Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Enquanto os políticos tentarão adaptar-se aos resultados do segundo turno das eleições municipais, projetando-os de imediato na sucessão presidencial de 2010, existem temas bem mais prementes, mas não menos complicados. O novo mandamento que domina o planeta, sabe-se lá para durar quanto tempo, refere-se à intervenção do estado no mercado, ou seja, do poder público como fator preponderante na economia. Ditada pela necessidade, trata-se de uma inversão completa dos postulados neoliberais agora fluindo pelo ralo.
Há, no entanto, um problema, ou, se quiserem uma safadeza: o estado deve intervir em favor de quem? Não deveria ser dos especuladores, dos dirigentes de bancos e financeiras que arriscaram o patrimônio de seus correntistas e depositantes. Se a culpa pela crise é deles e de sua ambição desmedida, à hora seria de responsabilizá-los e puni-los, no mínimo promovendo seu afastamento da gestão das empresas levadas à falência. Até mesmo a obrigação de arcarem com seu patrimônio no ressarcimento dos prejuízos.
Na Inglaterra e em outros países da Europa a roda começou a girar e atinge os primeiros malandros. Nos Estados Unidos, apenas se anunciou essa disposição, até agora irrealizada. E no Brasil? No Brasil, nada além de desabafos bissextos do presidente Lula contra os especuladores que ele não nomeia nem bota medo.
Aqui, as medidas ditas estatizantes são promovidas de comum acordo com os especuladores, que continuam indo muito bem, obrigado. Porque são eles a mover os cordéis dos marionetes da equipe econômica, evitando-se o constrangimento de citações nominais. Os anunciados 50 bilhões de dólares que o Banco Central utilizará para tentar conter a alta do dólar favorecerão os apostadores do mercado futuro, aqueles que acabam de perder fortunas dos outros, não deles. Sem esquecer que essa olímpica importância sairá de nossas reservas depositadas lá fora, patrimônio público e não particular.
Já sofremos a injustiça de os Estados Unidos e outros países ricos mandarem a conta da crise para o Hemisfério Sul, como demonstra a fuga de dólares e a conseqüente elevação na sua cotação. Pois agora, percebe-se, a sabotagem também vem de dentro. Inexiste um único potentado financeiro que tenha perdido dinheiro. Ao contrário, muitos vão ganhar ainda mais.
No ministério ou na Unesco?
Calçando o salto alto que imaginou estar nos pés de Gilberto Kassab, dona Marta arruma as malas. Poderá voltar para Brasília, ocupando algum ministério, não obrigatoriamente o do Turismo. Corre na Esplanada dos Ministérios, porém, que o presidente Lula poderia compensá-la pelo sacrifício feito na disputa pela prefeitura paulistana nomeando-a para a chefia da representação do Brasil na Unesco, em Paris. No passado já se cogitou dessa hipótese.
Um obstáculo surge, porém, na figura do chanceler Celso Amorim. Desde que demitiu o então embaixador do Brasil em Portugal, Paes de Andrade, o ministro de Relações Exteriores obteve do presidente Lula o compromisso de ninguém fora da diplomacia ocupar embaixadas e postos correlatos, lá fora. A Unesco voltou a ser feudo do Itamaraty desde o retorno de Fernando Pedreira, nos tempos de Fernando Henrique. Designar Marta para aquela representação despertaria amuos na casa do Barão do Rio Branco.
O povo, para onde foi?
Na Espanha, depois de 42 anos de ditadura, o generalíssimo Francisco Franco encontrava-se às vésperas de ganhar o Paraíso. Seus auxiliares buscavam ampará-lo de todas as formas, nos momentos de lucidez. Um deles anunciou o ingresso no hospital de uma comissão de populares empenhada em homenagear o caudilho. Consultado sobre a presença da comissão, que vinha despedir-se, Franco teria indagado:
"O povo veio despedir-se? Para onde vai o povo?"
Guardadas as proporções, em algumas capitais onde se realizaram eleições pelo segundo turno alguns candidatos bem que poderiam perguntar coisa parecida: "O povo? Para onde foi o povo que deixou de me dar o seu voto?"
As próximas pesquisas
Aguarda-se com ansiedade os números das próximas pesquisas que os institutos promoverão, agora sobre a sucessão presidencial de 2010. Apesar de olhadas com desconfiança, dados os resultados mais recentes, as pesquisas ainda poderão indicar tendências.
Quais os percentuais de Dilma Rousseff? Manterá os anteriores 12%, embasada na popularidade do presidente Lula mas contrariado pela má performance no PT nos grandes centros? E quanto a José Serra, bafejado pela vitória de Gilberto Kassab, em São Paulo, mas nem tanto assim no restante do País?
Crescerão de novo Aécio Neves e Ciro Gomes?
Possivelmente não na próxima, mas numa não tão longínqua consulta popular, a pergunta que não quer calar acabará sendo feita: "E se o presidente Lula vier a ser candidato, votará nele?" Muitos companheiros continuam não pensando em outra coisa, agora cientes de que votos dificilmente se transferem.
Fonte: Tribuna da Imprensa