Aspásia Camargo
vereadora
A saída de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente demonstra que o Brasil não incorporou a questão ambiental como variável estratégica e que sucessivos governos têm sido incompetentes em utilizar as oportunidades do desenvolvimento sustentável. Meio ambiente não é problema, é solução.
Se o Brasil fosse a China, não deixaria de aproveitar melhor suas florestas como ativos econômicos e ambientais. Nós, filhos do Império Lusitano, improvisamos e até o etanol está levando pancadas, enquanto os chineses vendem quinquilharias com sucesso. Lula, que tem o mérito de se comunicar bem com o seu povo, tem também o defeito de olhar o mundo com visão antiquada que não percebe que vivemos hoje em um mundo de escassez de recursos naturais e de turbulências climáticas.
Um secretário do Amazonas disse um dia que o Brasil vê a Amazônia com binóculos ao contrário. À distância e com visão distorcida, preferindo a Transamazônica a usar caudalosos rios como hidrovias.
A política ambiental brasileira foi construída com brilho pelas mãos de Paulo Nogueira Neto, o homem que inventou, junto com Gro Brundtland, o desenvolvimento sustentável. Ele construiu o sistema ambiental a partir de 12 instrumentos de controle mas nossa preguiça nos faz usar apenas o licenciamento e a fiscalização de maneira abusiva e imprópria.
O licenciamento é lento porque os instrumentos de informação e planejamento que o viabilizam são pobres. Não devemos licenciar uma hidrelétrica e sim uma rede de fontes energéticas para servir a vocações bem definidas. Definir vocações depende de um instrumento fundamental: o zoneamento econômico-ecológico, que os políticos desprezam mas que classifica e hierarquiza áreas e tipos de produção, além de zonas de uso limitado ou proibido, para uso econômico, conservação ou proteção ambiental A missão, lenta e cara para os apressados que trabalham no varejo, é indispensável e barata para solucionar os problemas da Amazônia por atacado, promovendo o desenvolvimento durável.
A Amazônia não é intocável mas precisa de um modelo de desenvolvimento e de empresários que conservem seu patrimônio natural. Por que não instalar um grande pólo de biotecnologia, produzindo medicamentos e cosméticos de altíssimo valor agregado? E também o ecoturismo, a indústria de sucos naturais e a moveleira, como a sueca, com recursos renováveis?
Os políticos do passado preferem a indústria itinerante da destruição para vender madeira para a Europa e produzir depois gado e soja, matando sem remorsos a galinha de ovos de ouro da biodiversidade planetária. Este tem sido nosso destino desde a colônia. Sem alternativas, Estados e municípios não temem a desertificação nem alimentar uma briga internacional que pode comprometer nossa soberania. Enquanto isto, contrabandistas da biodiversidade ocupam os territórios que abandonamos à própria sorte.
Para acabar com este desatino, só o presidente, o zoneamento e a transversalidade do desenvolvimento sustentável. Lula precisa reciclar-se. Carlos Minc, chegou a sua hora. Seja duro na aplicação imediata de todos os instrumentos, mas exija investimentos, compatibilize e negocie prazos e metas. Conquiste Mangabeira Unger, como conquistou Lula. Apenas o comando e controle – licenciamento e fiscalização – não bastam para salvar a Amazônia e nossas florestas.
Fonte: JB Online