Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Celebra o governo uma espécie de conquista, até mesmo como se fosse uma benesse concedida ao distinto público a instituição de um IOF entre 2% e 3% nas aplicações de investidores estrangeiros em fundos de renda fixa e em títulos públicos brasileiros. Na verdade, o Palácio do Planalto nada mais fez do que estabelecer um mínimo de eqüidade e de justiça. Vai onerar os especuladores que, até hoje, entravam e saíam do mercado brasileiro sem pagar um centavo de imposto. Era a farra geral, devida ao governo Fernando Henrique Cardoso e apenas agora em parte corrigida pelo governo Lula.
Falta muito a fazer, na defesa do interesse nacional. Não se cogitou, por exemplo, da fixação de um tempo mínimo de permanência para o capital estrangeiro, que continua sendo o capital-motel, aquele que chega de tarde, passa a noite e vai embora de manhã, depois de haver estuprado um pouquinho mais nossa economia. Deveriam os especuladores ser obrigados a deixar seu rico dinheirinho por algum tempo, entre nós, de forma a proporcionar-nos algum lucro, mesmo limitado. No Chile, por exemplo, qualquer investimento estrangeiro não pode ficar menos de um ano no país.
Apesar de tudo, aplausos para a equipe econômica. A gente não sabe direito se foi uma exigência do presidente Lula e da ministra Dilma Rousseff ou se, exponte própria, Guido Mantega e seus rapazes é que tiveram a iniciativa. Tanto faz.
O soneto e as emendas
Ameaça o ministro da Justiça, Tarso Genro, com emendas a um soneto que, por sua abominável qualidade, deveria apenas ser mandado para o lixo. Fala-se da medida provisória que proibiu a venda de bebidas alcoólicas na beira das rodovias federais. De tão grande que foi o clamor da razão e do bom senso, a solução seria pedir desculpas e retirar o monstrengo da pauta do Congresso. Como os companheiros não dão o braço a torcer, lá vem o ministro com remendos. Ele admite levantar a proibição nos estabelecimentos situados em áreas urbanas.
Ora, vale para todo o território nacional o argumento de ser maldade ou besteira punir quem não é motorista nem está dirigindo um veículo e está proibido de tomar um chope ou uma taça de vinho num restaurante, bar, hotel ou similar, à margem das estradas. Afinal, se o objetivo é evitar acidentes causados por motoristas embriagados, o que terão alhos a ver com bugalhos, ou seja, a punição imposta genericamente a todos? E se um ônibus de turismo evita parar no tumulto urbano para os passageiros descansarem, preferindo a interrupção num local ameno e descampado, continuarão os passageiros obrigados a beber água da bica ou uma dessas abomináveis beberragens apelidadas de refrigerantes?
Mesmo assim, deve-se saudar o primeiro recuo do governo, indicativo de outros. Pelo menos, estarão garantidos os empregos de quantos trabalham em estabelecimentos nos perímetros urbanos, pois seus empregadores deixarão de ir à falência.
Jovens e mulatos
Saiu lotado e chegou no horário o vôo da TAP de Brasília direto para Lisboa. Já entrado em anos, um professor universitário que cursa doutorado na Universidade de Barcelona ficou feliz porque uma parte dos passageiros fez o mesmo trajeto que ele, embarcando para a capital da Catalunha num segundo vôo da empresa portuguesa. Foram apenas noventa minutos. Além de uns trinta brasileiros, viajavam cidadãos portugueses, espanhóis e africanos.Com a aterrissagem veio a surpresa. Ninguém pode descer.
Entraram na aeronave estacionada no pátio truculentos policiais, que começaram a pedir documentos. Deixaram desembarcar os portugueses, os espanhóis e os africanos, estes talvez pelos trajes e camisolões berrantes que usavam.
Também permitiram a saída de brasileiros de mais idade, entre eles o nosso professor. Mas foram flagrados, os gorilas, trocando instruções: "Nenhum brasileiro jovem ou mulato seria autorizado a pisar solo espanhol". E assim ficaram mais de vinte patrícios nossos, confinados na cabine de um avião e sem poder sequer argumentar serem bolsistas na Universidade de Barcelona. O piloto não teve outra alternativa senão reconduzi-los a Lisboa...
Tudo aconteceu quarta-feira passada, dia 12, e o número do vôo da TAP era 746. Isso enquanto os ministros de Relações Exteriores do Brasil e da Espanha acertavam, pelo telefone, uma trégua na tertúlia iniciada por eles. Jovens e mulatos parecem excluídos do entendimento. Imagine-se Ronaldinho Gaúcho e Robinho nesse vôo...
Pizza no forno
Decidiu a maioria governista na CPI dos Cartões Corporativos convidar ministros e ex-ministros para depor. Ficou proibida, porém, a convocação de funcionários da Presidência da República e de seguranças encarregados de zelar pelos familiares do presidente Lula. Da mesma forma, seguranças que atuaram nas mesmas funções no governo Fernando Henrique. Correção: não foram apenas os governistas da CPI que assim resolveram. Tucanos, também...
Recebi e já respondi...
Magalhães Pinto e José Maria Alkmin eram adversários ferrenhos, na política mineira. Não perdiam oportunidade de colocar pedras, um no sapato do outro. Mantinham, porém, excelente relacionamento pessoal. Certa vez, na Câmara, ainda no Rio, Magalhães conversava com um grupo de jornalistas quando viu Alckmin se aproximar. Ainda teve tempo de comentar: "Ontem foi aniversário dele e eu esqueci." Abraçaram-se, e Magalhães, convicto, falou: "Outra vez, parabéns. Recebeu meu telegrama?" Resposta: "Recebi e já respondi..."
Essa história se conta a respeito do último encontro entre os governadores José Serra e Aécio Neves.
Fonte: Tribuna da Imprensa