Alto, postura de príncipe da Roma Negra, o monsenhor Gaspar Sadoc se integrou à alta sociedade baiana desde que assumiu a Paróquia da Vitória, em Salvador. A poucos passos de sua igreja - uma das primeiras construções da capital -, fica o prédio da viúva do ex-senador Antonio Carlos Magalhães, Arlette. A relação de Sadoc com a família vem dos anos 50. Batizou e casou quase todos os membros do clã Magalhães. Gaspar é irmão de Baltazar e Belchior. Seu pai registrou os filhos com os nomes dos três reis magos. E talvez ele seja um pouco rei e mago para as senhoras do jet-set baiano. Aconselha, ilumina caminhos. Na Bahia, é mais conhecido que o próprio arcebispo. Convidado a opinar sobre a devassa judicial no apartamento da viúva de ACM, em ação de arrolamento de bens movida pela herdeira Tereza Helena, Gaspar Sadoc eleva o tom da voz e exige que a cordialidade baiana seja respeitada: - Qualquer um de nós pensa que é uma coisa desagradável, até de um certo modo inestética. Em sã consciência, ninguém vai aprovar! Um caso como aquele, para uma senhora, da maneira como foi feita, não é digno da Bahia, não! - brada Sadoc, em entrevista a Terra Magazine. Na homilia da missa de corpo presente do ex-senador ACM, em julho de 2007, ele já havia esboçado o cenário da sucessão do patriarca. Comparou-o a Alexandre, esse mesmo, o Magno. “Eu me lembro, agora, quando Alexandre, o Alexandre Magno, estava morrendo. Então lhe perguntaram a quem cabia, a quem cabia a sucessão. E Alexandre tirou o seu anel e disse: ‘Deixo para o mais digno, para o mais digno’”. Ontem (anteontem), o senador Antonio Carlos Júnior decidiu entrar com um processo contra a irmã, Tereza, por difamação. Em nota pública, o advogado André Barachisio Lisboa afirmou que Tereza notou a ausência de obras de arte no apartamento do pai e alegou ter sido afastada da partilha de bens. Atento a esse cenário, Sadoc retorna à imagem da homilia: - Estavam os generais todos: quem vai substituí-lo? Perguntaram a Alexandre Magno e ele respondeu: “Deixo meu anel para o mais digno”. É isso aí. Já aposentado, embora celebre a missa das 8h, Padre Sadoc comemora 92 anos no próximo dia 20 de março. Prefere não dar conselhos aos filhos de ACM e Arlette; recomenda apenas a voz da “consciência coletiva”. Mas tem uma opinião formada sobre o método que o velho Antonio Carlos usaria para resolver o conflito agravado pela ação de Tereza e seu marido César Matta Pires, dono da construtora OAS. - Se ele estivesse vivo, não acontecia nada disso! (risos e risos). Com a palavra, monsenhor Sadoc: “A Bahia não é isso, não. Que diabo é isso?”. (Por Claudio Leal)
Leia a entrevista
Terra Magazine - O que o senhor achou da invasão judicial na casa da viúva do ex-senador ACM, Arlette Magalhães? Gaspar Sadoc - Olha, meu filho, qualquer um de nós pensa que é uma coisa desagradável, até de um certo modo inestética. Em sã consciência, ninguém vai aprovar! Um caso como aquele, para uma senhora, da maneira como foi feita, não é digno da Bahia, não! A Bahia não é isso, não. Que diabo é isso? A Bahia é uma coisa educada, elevada. Aquilo é afronta. Não se faz aquilo. A maneira de fazer é que se é contra. Ninguém vai contra a decisão judicial. Não estou discutindo a questão judicial, é a maneira como foi feita. Pergunta - O senhor é o sacerdote de quase toda a família... Batizou, casou... Resposta - Eu conheço a família há não sei quantos anos! Desde que Antonio Carlos era deputado estadual (em 1954) eu conheço. Sou amigo da família. Nunca fui político, não quero ser político. Gostava dele. Eu era amigo dele, nunca pelo lado político. Pergunta - que recomenda aos filhos? Resposta - Eu não diria nada aos filhos, não. Olhe, isso é um caso que ninguém precisa falar. A consciência coletiva é que fala. Não precisa dizer palavras. Primeiro que eu não sou chamado pra julgar caso pessoal, nem ninguém está me perguntando. Se eles me perguntassem, eu diria: “Aí a consciência coletiva fala”. Na homilia da missa de corpo presente, o senhor comparou ACM a Alexandre Magno na escolha de seu sucessor. Como é a história? É... Alexandre Magno disse: “Deixo (o anel) para o mais digno”. Estavam os generais todos: quem vai substituí-lo? Perguntaram a Alexandre Magno e ele respondeu: “Deixo meu anel para o mais digno”. É isso aí. Você tem uma boa memória. Pergunta - Como ACM resolveria essa questão? Reposta - Se ele estivesse vivo? Pergunta - É. Resposta - Se ele estivesse vivo, não acontecia nada disso! (risos e risos) Pergunta - Já se solidarizou com Arlette Magalhães? Resposta - Já falei com ela, nesse instante. Procurei no dia mesmo, mas ela não estava, viajou. Um amigo me deu o telefone e eu falei. Mas não há palavra que possa corresponder ao sentimento. A gente sente não é por causa disso ou daquilo; independente de tudo, é uma digna dama da Bahia, três vezes primeira-dama da Bahia. Respeite-se a quem nos respeita. Ela passou anos respeitando a Bahia, a Bahia tem que respeitá-la. Ora, droga! (Por Claudio Leal)
Condoleezza Rice promete estreitar relacionamento
O segundo dia de visita da secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, foi cumprido ontem pela manhã com uma visita de duas horas à região do Centro Histórico de Salvador. Logo cedo ela esteve na igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, onde se sentou ao lado do governador Jaques Wagner (PT) e do cardeal Dom Geraldo Majela, arcebispo primaz do Brasil. Durante a apresentação do Coral da igreja, ela se emocionou e fez questão de cumprimentar os seus integrantes individualmente. O segundo compromisso da manhã foi no Centro de Eficiência Energética da Coelba, na Praça da Sé, aonde ela chegou às 8h40. A secretária norte-americana foi recebida pelo presidente do grupo Neoenergia, Marcelo Corrêa, que apresentou os projetos sociais que são desenvolvidos pela empresa em parceria com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). Rice visitou um a um os trabalhos desenvolvidos pela parceria, que também foram apresentados em vídeo. Antes de passar a palavra ao governador Jaques Wagner, Corrêa dirigiu-se a Rice, dizendo: “Gostaria de dizer o meu muito obrigado ao povo americano”. O governador Jaques Wagner também falou dos projetos desenvolvidos em parceria com o governo americano, e reafirmou que a vinda de Condoleezza Rice foi motivo de satisfação para a Bahia. Wagner destacou também as características negras do povo baiano e a relação com os americanos. Ele lembrou ainda que “os EUA são parceiros da Bahia, respondendo com 19,8% da exportação do estado” e que o governo vai ampliar estas ações. Wagner agradeceu ainda o apoio ao programa étnico-racial que os EUA vêm dando à Bahia, destacando a parceria com o USAID, que incentiva o jovem afro-descendente para o mundo do trabalho. “A nossa visita a Washington foi para atrair novos investimentos para a Bahia”, disse o governador, adiantando que já existem entendimentos para concretizar as relações de turismo de cidades americanas com Salvador. Wagner disse ainda que pediu à secretária norte-americana “para transformar o Consulado dos Estados Unidos da Bahia num Consulado do Nordeste”. Já a secretária de Estado dos EUA falou de improviso no Centro de Eficiência da Coelba, afirmando que se sentia contente com o convite recebido do governador Wagner e que torcia “para que os Estados Unidos e o Brasil desenvolvam elos mais sólidos. Vejo um pouco dos Estados Unidos quando vejo diferentes faces aqui”. Rice destacou a parceria do seu país com os projetos sociais com o grupo Neoenergia. “Me orgulho muito que os Estados Unidos sejam um parceiro da Bahia e do Brasil. O que me impressiona são os jovens, as responsabilidades pela preservação do meio ambiente, a arte, e que estão melhorando as condições de vida”, disse. Quase se despedindo, falou: “Com mais tempo voltarei aqui para provar desta beleza que a cidade tem”. (Por Evandro Matos)
Central promove protestos
Cumprindo a última etapa de sua visita a Salvador, a secretária Condoleezza Rice visitou o Museu Afro-descendente, também no Centro Histórico, onde pôde observar a exposição de Caribé e outros artistas baianos. Num momento bastante concorrido, ela desceu as escadas do museu, fez pose para os fotógrafos e cinegrafistas ao lado do governador Wagner e acenou para a imprensa com um largo sorriso. Por volta das 9h40, sob o repicar dos tambores do Olodum, Rice entrou no carro e seguiu para a Base Aérea de Salvador, de onde embarcou para Santiago, no Chile. Assim que a secretária Condo-leezza Rice deixou o Museu Afro da Bahia, a segurança relaxou. Foi o suficiente para que um grupo de 20 militantes da CUT se aproximasse, portando uma faixa e protestando contra a sua presença na Bahia.(Por Evandro Matos)
Fonte: Tribuna da Bahia