Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Convém não esquecer que 2010 será ano de eleição dos novos governadores, não apenas do futuro presidente da República. Sem falar nos senadores e deputados, federais e estaduais.
Vamos ficar nos governadores, hoje com ênfase para São Paulo, Rio e Minas. José Serra foi o grande vitorioso, domingo, mas Gilberto Kassab é do DEM e já declarou que permanecerá os quatro próximos anos na prefeitura de São Paulo. Abre-se um problema para o governador: candidato à presidência da República, quem o PSDB indicará para o Palácio dos Bandeirantes? Por enquanto não tem ninguém, dada à resistência de Serra diante de Geraldo Alckmin, sem falar que o ex-governador vai-se acostumando a ser derrotado. Não há tucanos à vista no horizonte paulista.
No PT acontece coisa igual. Marta parece fora do páreo, menos pela derrota de três dias atrás, mais pela impressão de arrogância que continua despertando causa de sua rejeição. O ex-marido, Eduardo Suplicy, não conta com a boa vontade dos companheiros, e Aloísio Mercadante precisa que esqueçam suas performances recentes. É cedo demais para Luiz Marinho e outros prefeitos entrarem na relação. Paulo Maluf, esbanjando competência, competirá outra vez, com as mesmas possibilidades recentes.
Resultado: o partido do presidente da República, tanto quando seu maior adversário carecem de nomes palatáveis, ainda que em um ano a situação possa mudar.
No Rio, a possibilidade do PMDB seria tentar reeleger Sérgio Cabral, mas se ele for indicado como candidato a vice-presidente, na chapa do PT, não hesitará um minuto. Garotinho não tem chance, Rosinha dificilmente arriscaria trocar o certo, na prefeitura de Campos, pelo duvidoso, no palácio Guanabara. O entusiasmo dos que votaram em Gabeira faz supor nova tentativa do ex-guerrilheiro, agora mais ampla, mas ele não é homem de aventuras e terá se ressentido da falta de estruturas políticas para disputar cargos executivos.
Os tradicionais Marcelo Crivela e Jandira Feghali poderão tentar novamente. Na antiga capital, como em São Paulo, falta renovação. Os quadros são os mesmos. Em Minas, o prefeito Fernando Pimentel aspira à indicação pelo PT, mas ficará dois anos ao sol e ao sereno, período em que o governador Aécio Neves poderá fechar-lhe o guarda-chuva da estranha aliança celebrada em Belo Horizonte. Em especial porque o ministro Patrus Ananias conta com a simpatia de Brasília. No PMDB, Hélio Costa tentará outra vez. Nas Gerais, os tucanos não voam, pulam de galho em galho.
Em suma, numa visão preliminar e sujeita às retificações do tempo, faltam candidatos de peso a governador, nos estados mais populosos do País. Quem sabe o fenômeno acabará revelando seu lado positivo, em favor da renovação?
Não se emenda
No meio da confusão criada por certos resultados decididos à última hora nas prefeituras, domingo, quem perdeu excelente oportunidade de ficar calado foi Fernando Henrique Cardoso. Porque em vez de falar de eleição o ex-presidente optou pela crise financeira mundial, batendo firme no presidente Lula. Criticou a recente decisão da equipe econômica de ajudar bancos e empresas falidas com dinheiro público, através da compra de ações pelo Banco do Brasil e a Caixa Econômica.
Ora, quem inaugurou essa farra com dinheiro do povo brasileiro foi ele mesmo com o Proer. Livrou a cara de montes de especuladores, salvos pelo seu governo. Como admitir que esteja falando sério, a não ser sob os efeitos de um surto de esquecimento?
Mesmo assim...
Os institutos de pesquisa tomaram juízo e, na reta final do segundo turno, acomodaram seus números comas tendências do eleitorado, mesmo apresentando essa abominável "margem de erro", que já foi de quatro, mas agora ficou em dois pontos, "para cima ou para baixo".
Para não dizer que não erraram, porém, tome-se o que uma dessas empresas divulgou sábado em São Paulo, corrigindo depois na tal boca-de-urna, domingo: Kassab teria 56% da votação, Marta, 40%. Ora, o atual prefeito ganhou com 60,81%. A diferença ultrapassou de muito a margem de erro, como sempre não podendo ser debitada ao eleitorado, mas à empresa, mesmo...
Não engoliram
De quando em quando o ex-ministro José Dirceu sai da toca e de seu blog, avançando bissextas entrevistas. Dessa vez, indagado sobre as possibilidades de Dilma Rousseff como candidata, ele começou dizendo que a indicação caberá ao presidente Lula, de quem pouquíssimos companheiros divergem.
Mas acrescentou que a escolha precisará ser discutida, debatida, consolidada e depois decidida. Desde que, foram suas palavras, Dilma "aumente sua taxa de conhecimento". Para bom entendedor, o ex-chefe da Casa Civil não engoliu até agora a candidatura de sua sucessora no palácio do Planalto. O que Dilma precisaria conhecer mais? Os aliados do PT ou o próprio PT?
O ministro Tarso Genro é outro petista que se curva à possível decisão do presidente Lula, mas prefere enfatizar a transferência de popularidade e de votos para Dilma, evitando por enquanto ressaltar as qualidades da candidata. Para ele, o PT não admite o raciocínio de que José Serra é o favorito. Haverá que disputar voto a voto, na hora certa.
Fonte: Tribuna da Imprensa