terça-feira, abril 08, 2008

PMDB vai a Lula e tenta impedir candidatura do PT

Geddel diz ao presidente que, sem contrapartida petista em Salvador, não há compromisso com Wagner em 2010


O PMDB ainda articula, na Bahia e em Brasília, para que o PT não tenha candidato próprio à prefeitura de Salvador. Entretanto, o partido já definiu a estratégia para reagir à decisão petista, tomada em reunião do diretório municipal no último sábado: vai, através da executiva estadual, dificultar alianças com PT no interior baiano. Além disso, os peemedebistas irão tirar do “piloto automático” o apoio à reeleição do governador Jaques Wagner (PT).
Ontem, o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), deu pessoalmente o recado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a Wagner, em Brasília. “Disse de forma clara que, se essa posição (do PT de ter candidato próprio à prefeitura de Salvador) se confirmar, o PMDB entende que está liberado para apoiar quem quiser nas eleições municipais na Bahia e em 2010. Não teremos mais alinhamento automático com o PT”, contou Geddel ao Correio da Bahia.
A conversa com Wagner aconteceu no Palácio do Planalto, após a reunião do presidente Lula com oito governadores do Nordeste e cinco ministros de Estado, entre eles Geddel. A pauta foi a ajuda do governo federal para as vítimas de enchente na região. Depois, Geddel conversou com Lula, também no Palácio do Planalto. “A conversa com o presidente Lula foi excepcional. Tenho uma boa relação com ele”, declarou o ministro baiano.
Geddel acrescentou que as divergências com o PT são restritas à Bahia. “O presidente Lula tem sido absolutamente correto e fiel com o PMDB”, salientou. O ministro disse ainda que, no que se refere ao apoio ao governo Wagner, nada muda, “a não ser que o governador queira”. “Vamos continuar apoiando o governo com vigor, lealdade, como temos feito e como sempre fiz ao longo de minha vida, com posições claras. O que vamos discutir agora é a possibilidade de apoiar na questão eleitoral. Vamos discutir o apoio ao PT caso a caso nos municípios”, frisou. “Antes, nós tínhamos um alinhamento automático com o PT”, complementou. O ministro da Integração disse ainda que não há “estresse” no PMDB por conta da decisão do PT de Salvador de ter candidato próprio ao Palácio Thomé de Souza. “Claro que esperamos contar com o apoio do PT e de outros partidos. Mas eu, pessoalmente, compreendo perfeitamente que os partidos têm autonomia para seguir os rumos que quiserem. E, nesse caso específico de Salvador, faço como a música do Chiclete com Banana, ou seja, a ‘fila andou’”.
Mas os peemedebistas ainda esperam que o PT possa abrir mão da candidatura própria ao Palácio Thomé de Souza para apoiar à reeleição do prefeito João Henrique Carneiro (PMDB), apostando principalmente que o presidente Lula e o governador Jaques Wagner possam reverter a decisão tomada no último sábado. O que é considerado muito difícil pelos petistas, já que a candidatura própria é um clamor das bases da legenda. (Da reportagem local)
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Resolução dificulta alianças eleitorais
O PMDB da Bahia decidiu, em resposta à disposição do PT de ter candidato próprio à prefeitura de Salvador, que vai reavaliar alianças eleitorais entre os dois partidos no interior. A resolução do PMDB baiano obriga os diretórios municipais a submeterem ao comando estadual da legenda todas as alianças. Na prática, o documento dificulta o apoio de peemedebistas a petistas em municípios onde o acordo eleitoral entre as duas siglas estavam perto de acontecer.
Em Irecê, por exemplo, já estava praticamente fechado o apoio do PMDB à candidatura petista do deputado estadual Zé das Virgens à prefeitura. Atualmente, o prefeito da cidade é Joaci Dourado, que é do PMDB. O mesmo pode acontecer em Lauro de Freitas e em Camaçari, municípios importantes da região metropolitana de Salvador.
“O PT abriu uma nova jurisprudência com essa decisão de Salvador, caso ela seja mesmo verdadeira, já que não fomos comunicados. Agora, nós não temos mais que automaticamente nos aliarmos aos petistas no interior”, afirmou ontem Lúcio Vieira Lima, presidente estadual do PMDB e irmão do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima. “Antes, a tendência era respeitarmos as questões municipais, pois havia um clima favorável. Clima que não existe mais por conta dessa decisão do PT de Salvador”, completou.
Tomada na madrugada de sábado, a decisão da candidatura própria foi unânime no PT municipal. Hoje, os petistas podem definir como e quando entregarão os cargos na prefeitura. Só de secretaria são quatro. Lúcio Vieira Lima ressaltou, entretanto, que nem o PMDB e nem o prefeito João Henrique Carneiro foram comunicados oficialmente da decisão, o que classificou como “deselegante”.
“O PT ficou quase o mandato todo do prefeito e com quatro secretarias, sendo duas importantes, como Saúde e Governo, tudo isso depois da repactuação, há cerca de um ano. Antes, o partido tinha duas secretarias e depois da repactuação ficou com quatro”, lembrou o presidente do PMDB baiano.
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Decisão sobre entrega de cargos deve sair hoje
Cíntia Kelly
O que parecia inevitável acabou por acontecer. Os interesses políticos do PMDB e PT entraram em rota de colisão, após a decisão dos petistas de disputarem as eleições para prefeito de Salvador. Mais cautelosos, dirigentes ligados à presidente do PT de Salvador, vereadora Vânia Galvão, disseram que a saída deveria se dar sem traumas. Para isto, hoje haverá uma reunião, às 11h, para se discutir qual a melhor forma de devolver os cargos para o prefeito João Henrique Carneiro (PMDB).
A decisão pela candidatura própria parece irreversível. Nem um apelo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá mudar a determinação das bases petistas em Salvador. “Aqui tem um interlocutor vinculado ao presidente, que é o governador Wagner. E ele foi consultado sobre a decisão do partido”, disse o presidente estadual do PT, Jonas Paulo.Ele lembrou que, durante as últimas semanas, conversou com todos os presidentes dos partidos da base do governo federal. “Todos, absolutamente, foram informados da necessidade de os partidos da base terem duas candidaturas. Foram conversas convocadas por mim”, afiança Jonas Paulo.
Ele voltou a afirmar que a intenção é de lançar uma candidatura alternativa, com partidos da esquerda, e outra mais ao centro, que seria a do prefeito João Henrique. Desta forma, num segundo turno, estaria no páreo um dos candidatos da base do presidente Lula, que poderia ser o prefeito ou de algum nome do PT.
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Situação pode ficar mais delicada na Assembléia
A decisão do PT de ter candidato próprio em Salvador pode pôr em risco a relação do PMDB com o governo Wagner na Assembléia Legislativa. Aliás, os dois partidos já se estranharam algumas vezes no Legislativo estadual, por conta de votações e de indicações, a exemplo do preenchimento da vaga para Tribunal de Contas do Estado (TCE). Neste caso, o PMDB lançou a candidatura de Leur Lomanto e o PT, a de Zilton Rocha. No embate, os petistas levaram a melhor, com a desistência de Leur Lomanto, bem como de outros nomes aliados.
Logo no início do ano passado, os dois maiores partidos da Casa brigaram por conta da presidência do Legislativo estadual. O governo apoiava a eleição do deputado tucano Marcelo Nilo, enquanto Arthur Maia, que depois se filiou ao PMDB, corria por fora. Ganhou quem foi apoiado por Wagner, ou seja, Marcelo Nilo. Mais recentemente, com a ajuda do PR/PSB, o PMDB tirou da pauta o projeto de lei do Executivo que cria a Controladoria Geral do Estado (CGE).
O líder do partido na Casa, Leur Lomanto Júnior, disse que caso seja confirmada a decisão do PT, será uma decepção para o partido, que vem apoiando o governo Wagner, inclusive “nos momentos mais difíceis”. Já o vice-lider peemedebista, Arthur Maia, disse que também aguarda a oficialização do PT para depois se pronunciar. (CK)
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Guarda municipal só em julho
No último ano de governo, o prefeito João Henrique Carneiro (PMDB) decidiu cumprir uma promessa feita na campanha de 2004: vai implantar a guarda municipal. Depois de muitas críticas, principalmente por parte do pré-candidato do Democratas ao Palácio Thomé de Souza, o deputado federal ACM Neto, o peemedebista definiu, ontem, o cronograma de operação da guarda, que só estará nas ruas em julho, ou seja, a cinco meses do final de 2008 e em plena campanha eleitoral.
Hoje, às 15h, em ato que será realizado no seu gabinete, no Palácio Thomé de Souza, o prefeito vai apresentar oficialmente o comandante da instituição, coronel José Alberto Guanaes, já nomeado. Os uniformes e a logomarca com o escudo da guarda também serão apresentados no evento. Dos dois mil guardas municipais, cerca de 25% são mulheres, que vão atuar sempre em dupla com os homens, tendo como armamento cacetetes e radioamador.
A demora na implantação da guarda municipal já foi criticada em diversas ocasiões por ACM Neto. Ele já destacou a segurança pública como uma das prioridades da sua campanha ao Palácio Thomé de Souza. “A prefeitura de Salvador precisa enfrentar com coragem, ousadia e determinação o problema do aumento da violência e da criminalidade. Para isso, precisa ter uma guarda municipal que não seja meramente encarregada de vigiar o patrimônio público, e que atue de forma coordenada e inteligente com as polícias Civil e Militar”, disse o deputado.
O tema foi, inclusive, um dos assuntos abordados com destaque pelo último programa nacional partidário do Democratas, do qual ACM Neto foi âncora. Ontem, João Henrique afirmou que a guarda vai atual em parceria com as polícias. “Temos a convicção de que esta nova instituição dará uma contribuição consistente e efetiva para a melhoria da segurança pública, uma questão que preocupa não apenas Salvador, mas todas as grandes cidades do país”.
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Tucano critica prefeito
Osvaldo Lyra
O presidente estadual do PSDB, Antonio Imbassahy, respondeu ontem às provocações feitas na última semana pelo prefeito João Henrique Carneiro (PMDB) ao comparar a administração atual com a passada. De acordo com o tucano, o prefeito “trabalha na base do improviso, sem planejamento”. Durante entrevista ao apresentador Emmerson José, no programa Fala Bahia, da rádio Bahia FM, o presidente regional do PSDB afirmou que João Henrique deveria se preocupar mais com a gestão e menos com a eleição. “Essa é uma administração que faz e desfaz, de idas e vindas. Não há um caminho claro, falta planejamento. As coisas não estão sendo bem-feitas”, disparou.
Para Imbassahy, o atual prefeito extrapola no uso dos recursos públicos, a exemplo do que acontece com a expedição de multas. “Ele sempre se apresentou como a pessoa que combateria as multas. No primeiro ano, foram 214 mil. Em 2006, foram 361 mil. Já no ano passado, foram mais de 400 mil. Com isso, são mais de um milhão de multas em apenas três anos. Não se resolve o trânsito só com multas. Isso é uma visão medíocre”, afirmou.
O tucano aproveitou ainda para ironizar algumas inaugurações anunciadas pela atual gestão, como as obras nas praças Nossa Senhora da Luz, na Pituba, e da Inglaterra, no Comércio. “Fiquei estarrecido ao ouvir o prefeito falar nessas inaugurações. Na infelicidade de não ter coisas para mostrar, ele (João Henrique) inaugura obras que a cidade fez com esforço, em parceria com os governos estadual e federal”, declarou.
O ex-prefeito disse também esperar que o peemedebista possa apresentar durante a campanha eleitoral obras realizadas em benefício da população, como a recuperação de escolas municipais, a concessão de 85 mil títulos de terra e o programa de contenção de encostas, realizado em sua gestão. “Andamos pelas ruas e vemos que há um sentimento na população de que a atual administração não correspondeu às expectativas criadas durante o processo eleitoral”
Fonte: Correio da Bahia