norte-americano. A cada ação corresponde uma reação, é um princípio comum a algumas ciências.
O que interessa aos donos a mídia vai noticiar. O que não interessa a mídia vai silenciar.
Ou vai mentir, como no caso da Venezuela e da Nicarágua, onde os eleitores confirmaram seus governos.
E buscar o golpe para “legitimar a propriedade na marra”. Inclusive sobre o ser humano.