quinta-feira, maio 29, 2008

Quem não entrega BH, entregará Brasília?

Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Amanhã o Diretório Nacional do PT decidirá, em definitivo, aquilo que a Executiva Nacional já antecipou segunda-feira: o partido não aceita o acordo celebrado pela seção de Minas Gerais, abrindo mão de lançar um candidato próprio à Prefeitura de Belo Horizonte e aliando-se ao PSDB e ao PSB, de onde sairia o candidato, Márcio Lacerda.
Caso o Diretório Nacional confirme a decisão, estará caracterizado um curto-circuito nas relações entre o governador Aécio Neves e o presidente Lula. Porque a ninguém será dado duvidar de que a cúpula mais alta do PT se pronunciará à revelia de seu chefe maior. É claro que, de público, o presidente lava as mãos e afirma tratar-se de um problema do partido. Em particular, porém, as coisas se passam de modo diferente.
Ainda mais porque, pelo singular posicionamento da Executiva Nacional, dezenas de alianças estão autorizadas com outros partidos, inclusive os tucanos, mas desde que o candidato saia dos quadros do PT. O veto é egoísta, vale para impedir os companheiros de ficarem a reboque de outros candidatos, mas inexiste no reverso da medalha. Se for para um petista ser apoiado por outros, tudo bem.
Os mineiros dedicam-se à missão quase impossível de tentar virar o jogo no Diretório Nacional, mas, pelo jeito, vão fracassar. O episódio dá bem a medida do que acontecerá na sucessão de 2010. Se não admitem perder a Prefeitura de Belo Horizonte para os adversários, estariam dispostos a entregar a presidência da República, abrindo mão do poder nacional que exercem?
É por aí que surpresas, reviravoltas institucionais e golpes brancos poderão acontecer. No ano que vem, quando ficar claro que nenhum candidato do PT conseguirá eleger-se, os companheiros apelarão para todo o tipo de artifícios. A começar pela realização de um plebiscito e, depois, a natural reforma da Constituição para permitir ao presidente Lula disputar o terceiro mandato. Quem viver, verá.
Exércitos brancaleone em luta
Nesse estranho confronto entre os ministros Mangabeira Unger e Carlos Minc, verdadeira guerra entre dois exércitos brancaleone, registre-se o que aconteceu terça-feira. Antes de tomar posse, o novo ministro do Meio Ambiente anunciou, sem haver participado antes ao presidente Lula, que logo os dois estarão de botas e luvas, embrenhando-se em rios poluídos para catar lixo e, em especial, pneus velhos. Uma temeridade, imaginar o chefe do governo disposto a tal aventura.
Para não ficar atrás, Mangabeira Unger deu entrevista ressaltando que "a Amazônia não é só assunto de ambientalistas", completando com outra pérola: "Eu me julgo ignorante em assuntos amazônicos, mas meu objetivo não é produzir efeitos midiáticos".
Fosse outra a concepção do presidente a respeito de como governar o País e os dois ministros estariam demitidos antes mesmo da posse de Minc. Porque essa briga de meninos mal-educados só faz desmoralizar o governo. Como dizem que Lula cultiva dissenções entre seus auxiliares, a previsão é de que esse festival de baixarias vá continuar, pelo menos até que a farsa se transforme em drama.
Paulinho na mira
Não deixa dúvidas a decisão do corregedor da Câmara, Inocêncio Oliveira, de pedir à direção da casa a abertura de processo contra o deputado Paulo Pereira da Silva por quebra do decoro parlamentar, junto ao Conselho de Ética. Aceitando a representação, os integrantes da Mesa da Câmara tornarão proibida a renúncia do deputado, para escapar da cassação. E esta, ao que tudo indica, é inexorável, tamanho o volume de evidências colhidas contra o "Paulinho da Força Sindical" pela Polícia Federal.
O episódio envolve conteúdo mais explosivo do que flagrar um deputado em práticas pouco éticas. Revela estar em frangalhos a outrora esperança sindicalista que dominou o país há algum tempo. Com a eleição do presidente Lula as centrais sindicais encolheram, perdendo seus objetivos de progresso social. Transformaram-se em núcleos de usufruto do poder, rótulo que não se aplica apenas à Força Sindical. Na CUT, se o açodamento não vai a tanto, fica perto.
O que dizer da criação de montes de ONGs fajutas, saídas como filhotes do seio de uma organização que chegou a entusiasmar o Brasil, mas há anos se encontra inerte e inodora? Qual a grande causa, a grande mobilização que essas entidades têm promovido? No máximo, resumem-se a espetáculos de música popular oferecida a seus associados no Dia do Trabalho.
Fecharam-se feito caramujo diante do governo dos trabalhadores, talvez imaginando sacrilégio se continuassem a lutar pela melhoria das condições de vida dos assalariados. Estariam imaginando que apenas os metalúrgicos paulistas são trabalhadores?
Exemplo peruano
De passagem por Brasília para acompanhar o presidente Alan Garcia, o embaixador do Brasil no Peru, Jorge Taunay, lembra como aquele país livrou-se dos efeitos da queda do dólar em sua economia. Logo que a moeda americana começou a dar sinais de enfraquecimento, o presidente do Banco Central peruano baixou determinações para coibir a ação do capital-borboleta, nome lá adotado para caracterizar seu sucedâneo no Brasil, o capital-motel, aquele que chega de tarde, passa a noite e vai embora de manhã, depois de estuprar um pouco mais nossa economia.
No Peru, foi criada taxa de 60 a 120% para os especuladores que pretendessem apenas lucrar com operações relâmpagos. Capital estrangeiro, lá, só entra se for para investir em atividades produtivas, obrigado a permanecer longo período. Lucrando, é claro, mas colaborando para o desenvolvimento do País. Foi adotar essas medidas e o dólar recuperar-se até um patamar razoável, deixando de prejudicar as exportações. E nenhuma crise atropelou a economia local.
Ainda a respeito do Peru, nosso embaixador ressalta ser visão do governo Alan Garcia que o Brasil é seu melhor parceiro. Continuam grandes nossos investimentos feitos lá. Entendem os peruanos que podem confiar em nós.
Em ritmo de Olimpíada
Com a chegada do ministro Gilmar Mendes à sua presidência, o Supremo Tribunal Federal adquiriu ritmo invulgar de trabalho. Depois da decisão a respeito das células-tronco, espera-se que ainda neste primeiro semestre a mais alta corte nacional de justiça resolva a questão da reserva indígena Raposa-Serra do Sol. Como sempre, fica impossível prever sentenças judiciais, mas importa que elas não demorem
Fonte: Tribuna da Imprensa