por Deoclécio Galimberti
Em Londres, os carros esperam os pedestres atravessarem as ruas; em Zurich, não há vendedores de jornais, o comprador apanha o seu e faz o troco. Aqui, atravessar a faixa zebrada é risco de vida. Deixar jornais e caixinha de dinheiro, nem pensar. Não podemos exigir um Brasil igual à Inglaterra ou à Suíça. É praticamente impossível por fatores de natureza histórica. Mas almejamos pelo menos a realidade, a sinceridade e a verdade, e que sejam banidas do povo brasileiro a fantasia, a falsidade e a mentira. Em nosso País, verificamos que, com o avanço das comunicações, o governo agarrou-se na mídia como o mais valioso instrumento para influenciar a população, com estratégias para conquistar apoio, e artimanhas para defenestrar adversidades. À toda investigação negativa ao governo, vêm de imediato os desmentidos na imprensa, sempre atrelados a anúncio de melhorias ao País. Agora, no auge das discussões dos grampos no STF, o presidente anunciou a riqueza petrolífera do litoral brasileiro, para calar a oposição. Só que não era novidade. Ainda no tempo de JK, há quase 50 anos, foram feitos estudos e considerada anti-econômica a transposição das camadas de sal. Nosso criativo governo, no entanto, retoma as pesquisas prometendo utilizar recursos do FGTS. Entretanto, os depósitos dos trabalhadores atingem a apenas ínfima parcela do necessário.Nos países orientais, a simples desconfiança de corrupção leva o dirigente estatal a cometer suicídio público. Aqui, um ministro da República declara que, na condição de relator da Constituinte de 1988, inseriu dois artigos sequer examinados pelo Plenário, e nada lhe acontece. O mesmo, após emigrar para um ministério, ocupou a chefia de um Poder do Estado, e volta a integrar o governo. Agora, ainda sob os efeitos das ilegais escutas clandestinas que escandalizaram o governo, assumiu – segundo um jornalista – “o posto de controlador-geral da imprensa brasileira”, com a luminosa idéia de punir os órgãos de divulgação e penalizar criminalmente o profissional que não revelar a fonte. Ora, inexiste meia-liberdade. O homem tem ou não tem liberdade. Ruy Barbosa dizia: “a liberdade tolerada (...) é a mais duradoura das formas de cativeiro”. Sua carência é mais sentida entre os pobres, que a trocam por favores, motivando o presidente americano Franklin Delano Roosevelt a afirmar: “os homens necessitados não são homens livres”! Não seria este o principal motivo que mantém a pobreza brasileira silenciosa com as promessas não-cumpridas?
Revista Jus Vigilantibus,