quinta-feira, abril 10, 2008

PT entrega cargos e finda trato com PMDB

A decisão do PT de deixar a base da administração do prefeito João Henrique Carneiro foi recebida pela direção do PMDB com surpresa. A afirmação foi do presidente estadual da legenda, Lúcio Vieira Lima, que disse que desde ontem o PT não faz mais parte da gestão peemedebista. Lima acrescentou que na noite de segunda-feira o presidente estadual do PT, Jonas Paulo, esteve em sua residência para comunicar oficialmente a entrega dos cargos ocupados pelos petistas, entre eles quatro secretarias (Saúde, Governo, Ação e Reparação), e mais dezenas de cargos de segundo e terceiro escalões. As exonerações começam a ser publicadas no Diário Oficial do Município de hoje. O prefeito já anunciou que vai aproveitar a saída do PT para enxugar a máquina. Por isso, a maior parte dos cargos entregues será extinta, só permanecendo os indispensáveis ao serviço público. A pasta da Saúde já tem novo titular. O atual presidente da Associação Baiana de Medicina, José Carlos Brito substituirá Carlos Trindade, que era indicação petista e assumiu há cerca de sete meses durante a repactuação do PT com o PMDB. Lúcio Vieira Lima disse que a escolha de José Carlos Brito tem fundamento técnico e não político, já “que o prefeito precisa de um secretário que em pouco tempo consiga reverter ou amenizar a deficiência que a gestão tem na área de saúde”. Sobre a decisão do PT, Lima disse que o partido foi pego de surpresa. “A questão é que o PT participou ativamente do governo durante quase três anos e meio. É inacreditável que após esse tempo na gestão os petistas tivessem motivo para criticar, já que há pouco mais de sete meses houve repactuação”, disse. “Nós respeitamos a decisão do partido de ter candidatura própria, mas também temos o direito de achar que essa não foi a melhor decisão. Com certeza o PMDB não faria desse jeito. Achamos que a maneira mais coerente seria a continuidade do apoio, até porque a saída do PT da gestão municipal muda algumas coisas na aliança estadual. O PMDB já havia anunciado que marcharia com Wagner em 2010, mas agora vamos avaliar o que é melhor para nós”, esclareceu. Lima disse ainda que há possibilidade de aliança do PMDB com o PSDB para sucessão governamental em 2010. “O PSDB deve lançar Serra como presidente em 2010, podemos pensar em aliança”, ressaltou, acrescentando que, diferente do que vem sendo publicado, não houve conversa da direção do PT com o PMDB antes da decisão. Apesar da declaração, Lima disse que não encara a decisão do PT como traição e que o PMDB não fará oposição ao governo de Jaques Wagner. Já o presidente estadual do PT, Jonas Paulo, voltou a confirmar que conversou com os dirigentes de todos os partidos sobre o desejo de uma candidatura alternativa, cujo objetivo maior é reaglutinar os partidos de esquerda que fazem parte da base do presidente Lula e estão dispersos no âmbito municipal. “Fizemos consultas a todos os partidos, mas a decisão na sua íntegra era única e exclusivamente nossa. O PT não precisava pedir autorização a ninguém”, afirmou. Jonas Paulo disse que o partido não decidiu ainda quem será o candidato, mas ressaltou que dos três pré-candidatos (os deputados federais Nelson Pelegrino e Walter Pinheiro, e o secretário Luis Alberto) será escolhido o que tem maior capacidade de aglutinar forças. “Salvador faz parte da nossa estratégia nacional e o nosso objetivo é vencer a candidatura. Temos certeza de que estaremos no segundo turno e a mesma certeza de que o PMDB estará conosco”, disse otimista. Sobre a entrega dos cargos ele disse que a atitude foi apenas “uma conseqüência ética causada pela decisão de uma candidatura alternativa”. (Por Carolina Parada)
Maia: Decisão será julgada pelo povo
O discurso do deputado Arthur Maia, proferido durante o horário do PMDB no grande expediente da Assembléia Legislativa ontem, não foi bombástico, mas deixou alguns recados que só o tempo vai decifrar todas as suas linhas. Depois de fazer uma rápida reflexão sobre o que representou a vitória do governador Jaques Wagner nas eleições de 2006, numa coligação de partidos em que ele afirma que a contribuição do PMDB foi fundamental, Maia mostrou-se indignado com a decisão do PT em abandonar a administração do prefeito João Henrique “a pouco mais de cinco meses das eleições”. Recapitulando também sobre a eleição do prefeito João Henri-que, em 2004, o peemedebista invocou à força da unidade dos partidos aliados para derrotar o carlismo nas duas eleições. E prosseguiu, reproduzindo os frutos desta aliança, demarcando o valor do PMDB: “Uma administração reflete muito mais pelo conjunto das forças dos que o apóiam do que pela própria ação do prefeito, do governador ou do presidente”. Neste particular, o deputado disse que “o PMDB sempre desempenhou o seu papel com absoluta lealdade ao governo, assumindo, inclusive, propostas que não eram suas”. Entre as pontuações feitas pelo deputado Arthur Maia, ele lembrou a eleição para a presidência da Assembléia Legisla-tiva, quando o seu nome foi apresentado pelo PMDB, mas foi preterido pelo o do deputado Marcelo Nilo, do PSDB. Maia lembrou também da complicada escolha do nome para ocupar a vaga de Urcisino Queiroz no Tribunal de Contas do Estado (TCE), quando o PMDB apresentou o nome do ex-deputado Leur Lomanto, mas o indicado foi Zilton Rocha, do PT. E, para completar a sua lista de situações em que o PMDB abriu mão em favor de um outro nome, ele trouxe à tona a questão atual, dizendo-se indignado com a decisão do PT em abandonar a administração do prefeito João Henrique. “Apenas depois de três anos vieram descobrir mazelas no governo João Henrique”, disse, reforçando o tom das críticas em relação à decisão petista. Bem pontuado, o deputado Arthur Maia usou todo o tempo do seu partido, e falou em nome dele, para reprovar a atitude dos petistas. “E não existe nenhum candidato que se destaque a João Henrique no campo dos partidos que apóiam o governo”, lembrou. “Portanto, não há justificativa do ponto de vista administrativo ou político”. Mesmo demonstrando tranqüilidade durante o seu discurso, Maia não deixou de dar um recado ao encerrá-lo. “Daqui pra frente o PMDB avaliará como se comportar a cada aliança. Lamentamos com indignação a posição do PT e a próxima eleição será o seu tribunal”, avaliou. Ao deixar a tribuna, ele reforçou o seu discurso: “O juiz desse processo é a opinião pública. O PT vai ter que se explicar é à opinião pública e não ao PMDB”, concluiu. (Por Evandro Matos)
Peemedebistas apóiam discurso
Em aparte, o deputado Leur Lomanto reforçou o discurso de Arthur Maia dizendo que “o PMDB vem demonstrando um espírito de grupo inquestionável”. Leur alegou ainda que o PT detinha quatro secretarias junto à administração municipal, e que o seu candidato tem índices menores que os do prefeito João Henrique. “Foi uma decisão que abre um precedente muito ruim para as discussões sobre as eleições deste ano. Por isso, queria também mostrar a minha indignação da forma como tudo aconteceu”, disse. O deputado Ferreira Ottomar concordou com as palavras dos seus colegas de partido, e aproveitou para apresentar-se como vítima desta situação ao criticar a decisão do PT no município de Camaçari em relação às eleições passadas, que certamente irão se refletir no processo deste ano. “Nós, do PMDB, precisamos tomar juízo daqui pra frente”, advertiu. Enquanto os deputados peemedebistas falavam, a bancada do PT observava calada, sem fazer qualquer comentário. Já os deputados da oposição ouviam os discursos atentamente e se deliciavam com tudo que estava acontecendo. O líder da Minoria, deputado Gildásio Penedo (DEM), pediu um aparte durante o discurso do deputado Arthur Maia e se solidarizou com o peemedebista. “Ficou claro que o julgamento da ação do PT se dará pela opinião pública. Todos os partidos que participaram da administração são co-responsáveis". (Por Evandro Matos)
Líder peemedebista na AL reage à ruptura
Em entrevista à Rádio Nova Salvador FM, o líder do PMDB na Assembléia Legislativa, Leur Lomanto Júnior reagiu ao rompimento do PT com a prefeitura de Salvador. Quando questionado sobre o assunto, o parlamentar mostrou-se surpreso e indignado, pois segundo ele, o PMDB tem sido sempre fiel ao PT, principalmente nos fatos mais importantes. O deputado lembrou de episódios, como a eleição para a presidência da Casa, quando os peemedebistas abriram mão da disputa, dando espaço à escolha dos petistas e a eleição do Tribunal de Contas do Estado, quando foi também retirada a candidatura do ex-deputado federal, Leur Lomanto.O líder do PMDB no legislativo estadual registrou que a sua posição está fundamentada também no fato de ele ser um militante do partido. “O PT foi bastante prestigiado em toda a administração de João Henrique, chegando a ocupar quatro secretarias. Nada justifica a saída do partido da prefeitura”, ressaltou.Leur Lomanto Jr., destacando que o pré-candidato petista nem consegue estar bem nas pesquisas, o que se torna ainda mais injustificável a ruptura. “O candidato natural é o prefeito João Henrique”, enfatizou. O deputado ponderou apenas, quando disse que mesmo diante desse acontecimento, a bancada peemedebista da Assembléia Legislativa continua aliada do governo Wagner.
Fonte: Tribuna da Bahia