Entidade fixou prazo de três meses para mercado reavaliar preços
Osvaldo Lyra
A redução no número de acidentes em todo o país, gerada pela aplicação da lei seca, levou a Federação Nacional de Seguros Gerais (Fenseg) a repensar os valores cobrados nos seguros de automóveis no Brasil. Essa semana, o presidente da Fenseg, Jayme Brasil Garfinkel, fixou em três meses o prazo necessário para que o mercado reavalie os preços cobrados atualmente. Só em Salvador, a redução do número de sinistros (acidentes e colisões) foi de 57%, desde o início da nova lei, no dia 20 de junho.
De acordo com dados fornecidos pela Federação, essa reavaliação poderá ser possível, já que as indenizações pagas por colisões (com perda total ou parcial) representaram 54% dos desembolsos totais no ano passado, o que perfaz um total de R$2,5 bilhões. Roubo e furto figuraram como a segunda causa de indenizações de carros de passeio nacionais, respondendo por 42% do total dos desembolsos de 2007. As primeiras projeções indicam uma queda entre 10% e 12% no valor do seguro.
“O que se sabe até agora é que o número de vítimas de acidentes caiu, mas o mercado de seguros ainda vai precisar de mais tempo para identificar a tendência da sinistralidade. Pode ser que, isoladamente, alguma seguradora baixe agora o preço, o que não acredito, já que o mercado terá uma visão melhor dos impactos da Lei Seca dentro de três meses”, disse Jayme Brasil. A Fenseg acredita que se caírem as vítimas de acidentes de trânsito e baixarem os sinistros por colisões, tudo vai diminuir e impactar positivamente no preço do seguro.
Cautela - O presidente da Federação Nacional de Seguros Gerais aproveita o momento para pedir cautela ao mercado. Ele lembra que as seguradoras experimentaram uma queda repentina na sinistralidade nos primeiros meses de adoção do Código Nacional de Trânsito, atualizado em 1998. Para Garfinkel, o rigor na fiscalização da lei seca será o grande divisor de águas. “A nova legislação terá impacto em âmbito nacional, mas a fiscalização será o divisor de águas. Se as pessoas acreditarem que haverá fiscalização, a tendência é de forte queda do número de acidentes. Já nas regiões em que não houver fiscalização adequada, a sinistralidade por colisões não deverá cair, nem ao menos os preços cobrados”.
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Mercado baiano vê previsões com cautela
O presidente do Sindicato dos Corretores e Empresas de Seguros da Bahia (Sincor-BA), Reginaldo dos Santos, vê com bons olhos a projeção feita pela Federação Nacional de Seguros Gerais, mas pede cautela do mercado. Ele se diz favorável à queda nos preços praticados no estado. Mas, para que aconteça uma redução efetiva (de no mínimo 20%), ele defende a manutenção do rigor nas fiscalizações da lei seca e uma melhoria efetiva da segurança pública, que gere a diminuição do índice de roubos e furtos. “Esperamos que já nos próximos 90 dias as seguradoras possam oferecer melhores preços, tanto nas renovações dos seguros, como nos contratos novos. Isso, ao menos influenciado pela nova norma de condução dos veículos”.
O dirigente do Sincor-BA fez questão de explicar ainda que o valor dos seguros de automóveis são calculados de acordo com o perfil do cliente. “O seguro é uma taxa de risco e é computado através do perfil do condutor. Tem que saber qual a finalidade do carro, se será usado para trabalhar ou para passeio, quais bairros serão trafegados com maior freqüência, horário e dias de utilização do veículo. Portanto, se você usa seu veículo para trabalhar, em horário comercial, é calculado um determinado valor. Já se usa mais à noite e aos fins de semana, recebe uma classificação de risco maior, o que acaba elevando o preço final”.
Interior - Diferente de Salvador, em que houve redução no número de sinistros devido à aplicação da Lei Seca, no interior esse número não foi modificado. Marcelo Borges, consultor de vendas da Qualit Seguros (segunda maior corretora de seguros de Feira de Santana), diz que a nova legislação teve mais impacto na capital e até mesmo em Feira. “No entanto, no interior do estado, onde não há fiscalização, ela não interferiu”.
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Seguradoras esperam crescimento em 2008
O mercado de seguros, previdência aberta e de capitalização deverá crescer cerca de 7% em 2008. A estimativa é da Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização (Fenaseg). De acordo com o presidente da entidade, João Elisio Ferraz de Campos, as projeções consideram apenas o comportamento da economia e a conjuntura atual. A expectativa é que o segmento de seguros apresente um crescimento de 10% e o de capitalização de 3%. Já o de previdência complementar deverá registrar queda de 7%.
As provisões e o patrimônio das seguradoras, ou seja, as suas reservas que estão aplicadas na economia do país, ainda crescerão 20%, chegando a R$140 bilhões no final do ano. E o setor devolverá à sociedade, sob a forma de indenizações e benefícios pagos, cerca R$35,7 bilhões, ou seja, 15% a mais do que o montante pago em 2004. “São números eloqüentes, que mostram a importância do mercado segurador para o país, que devolve à sociedade com grande rapidez todos os estímulos que lhe são dirigidos”, afirmou.
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Ações no trânsito geram redução de acidentes
Na capital baiana, a redução de sinistros foi de 57% desde o início da lei seca. Segundo dados da Superintendência de Engenharia de Tráfego (SET), em 2007, houve 4.272 acidentes de trânsito nos meses de junho e julho. Já em 2008, o número caiu para 1.817 acidentes. De acordo com o superintendente do órgão, coronel Adelson Guimarães, essa redução não pode ser creditada apenas à lei seca, mas também, nas ações de ordenamento do trânsito, implantação das lombadas eletrônicas e ações de educação na cidade.
O coronel Adelson diz que os números mostram que a lei foi bem recebida pela população e, sobretudo, pelos órgãos executores do trânsito. “Esta nova legislação só amplia a responsabilidade da SET, no sentido de assegurar à cidade um trânsito mais seguro, o que de fato vem se verificando”, ressalta, ao fazer referência ainda à eficácia na fiscalização dos motoristas que dirigem sob efeito do álcool.
Estimativas - Diante dos números apresentados, Salvador se coloca à frente da estimativa nacional. O ministro da Justiça, Tarso Genro, afirmou na última semana que a nova lei deverá reduzir de 30% a 40% o número de acidentes e mortes causadas pelo consumo de álcool no país.
Fonte: Correio da Bahia