quarta-feira, janeiro 09, 2008

Polícia recupera as duas obras furtadas do Masp

SÃO PAULO - A Polícia Civil recuperou ontem, em São Paulo, as duas telas que tinham sido roubadas no dia 20 de dezembro do ano passado do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Uma delas é do espanhol Pablo Picasso (Retrato de Suzanne Bloch) e outra, do brasileiro Cândido Portinari (O Lavrador de Café). Ambas estão avaliadas em cerca de US$ 55 milhões (R$ 99 milhões).
Dois homens estão detidos - um deles foi preso há dez dias na Zona Leste da Capital. A prisão foi feita por policiais do Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado (Deic) de São Paulo.
O delegado Mauricio Soares Guimarães, assistente da diretoria do Deic, disse que chamou alguns dos responsáveis pelo museu para avaliar na delegacia se as obras estão intactas. Um dos bandidos chegou ao Deic, na Zona Norte, às 21h de ontem sob forte escolta policial.
Na noite do roubo, os bandidos usaram um macaco hidráulico, um pé-de-cabra e uma marreta. Em seguida, os ladrões subiram dois lances de escada e usaram a marreta para quebrar o vidro que fechava o salão do acervo permanente. A ação durou 3 minutos, das 5h09 às 5h12. As imagens do circuito interno mostram que os vigias chegam ao 1º andar dois minutos depois.
O edifício do Masp pertence à Prefeitura e foi cedido em comodato por 40 anos - que vence em 11 de novembro. "A secretaria quer sentar no board de direção do Masp. Portanto, haverá necessariamente negociação. Não é muito equilibrado isso de só mandar dinheiro, emprestar o prédio e não ter participação nesse processo", disse ontem o secretário-adjunto de Cultura de São Paulo, José Roberto Sadek.
A secretaria destina anualmente cerca de R$ 1,5 milhão ao museu, por causa de uma legislação de 1967. A instituição, por sua vez, não é obrigada a apresentar plano de trabalho para utilização dos recursos, o que já levou a administração até a cogitar de não repassar a subvenção anual, revela o secretário.
Agora se estudam contrapartidas. "Funciona assim por causa de um estatuto antigo, arcaico. A lei obriga a dar verba, mas não a prestar contas. A sociedade, nesses últimos 60 anos, se modernizou, mas o museu continua entrincheirado em um estatuto obsoleto. Então, a negociação dessa nova relação passa necessariamente pela mudança na forma de administrar", disse Sadek.
A renovação ou não da concessão do prédio da Avenida Paulista para o Masp será uma decisão da Secretaria de Negócios Jurídicos hoje a cargo de Ricardo Dias Leme. A Secretaria de Cultura encabeça o processo de negociação, que começou em novembro.
Sadek crê que a direção do Masp deverá mostrar receptividade maior à proposta de abertura de gestão. "A propriedade é privada mas o patrimônio é público. É óbvio que tem de haver participação pública nessa gestão. Todo mundo quer uma solução negociada e já há uma compreensão da sociedade, como um todo, que a hora da mudança é agora."
Fonte: Tribuna da Imprensa