Ex-ministro critica decisão do diretório de Salvador e provoca ira de petistas
Cíntia Kelly
O ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, botou a mão no vespeiro que se tornou a relação entre o PT e o PMDB na Bahia, por conta do rompimento dos petistas com a administração do prefeito de Salvador, o peemedebista João Henrique Carneiro. “Se consumar a decisão de lançar candidatura própria em Salvador e não apoiar a reeleição do prefeito João Henrique, do PMDB, o PT estará cometendo um erro, independentemente do resultado da disputa no primeiro turno. A imagem que passará é que o PT só faz alianças quando lhe interessa e não abre mão para aliados quando esses correm riscos e necessitam de apoio”, disse o ex-ministro.
A intervenção de Dirceu foi aproveitada pelo PMDB, que expôs a opinião daquele que já foi o homem forte do governo Lula no seu site (www.pmdbbahia.com.br), com direito a manchete. Ele afirmou que a decisão dos petistas pode levar a disputa pela prefeitura de Salvador a um cenário que não interessa ao partido, caso cheguem ao segundo turno o deputado ACM Neto (DEM) e o ex-prefeito Antonio Imbassahy (PSDB).
“O PMDB baiano foi decisivo para a vitória do governador Jaques Wagner (PT). Eleito pelo PDT, João Henrique filiou-se ao PMDB em comum acordo com o governador e com o PT. Os petistas participaram de seu governo nesses últimos dois anos. Qual é a razão para sair agora? Dirão que a eleição é em dois turnos e que o PT poderá apoiá-lo no segundo. Mas não é impossível que cheguem ao segundo os candidatos do DEM, Antonio Carlos Magalhães Neto, e o tucano Antonio Imbassay, o que evidentemente é um cenário que não interessa ao PT”.
Autoridade - O artigo de José Dirceu, que teve grande repercussão nas bastidores da política baiana, foi desdenhado por setores do PT baiano. “Ele não tem autoridade e nem tampouco influência local”, disse o secretário geral do partido em Salvador, Edísio Nunes. “Era bom Dirceu não se meter no PT da Bahia, porque na última vez que ele fez isso Nelson Pelegrino não chegou ao segundo turno (nas eleições de 2004)”, completou. Edísio referiu-se ao jantar armado por Dirceu com o senador Antonio Carlos Magalhães e o então candidato do PFL à prefeitura de Salvador, César Borges, às vésperas das eleições.
O presidente estadual do PT, Jonas Paulo, disse que não comentaria o artigo de Dirceu, a quem considera um grande amigo. No entanto, Jonas reafirmou a posição do partido em deixar a administração municipal e de não apoiar a candidatura à reeleição de João Henrique. “O que nós queremos é reaglutinar os partidos da base do presidente Lula, que está esfacelada. O prefeito, infelizmente, não conseguiu fazer isso, tanto que o PCdoB e o PSB já têm candidaturas. O PV está também com intenção de lançar. Queremos somar e não subtrair. Por isso, queremos lançar uma alternativa para que esses partidos estejam juntos ”, analisou Jonas, frisando que, para ele, não houve rompimento com o PMDB.
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Jonas não quer prévias para escolha de candidato
Apesar da definição do calendário por parte do diretório municipal e estadual, definindo que a inscrição dos pré-candidatos do partido vai de 14 a 21 deste mês, o presidente do PT na Bahia, Jonas Paulo, disse que a legenda não terá prévias para escolher o seu candidato a prefeito de Salvador. “Não faz sentido termos prévias. Os nomes postos tem objetivos comuns? Se têm, vamos analisar quem tem mais possibilidade”, disse Jonas.
Questionado se o partido vai trabalhar com pesquisa para escolher dentre os quatro nomes postos – os deputados Walter Pinheiro, Nelson Pelegrino e J. Carlos, além do secretário de Promoção da Igualdade, Luiz Alberto, Jonas disse que sim. “Mas vamos ouvir também os aliados. Volto a dizer que queremos uma candidatura dos partidos da base do presidente Lula, isso não significa que o PT terá candidatura própria. Vamos lançar uma candidatura alternativa com os partidos da base de Lula”. (CK)
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Osvaldo Lyra
O prefeito de Salvador, João Henrique Carneiro (PMDB), passou todo o dia de ontem tentando encontrar substitutos para ocupar as secretarias de Desenvolvimento Social, Reparação e Economia, Emprego e Renda, ocupadas até então pelo PT e PSB. Até mesmo a apresentação oficial que faria do coronel José Alberto Guanaes, que vai gerir a Guarda Municipal, foi suspensa. Com a última baixa que sofreu em sua gestão, com o rompimento do PT, o peemedebista se viu obrigado a buscar saídas caseiras para preencher os cargos.
A secretaria de Saúde será ocupada pelo cardiologista José Carlos Brito, que aceitou ontem o cargo e deve se encontrar hoje com o prefeito. Já a Secretaria de Governo deve ser comandada de forma definitiva pelo secretário Pedro Dantas (PMDB), que acumula a função com a de secretário de Transportes e Infra-Estrutura (Setin). Em seu lugar para a Setin, deve ser indicado um nome do próprio PMDB.
João Carlos Cavalcanti, por sua vez, deverá deixar a pasta de Desenvolvimento Social para se dedicar exclusivamente à articulação do Executivo, na Secretaria de Assuntos Institucionais. A expectativa é que a secretaria de Economia, Emprego e Renda seja ocupada por um nome do PP. Já a de Reparação, por um integrante do PDT.
Apoios - Há três anos e quatro meses João Henrique se envaidecia ao falar que reunia 15 partidos em sua base de sustentação, entre eles, PT, PSDB, PMN, PSL, PSC, PSB, PCdoB, PMDB, PV e PTB. Hoje, esse número caiu para três, restando apenas o PSC, PDT e PP. Só com o PSC o prefeito ficou reunido ontem, a portas fechadas, por mais de três horas. Os cristãos já haviam demonstrado o interesse de lançar a candidatura do presidente regional da sigla, Eliel Santana, fato que o peemedebista quer evitar a todo custo.
Até o fechamento dessa edição, a Secretaria Municipal de Comunicação (Secom) informou que o prefeito não havia definido nenhum dos nomes. É esperado que aconteça na próxima segunda-feira uma posse coletiva com todos os novos secretários. O evento deverá ser realizado no Centro Cultural da Câmara de Vereadores.
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Rompimento repercute na Câmara
Primeiro foi o deputado estadual Arthur Maia (PMDB) que criticou, anteontem, a decisão do PT de romper com o prefeito João Henrique Carneiro (PMDB), ao fazer discurso contundente na Assembléia. Ontem foi a vez partido do prefeito se manifestar na Câmara de Vereadores, através do líder do governo na Casa, vereador Sandoval Guimarães (PMDB), que chegou a chamar os ex-aliados de traidores. Segundo Sandoval, a cidade foi surpreendida com a posição dos petistas.
Para o vereador Silvoney Sales (PMDB), houve uma falta de compromisso, já que o PMDB sempre apoiou o PT. “O PMDB sempre foi muito correto com o PT. Portanto, nos causou muita suspresa, já que sempre diziam que estavam integrados à nossa adminsitração”. O vereador Alan Sanches (PMDB), por sua vez, foi mais além e disse que a estratégia poderia ser classificada como “mero oportunismo”. “Não tenho meias palavras: houve sim oportunismo por parte do PT”.
Em resposta, a presidente municipal do partido, vereadora Vânia Galvão, disse que os peemedebistas estavam sendo levianos com a enxurrada de críticas. Após o líder Sandoval acusar o PT de traidor, ela exigiu que ele retirasse o termo da ata da sessão, fato que foi negado pelo peemedebista. (OL)
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Projeto de reajuste chega ao Legislativo
Mesmo sem encerrar o processo de negociação com os servidores municipais, que ontem decretaram greve, o prefeito João Henrique Carneiro (PMDB) enviou ontem para a Câmara o projeto que concede reposição salarial de 5% para o funcionalismo (2,5% nos salários de maio e 2,5% de setembro). Apesar de tentativa do líder governista, vereador Sandoval Guimarães (PMDB), de colocar a mensagem em votação na Casa, através de um pedido de urgência, as bancadas de oposição se negaram a discuti-la.
Tanto o bloco formado pelo Democratas, PTC e PTN, como o formado pelo PSDB, PSB, PCdoB e PPS, se negaram a apreciar o texto. Antes de se retirar do plenário, a vereadora Olívia Santana (PCdoB) afirmou que só votariam o projeto na próxima semana, após o prefeito João Henrique (PMDB) receber os trabalhadores para uma negociação. (OL)
Fonte: Correio da Bahia