Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Singular, mesmo, até exótica, foi a sessão do Senado na sexta-feira passada. O senador Pedro Simon formulou uma das mais longas e contundentes críticas ao governo e ao presidente Lula, culminando por ler matéria divulgada em manchete daquele dia pela "Folha de S. Paulo", onde a secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, é apontada como coordenadora do dossiê que revelou gastos do ex-presidente Fernando Henrique e sua família com cartões corporativos.
Seguiram-se numerosas intervenções de senadores independentes, mas, vexame dos vexames, escafederam-se os representantes do PT e do governo. Nem a líder Ideli Salvatti, nem o líder Romero Jucá, nem ninguém da base oficial.
Germinava, no fim de semana, a idéia de que Erenice Guerra e sua chefe do gabinete, Maria Castrilho, seriam exonerados, como justificativa para a opinião pública. Exoneradas por quem? Pela ministra Dilma Rousseff, que o presidente Lula pretende manter blindada, a ponto de exigir da maioria governista na CPI a rejeição do convite para depor a respeito dos cartões corporativos.
Singularmente no dia da repercussão da mais recente pesquisa a respeito do governo e do presidente, com 58% dos consultados respondendo que o governo é ótimo ou bom, abre-se à caixa-preta do palácio do Planalto. A lambança dos cartões corporativos alastra-se pela Praça dos Três Poderes e a Esplanada dos Ministérios, enquanto os donos do poder dão de ombros, omitem-se, escondem-se e deixam claro não dispor de argumentos para defender seus chefes. Optam por não tomar conhecimento de denúncias e de graves acusações. Sentem-se protegidos pela popularidade do presidente Lula. O problema é que um dia a casa cai. Ou a armadura se rompe.
Chávez e Stédile, a chapa completa
Deveria o governo tomar cuidado com as andanças e as propostas do presidente Hugo Chávez, da Venezuela. Ele já montou razoável acampamento no Paraná, onde o governador Roberto Requião tornou-se o seu maior acólito. Agora, visitando o Maranhão e o Pará, Chávez fez-se acompanhar por João Pedro Stédile, líder do MST, com direito a assento na mesa diretora de diversas reuniões e nos palanques armados diante da multidão.
Vale a ressalva de que o MST constitui a única coisa nova surgida no País desde a fundação do PT. Lutar pela reforma agrária é mais do que um direito, pois um dever dos sem-terra e de quantos se preocupam com a flagrante injustiça no setor agrário. Mesmo invasões de propriedades justificam-se, quando improdutivas ou mantidas para especulação financeira.
O que não dá para aceitar são os excessos do movimento, como invasão de prédios públicos urbanos e fechamento de rodovias. Tem sido por aí, no entanto, que o MST destaca-se no noticiário. João Pedro Stédile não parecia um estranho no ninho, na companhia de Chávez.
Pelo contrário, muito à vontade, recebeu a boa notícia de que um monte de petrodólares venezuelanos foram destinados à campanha de alfabetização de adultos promovida pelo MST. Por coincidência no dia em que o Tribunal de Contas da União condenou os sem-terra a devolver mais de quatro milhões de reais recebidos do Ministério da Educação para um programa similar, que não foi cumprido. O dinheiro desapareceu nos meandros das invasões.
Hoje, no Rio
Hoje, segunda-feira, o presidente Lula retornará ao Rio de Janeiro, com toda certeza acompanhado da ministra Dilma Rousseff. Estará nos municípios de Itaboraí e Duque de Caxias, para inaugurar ou fiscalizar obras do PAC, devendo, depois, permanecer na antiga capital.
Feliz estará o governador Sérgio Cabral, pegando carona na popularidade do presidente. Afinal, caso se realize o milagre de surgir uma candidatura do PT à Presidência da República, seja Dilma, seja outro, a vaga de vice-presidente será fatalmente oferecida ao PMDB. E quem surge como candidato? O governador do Rio de Janeiro...
Números em ascensão
Relacionou o senador Geraldo Mesquita números atualizados a respeito do ministério. Hoje, já que amanhã pode ser diferente, mas hoje existem 23 ministérios e 17 secretarias chefiadas por ministros, ligadas à Presidência da República. E mais dois ministros sui-generis: um, o presidente do Banco Central; outro, o ministro do Futuro, que não dirige nem um ministério nem uma secretaria, mas um departamento criado por decreto.
No total, são 42 ministros. Se o presidente Lula recebesse um de cada vez, descontando-se sábados, domingos e feriados, passaria dois meses para olhá-los nos olhos, mas o inusitado é que alguns existem há seis meses aguardando um chamado para entrar no gabinete presidencial.
Fonte: Tribuna da Imprensa