Jorge Velloso
A sala 214 do Tribunal de Justiça da Bahia foi palco de uma cena no mínimo incomum durante a tarde de ontem. Dentro dela, uma juíza – Olga Regina Santiago, da 2ª Vara de Acidentes de Veículos de Salvador – foi ouvida como suspeita de envolvimento com o narcotraficante colombiano Gustavo Durán Bautista. Santiago foi denunciada pela 1ª Vara Federal da Justiça de São Paulo e está sendo investigada pelo TJ baiano. Caso seja confirmada a associação com o tráfico, a magistrada será afastada do cargo e responderá criminalmente no Ministério Público. Enquanto isso, até o relator do caso – o desembargador Antônio Roberto Gonçalves – chegar a uma conclusão, Santiago exerce suas, funções livremente.
A portas fechadas, o interrogatório começou pontualmente às 15h. Nem o relator ou qualquer outra pessoa no TJ falou sobre o caso, alegando segredo de Justiça. Apenas o assessor de imprensa, Carlos Navarro, bastante cauteloso com as palavras, informou que a juíza não está respondendo a um processo. “Houve uma queixa crime que está sendo apurada e se comprovada, Santiago responderá administrativamente. Só depois disso, o MP decidirá se a juíza será processada por algum crime. Ninguém poderá comentar o assunto, pois qualquer coisa que vaze poderá resultar na anulação das investigações”, disse o assessor.
Tratamento - Por ser uma magistrada, a suspeita teve tratamento especial no TJ. Vestindo blazer e calça cinzas ela chegou antes das 14h, acompanhada por seu advogado Maurício Vasconcelos. Santiago entrou por uma área restrita. Durante todo o depoimento, dois seguranças e um policial militar não saíram da porta da sala. Pouco antes das 18h, a juíza deixou a sala do depoimento aparentemente calma e, sem falar com ninguém, foi diretamente para seu carro de luxo preto.
“Foi tudo muito tranqüilo. Ela só compareceu ao TJ para falar o que sabe e colaborar com tudo o que pode”, garantiu o advogado. Segundo Vasconcelos, a juíza nunca negou que teve contato com o narcotraficante. “O marido dela apenas fez uma transação de um imóvel com Batista. Para Santiago, o depoimento foi um alívio, pois pela primeira vez, ela pôde dar sua versão à polícia”, concluiu.
O caso - Durante a Operação São Francisco em setembro do ano passado, a PF gravou ligações telefônicas entre Santiago, seu marido, Baldoíno Santana e Bautista – ex-contador de um dos homens mais caçados no planeta, o colombiano Juan Carlos Abadía, preso em agosto do ano passado. A transcrição de uma das conversas revelou Bautista pedindo ajuda para reaver R$10 milhões apreendidos na Europa. Na ligação, o colombiano avisou que colocaria “aquele negócio que o senhor Baldoíno me falou”.
Em outra gravação, Bautista informa a Baldoíno ter feito o depósito de apenas R$14,8 mil, pois estaria com dificuldades financeiras. “Estive lá na Polícia Federal e está tudo ok com as fichas de antecedentes”, dizia a juíza em outro trecho da conversa.
Mesmo sob investigação, Santiago assumiu a 2ª Vara de Acidentes de Veículos de Salvador, tirou férias, licença e voltou ao trabalho após o Carnaval. Não se sabe ao certo quanto tempo durará toda a investigação, mas o marido da juíza também será ouvido e, segundo o TJ, poderá responder criminalmente.
Fonte: Correio da Bahia