terça-feira, julho 22, 2008

Sem ACM, carlistas vêem o eleitorado se dividir

Leonardo Leão, do A TARDE
Mesmo falecido há um ano, Antonio Carlos Magalhães (ACM) continua dividindo opiniões. Acontece que a Bahia está em plena disputa eleitoral e, pela primeira vez em décadas, não conta com a participação dele, que foi uma das figuras centrais da política nos últimos 50 anos.
“Nesta eleição, não contamos com a participação do líder carismático, que sempre teve um terço do eleitorado ao seu lado, algo determinante nas disputas em todo o Estado. Tal situação muda completamente o cenário, que era dividido entre ‘carlistas’ e ‘anti-carlistas’ até as últimas eleições”, afirmou o cientista político Antonio Fernando Guerreiro, professor do Departamento de História da Universidade Federal da Bahia (Ufba).
Segundo ele, como ninguém ocupou ainda o lugar de ACM na liderança dos Democratas na Bahia, seu grupo tem perdido espaço. “Entretanto, nem o PT conseguiu alterar a cultura política, ao chegar ao governo do Estado, nem os outros partidos, como o PMDB e PSDB, representam mudanças nessa estrutura. Assim, mesmo que o DEM e seus partidos aliados reduzam ainda mais o número de prefeituras sob seu comando, nada mudará nos próximos anos, já que todas as alternativas seguem a tradicional cartilha do clientelismo e personalismo”, disse Guerreiro.
Importância – Apesar de reconhecer a importância de ACM, Paulo Fábio Dantas Neto, professor de Ciência Política da Ufba, não acredita que sua falta fará diferença. “Quando ele faleceu, não estava mais no poder. Ainda controlava seu grupo, que já estava reduzido, mas não tinha mais tanta interferência nas decisões políticas. Estamos vivendo um processo de mudanças, que pode ter sido acelerado com sua morte. Tais mudanças começaram no início dos anos 2000”, afirmou Dantas Neto.
“No passado, principalmente na década de 90, havia uma situação dominante, em que a política baiana era unipolar, ou seja, havia um grupo no controle e uma oposição dispersa que não se constituía em uma alternativa de poder”, relembrou.
“Hoje, temos uma bipolaridade que se iniciou em 2002 e se consolidou em 2006. De um lado, temos o campo governista do PT e, na oposição, o grupo carlista, sendo que este cenário muito pouco será influenciado pelas disputas municipais. Há uma tendência a um quadro multipolar, mas isso só deve se configurar após as eleições de 2010”, disse.
Futuro – O petista Rui Costa, secretário de Relações Institucionais do Estado afirmou que “as discussões sobre 2010 ainda são prematuras. Os elementos que definirão como se dará a divisão de forças na Bahia serão decorrentes do cenário nacional”.
Atualmente, pondera o secretário, a política baiana vive uma polarização de caráter diferente, onde as aglutinações se dão por meio das idéias e projetos dos partidos e não por decisão de um grupo específico.
Para o presidente estadual do DEM, o ex-governador Paulo Souto, o principal legado de ACM foi ter formado um grupo político com propostas bem definidas, que trabalha em prol do partido e da Bahia. “Somos o partido mais coeso, sempre seremos referência para a população em épocas de crise, como aconteceu por duas vezes no passado recente”, disse, referindo-se aos momentos em que o grupo liderado por ACM voltou ao poder após as passagens dos anti-carlistas Waldir Pires e Lídice da Mata pelo governo do Estado e Prefeitura de Salvador, respectivamente.
“Antonio Carlos Magalhães não deixou legado algum. Seus 40 anos no poder se esvaíram em menos de um ano, provando que ele já estava no ocaso político”, enfatizou Geddel Veira Lima, ministro da Integração Nacional e líder do PMDB na Bahia. “Na campanha atual em Salvador, até a logomarca de seu neto não explora a sigla ACM em primeiro plano”, destacou.
Em relação à marca de sua candidatura a prefeito de Salvador, ACM Neto afirmou que não acha justo usar a memória do avô de forma exagerada. “As pessoas sabem do meu respeito, carinho e admiração por ACM, mas, por outro lado, compreendem que estamos vivendo um momento novo”. Para ele, o avô, com sua forma de fazer política e peculiaridades, determinou uma dinâmica no Estado que só era possível com sua presença física.
Fonte: A TARDE