quarta-feira, outubro 01, 2008

"Ministros, para que ministros?"

Por: Carlos Chagas

BRASÍLIA - Fenômeno no mínimo curioso acontece esta semana, reta final das eleições municipais de domingo. Nada menos do que doze ministros, entre os que divulgaram, podendo ser muitos mais, pediram licença ou entraram de férias. Estão participando ativamente das campanhas de seus candidatos, nos respectivos estados. Entre eles Edison Lobão, das Minas e Energia, no Maranhão; Tarso Genro, da Justiça, no Rio Grande do Sul; Paulo Bernardo, do Planejamento, em Santa Catarina; Helio Costa, das Comunicações, em Minas; Dilma Rousseff, da Casa Civil, em diversos estados.
Não haveria nada a opor porque a lei assegura férias e licenças (sem vencimentos) para todo funcionário público. Sendo políticos, ou pretendendo ser, Suas Excelências têm direito de ajudar os correligionários.
Só que há um problema para os ministros hoje desaparecidos de seus gabinetes. Seus ministérios continuam funcionando com os substitutos. O governo não parou, pelo contrário, sua performance pode até ter melhorado um pouquinho pela ausência de deputados, senadores e lobistas nas ante-salas.
Sendo assim, aquele menininho que um dia denunciou a nudez do rei pode desembarcar na Esplanada dos Ministérios e indagar com toda inocência: "Ministros, para que ministros?"
Talvez por essa razão o presidente Lula tenha, no último fim de semana, encerrado sua participação nas campanhas. Mantém agenda protocolar, até viajando a Manaus para encontrar presidentes de países da Bacia Amazônica. Assinou o novo acordo ortográfico dos países de língua portuguesa e despacha rotineiramente, senão com todos os ministros, ao menos com aqueles que permaneceram em Brasília.
Se o tiro não sair pela culatra, quer dizer, se os candidatos apoiados pelos ministros não forem derrotados, pelo menos um sinal de alerta acende diante de cada um deles. Afinal, se seus ministérios funcionam sem eles, serão mesmo supérfluos?
No reverso da medalha vale lembrar um episódio de décadas atrás. No auge do prestígio internacional por conta do Sputnik, de Yuri Gagarin e outras conquistas espaciais, o poderoso czar de todas as Rússias, Nikita Kruschev, pôs-se a viajar pelo mundo. Numa de suas passagens por Nova York, foi interpelado pelos jornalistas a respeito de quem governava a União Soviética, se ele permanecia quase sempre ausente. Resposta: "Quem governa? Ora, quem governa é o governo...".
Os ministros ausentes de Brasília poderão parafrasear Kruschev: quem ministra é o ministério...
Por que ela e não ela?
Importa insistir numa pergunta que não demora a tomar conta de São Paulo, no caso de Marta Suplicy vencer no primeiro ou no segundo turno: por que ela e não eu?
Ela, no caso, é Dilma Rousseff, candidata praticamente lançada à sucessão de 2010 pelo presidente Lula. Afinal, Marta terá comprovado ser boa de urna no centro eleitoral mais importante do País, enquanto a chefe da Casa Civil permanece virgem de votos. Jamais disputou uma eleição e só agora começa a freqüentar palanques. Trata-se de uma incógnita eleitoral, apesar da força que o presidente Lula faz e mais fará para transferir-lhe sua popularidade.
Vitoriosa, Marta desfilará pelo País inteiro como a prova viva de que o PT não submergiu. Se colocado nas pesquisas, seu nome logo encostará em Aécio Neves, Ciro Gomes e, quem sabe, José Serra. Se ao mesmo tempo Dilma permanecer lá em baixo, a pergunta íntima do "por que ela e não eu?" logo mudará para embaralhar os pronomes: "Por que ela e não ela?".
Monótona repetição
Faltam poucos dias, melhor seria dizer horas para a monótona repetição de uma lei que até hoje não pegou. Porque há décadas que a Justiça Eleitoral proíbe o assédio na boca das urnas. Pode ser preso o cidadão que, nas filas ou próximo das sessões eleitorais, pedir votos para este ou aquele candidato. Em certas cidades grandes, melhor falando, em certos bairros de certas cidades grandes, é possível à polícia e aos juízes fiscalizar a determinação.
Mas no País inteiro, dos grotões às favelas, das pequenas vilas aos municípios distantes, o aliciamento de eleitores continuará uma constante. Em especial na escolha de vereadores, porque pelas pesquisas, até hoje, mais da metade dos cidadãos não sabe em quem votar. Para prefeito, ainda vai, a maioria terá feito sua escolha, mas para vereador, de jeito nenhum. Assim, a sorte de boa parte dos candidatos será decidida minutos antes do digitar das teclas.
Será mesmo crime fazer campanha na boca das urnas? Pode ser que não, desde que, é claro, a propaganda não perturbe o bom andamento da votação, com barulho e até violência. Durante dois meses foi permitido aos candidatos mostrar-se e exercitar as mais ridículas formas de conquistar votos. Na hora da decisão devem eles e seus cabos eleitorais cruzar os braços e calar?
Acresce tratar-se de uma lei inócua. Se não forem instalados grampos e câmeras de televisão em cada fila das sessões eleitorais, quem garante que o nosso vizinho de trás não estará perguntando em quem vamos votar e se não admitimos mudar de preferência pouco antes da decisão?
O retorno dos que não partiram
Dos deputados federais candidatos a prefeito, em todo o País, a expectativa é de que nem 50 se elejam. Assim, depois de domingo, voltarão a Brasília para enfrentar perguntas inocentes ou maldosas a respeito de porque perderam.
A lei permite que parlamentares candidatem-se a outros postos eletivos sem precisar renunciar aos mandatos. Trata-se de uma liberalidade antiga, que Suas Excelências concederam a Suas Excelências mesmo. Não se questiona a preferência de deputados e até de senadores, quando preferem deixar o Congresso para disputar prefeituras, em especial de cidades politicamente importantes. Nesse caso, estariam posicionando-se para concorrer a governador, mais tarde.
O problema é que, além do constrangimento de não terem vencido, os deputados derrotados chegarão de crista baixa, em se tratando das próprias reeleições. Terão sido rejeitados pelo seu eleitorado mais próximo, conseguirão reverter a tendência e posicionar-se para pelo menos permanecer onde estão daqui a dois anos? A conseqüência parece óbvia: se já não prestavam muita atenção nos trabalhos parlamentares, menos prestarão quando de seu retorno...
Fonte: Tribuna da Imprensa